Institucional
Como cuidar da ansiedade na quarentena?
A ansiedade está diretamente ligada ao instinto de proteção mais básico dos animais: o instinto de sobrevivência ou de proteção da vida. Sofrer por ansiedade não é algo relacionado à fraqueza ou defeito de personalidade, tampouco ela foi gerada por algum processo da infância. As vivências – sejam da infância ou de outros momentos da vida – interferem, sim, nas manifestações, mas a ansiedade é um padrão que faz parte da programação evolutiva do ser humano. Há milhões de anos, na época das cavernas, ela foi necessária para salvar a vida dos ancestrais dos seres humanos, que poderiam, a qualquer momento, virar uma presa de outro animal, por exemplo.
A vida, naquela época, não era muito fácil, e era necessário manter a vigilância, o sistema de alerta ligado quase que a todo momento. A expectativa de vida era muito baixa e os riscos muito grandes. Isso não quer dizer que a vida urbana e civil não tenha lá seus riscos. Viver é sempre um risco, inexistem garantias absolutas. Não é possível controlar tudo que acontece à volta. Mas essa necessidade de controle total da situação é geradora de muita ansiedade.
Acontece que, de fato, no momento atual, com todo o cenário da pandemia e, ainda, o cenário político e econômico, existem alguns riscos à sobrevivência maiores do que aqueles que se estava acostumado, o que acaba por gerar níveis mais elevados de ansiedade em muitas pessoas. E como viver no meio de todas essas incertezas? Como sobrepairar esse sentimento de vulnerabilidade, conseguir levar a vida adiante e ser produtivo?
Para isso, é preciso utilizar outra habilidade humana, que é a adaptabilidade. Apesar de essa programação – que pode fazer com que as pessoas fiquem alertas o tempo todo – estar na genética do ser humano, a capacidade de adaptação ao meio foi responsável pela chegada ao atual momento.
Para conseguir fazer isso é preciso, em primeiro lugar, aceitar a mudança. É comum, diante de situações difíceis, que algumas pessoas fiquem resistentes. Isso pode ser uma tentativa de evitar a sensação de confusão e vulnerabilidade causadas pela mudança. Ao invés de tentar controlar a situação, é preciso observá-la. Ver como se pode lidar com a situação da melhor forma possível. Descobrir quais ferramentas e habilidades possui para se adaptar.
Ter paciência e viver cada momento de uma vez; seguir as orientações médicas e da equipe de saúde, sempre que precisar sair de casa para o mercado, por exemplo. Fazendo sua parte para manter-se saudável, sem desespero e sem criar pensamentos catastróficos e desastrosos das piores probabilidades possíveis antes que elas aconteçam. Seja realista, mas não pessimista.
Tudo bem se não se sentir bem de vez em quando, isso faz parte. Ninguém fica bem a todo momento. Mas é importante não deixar as emoções te paralisarem diante das situações da vida. Tenha para si algumas estratégias de regulação emocional. Faça pausas, faça algo prazeroso e que ajude a trazer bem-estar, como exercícios físicos, exercícios de relaxamento através da respiração, cuidar das plantas, brincar com os pets ou as crianças, fazer algum artesanato ou atividades manuais, tocar algum instrumento etc. Descubra o que te faz bem, o que te traz bem-estar e ajuda a equilibrar suas emoções quando elas ficam mais instáveis. Porém, faça isso de maneira saudável; evite excesso de bebidas alcoólicas, por exemplo. Algumas pessoas utilizam bebidas alcoólicas para sentirem bem-estar, mas abusam dessa substância, o que se torna uma ação mais autodestrutiva do que promotora de saúde mental.
Uma coisa que se pode refletir é: como está o meu nível de conexão e afetividade com as outras pessoas?
A correria de um lugar para o outro - comum ao estilo de vida contemporâneo – e o aumento do tempo que se passa dedicado ao trabalho e longe da família e comunidade tornaram os laços com as outras pessoas menos estáveis e previsíveis nos últimos séculos. As pessoas estão, cada vez mais, vivendo sozinhas e com menos conexão com os outros a sua volta. Até certo ponto a quarentena fez com que as famílias tenham maior nível de convivência. Seria importante aproveitar esse momento para aprofundar os laços. Mesmo com aqueles que estão distantes. Mesmo para quem está sozinho em casa. Existem, hoje, muitos meios para se fazer presente entre aqueles que são importantes, apesar da distância física.
Uma das habilidades que ajudou evolutivamente no processo de adaptação foi aquela capaz de fazer o ser humano viver em sociedade, protegendo e cuidando uns dos outros. Buscar essa conexão com amigos e familiares e, inclusive, com a sociedade de maneira geral (ajudando, de alguma forma, a minimizar o sofrimento de outras pessoas, neste momento de pandemia, com ações de gentileza) é um fator de proteção contra a ansiedade.
Porém, se nenhuma das estratégias estiver ajudando a minimizar a ansiedade, considere procurar ajuda profissional, de um médico e/ou psicólogo. Você pode se beneficiar disso.
Texto escrito pela psicóloga do DPVS, Juliana Medeiros