Institucional
Imperialismo estadunidense e a defesa das soberanias latino-americanas
A vocação intervencionista da política externa dos EUA não é novidade — é, na verdade, um elemento estrutural das relações internacionais latino-americanas e caribenhas desde o século XIX. Mas, no segundo mandato de Donald Trump, o discurso de governança que os EUA sustentaram por décadas abandona qualquer verniz e adota abertamente a chantagem, por meio da imposição de tarifas comerciais como principal ferramenta geopolítica.
Essa guinada desnuda os interesses dos Estados Unidos na arena internacional e expõe o comércio como instrumento de dominação unilateral, abalando os fundamentos da ordem comercial global construída pelo país no pós-Segunda Guerra Mundial. A política tarifária promovida atualmente por Trump rompe com a governança hegemônica estadunidense no sistema amplo e banalmente conhecido como globalização, e escancara sem pudor a faceta imperialista do país.
O tarifaço anunciado contra diversos países, em especial os latino-americanos, deve ser interpretado como forma explícita de tentativa de imposição de poder econômico e intervenção política. No caso brasileiro, ao atrelar a imposição de tarifas a decisões do governo e do judiciário, Trump escancara um ataque direto à soberania nacional e revive práticas neocoloniais sob a forma de sanções econômicas. Além disso, esse movimento revela a descarada tentativa de intervir na política brasileira e nas iniciativas de regulação das empresas de tecnologia no país, as Big Techs. No âmbito doméstico, o tarifaço expõe a crônica subserviência de grupos políticos brasileiros que não hesitam em sacrificar a soberania e os interesses nacionais em benefício próprio.
Essa postura tende a intensificar o desgaste da posição estadunidense no cenário internacional, legitimando e fortalecendo propostas alternativas de governança. A conjuntura exige a defesa da soberania dos países latino-americanos e abre uma complexa e promissora janela de oportunidades em diversas áreas para o Sul Global e suas instituições de cooperação estabelecerem canais multilaterais e independentes.
*Este texto contou com a colaboração de Karen Honório, Professora do Curso de RII, PPGRI (UNILA) e Coordenadora da CSVM-UNILA
**Imagem: Torres García. La América invertida, de 1943 — Foto: Reprodução