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Apresentação

publicado 20/02/2019 17h24, última modificação 06/10/2023 15h32
O Programa de Pós-graduação em História tem por objetivo formar docentes e pesquisadores em História com ênfase em perspectivas transnacionais e globais, realizando pesquisas em história de América Latina, Caribe, África e Ásia. O Programa capacita os egressos à pesquisa e atuação em áreas diversas, inclusive de interesse regional, como o turismo e o patrimônio.

O Mestrado em História da UNILA aproveitará a curta, porém valiosa, experiência da universidade em seus primeiros anos em relação ao acolhimento de professores e alunos estrangeiros, trazendo novas e variadas perspectivas. Situada na Tríplice Fronteira, a UNILA pode oferecer uma pós-graduação em História sob uma chave que vá além do tema da fronteira, cujo critério de demarcação ligado aos Estados nacionais eclipsa outras conexões culturais, políticas e simbólicas ricas na região. Uma perspectiva mais abrangente preparará os egressos do Programa para uma variedade de desafios condizente com a realidade global atual, já entendida por alguns autores como “pós-nacional”. A origem dessa perspectiva situa-se precisamente em tentativas de superar a lógica dos Estados nacionais, tão marcante na historiografia e na política desde o século XIX. Historiadores de diferentes áreas e temáticas, a partir dos anos 1990, passaram a pensar seus trabalhos sob uma ótica transnacional ou global, focada especialmente no fluxo, movimento ou alcance de pessoas, ideias, bens, instituições e linguagens além de fronteiras nacionais (ou de outras fronteiras politicamente definidas, como as de blocos – como o Mercosul ou a União Europeia).


A abordagem transnacional visa não apenas à crítica dos paradigmas historiográficos nacionalistas, mas também de uma perspectiva de globalização equivalente a uma “ocidentalização” do mundo, fundada em versões de teorias da modernização. Busca, dessa forma, pensar a interação histórica entre diferentes culturas e seu impacto na formação dos variados objetos estudados pelos historiadores. Partindo de uma reflexão fundada na experiência de nossa atual realidade global, os estudos transnacionais têm feito os historiadores repensarem e reconfigurarem unidades históricas do passado. Em decorrência disso, novas configurações histórico-espaciais têm surgido, como o Mundo Atlântico, por exemplo, para pensar as relações entre América, África e Europa desde o período das Grandes Navegações. De acordo com essa abordagem, propomos pensar a história de América Latina, Caribe, África e Ásia dentro de uma perspectiva teórico-metodológica voltada para a história do Sul Global.


Nesse sentido, tal perspectiva adequa-se, e mesmo pode ser plenamente desenvolvida, a partir da experiência do curso de graduação em História – América Latina da UNILA, cujo currículo foi pensado sob a chave de uma revisão e crítica da narrativa historiográfica eurocêntrica que orientou o desenvolvimento da disciplina da História no Brasil. Fundamentalmente, essa abordagem permite enriquecer o estudo do contexto regional em que se insere a UNILA, pois a riqueza e diversidade cultural da região do Oeste do Paraná, e em particular da Tríplice Fronteira, superam as trocas e intercâmbios transfronteiriços. Envolvem contribuições de populações migrantes oriundas do Leste da Ásia, do Oriente Médio, do Caribe, de outros países da América Latina não situados na Tríplice Fronteira e, mais recentemente, da América Central. Mais ainda, seria uma perspectiva capaz de produzir estudos de pós-graduação que abrangessem as populações indígenas da região, como os Guarani, que historicamente possuem uma visão e uma vivência do território distintas dos limites definidos posteriormente pelos Estados nacionais do Brasil, Argentina e Paraguai.


Por ser uma nova perspectiva, e não um novo objeto proposto à história (PORTES, 2004, p. 175), os estudos transnacionais têm sido utilizados com resultados relevantes em pesquisas sobre migrações e diásporas, história do trabalho, biografias, instituições (em especial os Estados nacionais), historiografia, história da arte, história dos conceitos (e/ou das ideias), fenômenos como imperialismo e colonialismo, construção de identidades (como gênero, raça, classe) e trocas simbólicas. Como problemática, estimula o uso de um conjunto variado de fontes, desde historiografia até escrituras, imagens, fontes orais, documentos oficiais ou literatura.

Tal abordagem permite uma reflexão crítica sobre as narrativas históricas nacionais (e/ou nacionalistas) e regionais, convergindo com perspectivas como a história social e as teorias pós-coloniais e decoloniais, sobretudo a partir do aporte do pós-estruturalismo, bem como com os Estudos Subalternos. Propõe uma revisão apoiada na noção de agência, ou protagonismo, pois deixa de ver a América Latina, Caribe, África e Ásia como simples espaços de reação a imposições culturais externas (europeias ou norte-americanas), ou como espaços de modernidades “particulares”, confrontadas com uma modernidade “universal” que lhes é externa. A perspectiva transnacional rejeita, pois, modelos de difusão, preferindo ideias como “circulação cultural”. Desse modo, permite uma revisão da maneira de pensar e estudar a história da(s) modernidade(s) no Sul Global, em sua longa duração, desde os primeiros contatos dos europeus com as populações locais. Por isso também a necessidade de implantação dessa proposta em um Mestrado concentrado na área de História, como destacaremos abaixo.


A perspectiva transnacional pode ser trabalhada por meio de estudos comparativos, mas não se resume exclusivamente à história comparada, pois enfatiza a integração e o intercâmbio na constituição dos fenômenos históricos estudados. Questiona o modelo comparativo específico que pressupõe as unidades nacionais isoladas, e que visa à afirmação da excepcionalidade nacional via comparação com outras nações (também consideradas em suas unicidades). É aberta ao diálogo com tendências recentes muito ricas, como a história cruzada, as histórias conectadas, a história global e a história mundial.


Desse modo, o Programa de Mestrado em História da UNILA permitirá a produção de um conjunto de dissertações e artigos destinados a reavaliar criticamente as narrativas historiográficas sobre a América Latina, Caribe, África e Ásia. No que se refere especificamente à história da região da Tríplice Fronteira, o Programa propõe pesquisas que incluam uma miríade de novos agentes e objetos do processo histórico de formação cultural da região. Este aparato conceitual, aliado à experiência dos professores do Programa e à prática de pesquisa ali desenvolvida, tornará os egressos do Programa de Mestrado em História da UNILA pesquisadores e professores de Magistério Superior aptos a pensarem a História diante dos problemas de seu tempo e dos novos desafios colocados à disciplina nas últimas décadas. Esses desafios incluem a revisão dos paradigmas nacionalistas, eurocêntricos e modernizadores, e a problematização de uma série de questões entendidas como transnacionais, como os direitos humanos e as questões identitárias. Nesse sentido, é a partir do estudo aprofundado e sistemático da História de um ponto de vista transnacional que o Programa de Mestrado proposto pode contribuir para o diálogo interdisciplinar realizado pela universidade, bem como configurar-se como uma contribuição original à Pós-Graduação em História no país. Além disso, o Programa capacitará os egressos à pesquisa e atuação em áreas diversas, inclusive de interesse regional, como o turismo e o patrimônio.


A abordagem transnacional nasceu de preocupações oriundas da historiografia sobre a América Latina (como mostra WEINSTEIN, 2013, e discute PRADO, 2011-2012), configurando-se numa perspectiva que muito tem influenciado os estudos históricos globalmente nos últimos anos, estimulando revisões de currículos e abordagens em vários centros de pesquisa historiográfica. Um Mestrado em História construído a partir dessa perspectiva, tornar-se-á um espaço original de relevantes contribuições à pesquisa histórica no Brasil, adequado à natureza dos princípios da instituição que o abriga e da região onde estará localizado.