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Saúde Planetária

publicado 24/11/2022 11h32, última modificação 24/11/2022 11h32
Podcast "Saúde em dia" - Episódio 4

Podcast "Saúde em dia"
Transcrição do episódio 4: Saúde Planetária

Orador 1: Luís Fernando Zarpelon (médico perito e professor da UNILA)
Orador 2: Roberto Almeida (médico intensivista e professor da UNILA)
Orador 3: Ricardo Bonometo (engenheiro de segurança do DPVS)

Orador 1:
Olá! Estamos iniciando o terceiro episódio do podcast “Saúde em dia”. Esta é uma atividade promovida pelo Departamento de Promoção e Vigilância em Saúde da UNILA, para falar sobre saúde. Eu sou Luís Fernando Zarpelon, sou médico do DPVS, e junto comigo está o engenheiro de segurança Ricardo, também do DPVS, e o Luiz, do Audiovisual da SECOM. Estamos hoje recebendo o professor Roberto Almeida. O professor Roberto é médico intensivista, pós-graduado em Gestão de Hospitais e Educação Médica, professor da área de Urgência e Emergência do curso de Medicina da UNILA. Ele também é membro fundador do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida e membro fundador do Grupo de Estudos em Saúde Planetária do Instituto de Estudos Avançados da USP, que é membro da Aliança para a Saúde Planetária, coordenada atualmente pela Universidade de Harvard. Olá, professor Roberto, obrigado por estar mais uma vez conosco.

Orador 2:
Olá, Luiz!

Orador 1:
Hoje nós vamos falar sobre a saúde planetária, vamos falar um pouco sobre a dimensão ecoplanetária de sustentabilidade da vida, sobre o nosso ambiente natural e sobre como isso é importante nas questões que estão relacionadas às nossas questões de saúde. Eu gostaria, professor Roberto, que você falasse um pouquinho, introduzisse um pouquinho para as pessoas que estão nos ouvindo, o conceito da saúde planetária.

Orador 2:
Olha, esse estudo é uma coisa mais recente do ponto de vista dessa conexão da saúde com as questões planetárias. Mas, do ponto de vista dos ambientalistas, desde que começaram as viagens para a Lua, as missões da Apolo, em um determinado momento, os astronautas tiraram uma foto do planeta numa perspectiva fora da nossa atmosfera. E viu-se o planeta como um planeta no espaço. E essa visão do planeta da perspectiva da Lua trouxe para muitos astronautas e para muitos ambientalistas uma visão de fragilidade do planeta. Ou seja, tudo o que a gente acha que é muito grande aqui, no fundo é uma situação muito peculiar, única, nesse universo físico conhecido, que tem as condições de ter a vida como aqui. Nós estamos a uma distância do sol, que permite que a gente não fique em um planeta nem muito frio nem muito quente. A gente está com características de atmosfera que permitiram o surgimento do que a gente chama de vida no planeta. Então, essa percepção criou uma necessidade de os ambientalistas, percebendo a atitude do ser humano desde a Revolução Industrial, as atividades extrativistas do ser humano sobre o planeta estão, nesses últimos 200 anos, colocando em risco o equilíbrio do planeta. Então, os ambientalistas, na década de 70, começaram a falar sobre a importância do limite do crescimento, dessa noção de crescimento infinito, dentro de um planeta que é finito. Então, toda essa conscientização ambiental gerou muitos movimentos, a questão da sustentabilidade. Mas, recentemente, os profissionais da área de saúde criaram a Revista Lancet, junto com um grupo, e começaram a fazer a pesquisa sobre saúde planetária, percebendo então a relação da saúde humana com o ambiente, os ecossistemas do ambiente. Então, os sistemas ambientais, de temperatura, da questão do clima, a questão da biodiversidade, de outros seres vivos, de alguma forma estão relacionados com a nossa saúde, com os nossos sistemas internos. Então, até pouco tempo a gente pensava que saúde é só algo que está acontecendo dentro do corpo da gente, nos nossos sistemas. E cada vez mais a gente vai começar a perceber a influência dos ecossistemas sobre a saúde das pessoas. Então, a saúde humana e a saúde do planeta estão intimamente relacionados. Então, esta é uma definição: saúde planetária é a percepção de que as atividades humanas interferem no planeta; e o planeta, alterado por essas interferências humanas… Então, o estilo de vida no sentido de consumo e de produção de lixo impacta o planeta, e o planeta alterado com essas mudanças vai impactar os seres humanos. Então, essas mudanças do clima, os eventos catastróficos, que sempre existiram mas que estão ficando cada vez mais frequentes, esse fenômeno é o que está se estudando hoje na saúde planetária.

Orador 1:
E você acha que o nosso sistema político, econômico, esses debates que a gente tem visto constantemente, por exemplo, o agronegócio, a necessidade de industrialização, a produção de energia com base no petróleo, esses elementos, de alguma forma, para produzir na quantidade que se deseja, eles têm interferido em diferentes áreas do sistema, do nosso planeta, o que tem trazido essa discussão da questão ambiental. Como você acha que é possível buscar esse equilíbrio? Até antes de a gente falar um pouquinho de como a saúde do planeta comprometida interfere na saúde do indivíduo, como que a nossa forma de organização sociopolítica e econômica poderia ser revista nessa perspectiva de permitir que o planeta suporte a presença do ser humano nele?

Orador 2:
Esse é um ponto crítico, porque se a gente pegar a história do planeta até 1800, nós éramos 1 bilhão de seres humanos vivendo neste planeta. Então, todo o avanço científico e tecnológico que a gente conseguiu foi um avanço de que, em apenas praticamente 200 anos, a gente chegou hoje a 7,8 bilhões de pessoas, em praticamente 200 anos, de 1800 para agora. Até 2054, acho que a gente atinge 8 bilhões de seres humanos. E aí é um grande sucesso da espécie humana, porque além de aumentar a quantidade de seres humanos, a gente aumentou a longevidade, a gente diminuiu a mortalidade infantil, então existe aí o que é chamado de paradoxo ambiental. Havia nos ambientalistas, na década de 70, eles diziam que se a gente continuar com o comportamento destrutivo do ambiente, a gente vai começar a adoecer e ficar mal. Então, a gente está hoje vivendo um paradoxo, porque a gente está vivendo mais e há mais quantidade de seres humanos, mas o planeta está cada vez pior. Então, essa situação precisa ser entendida da seguinte maneira: o que nós estamos fazendo? Nós estamos com uma população maior, então existe uma discussão de tamanho, de qual é a capacidade de suporte da Terra. Então é como se fosse assim… quando você coloca, numa placa, bactérias para crescer uma cultura, a população cresce de uma forma logarítmica, ela cresce até o limite que começa acabar os recursos e aí começa a morrer aquela população de bactérias. A mesma coisa está prevista para os seres humanos neste planeta, então a gente está crescendo numa determinada velocidade, e aí o que está acontecendo? Essas opções humanas de desenvolvimento social, econômico, de tecnologias, combustíveis que a gente está usando, elas estão gerando uma aceleração do consumo dos recursos planeta, a destruição de florestas, o tipo de alimentação que a gente está escolhendo. Então isso está gerando impacto em todos os ecossistemas, por exemplo, o uso de fertilizantes está acabando com as abelhas, que são polinizadoras, e essas abelhas fazem a polinização de várias outras plantas. Então existe perda da biodiversidade, existem vários fatores que estão ameaçando a vida no planeta como um tudo. Se a gente faz uma analogia com a área da Medicina, quando a gente tem um organismo em que algumas células começam a crescer descontroladamente, consumindo os recursos desse organismo, como é que a gente dá o nome desse fenômeno? Quando uma célula se transforma e começa a crescer desordenadamente.

Orador 1:
Câncer!

Orador 2:
É o câncer. Então, infelizmente, a gente precisa de muita compaixão agora com a gente mesmo, seres humanos, porque a gente precisa olhar o comportamento da humanidade como um todo dentro desse planeta, de certa forma, como um comportamento cancerígeno. Porque a gente está crescendo, se multiplicando, destruindo e corre o risco, como ocorre em um paciente com câncer, de que, daqui a pouco, o paciente morre e as células de câncer que estão ali vão morrer junto. Ter compaixão para olhar essa condição é o que a saúde planetária tenta mostrar, porque a gente vai ter que transformar as políticas e os sistemas de saúde, econômico, educativo, que ajudaram a nos proteger e a crescermos dentro desse planeta, mas agora a gente tem que ver que tem que cuidar do planeta como um todo, não só dos seres humanos. Os outros seres vivos estão entrando em extinção. A gente está falando hoje que existe a sexta extinção em massa, que é causada pelo ser humano. As outras extinções que aconteceram no planeta foram porque caiu meteoro, porque teve outros fenômenos geológicos que as causaram. Então a gente está hoje numa era chamada Antropoceno, que é a era em que o ser humano impacta na vida no planeta. Então, o que a gente precisa fazer é entender essa parte, o que nós estamos fazendo como humanidade e como a gente pode reverter o curso... E existe uma janela de tempo. É importante saber que a gente tem até 2030, 2050, para começar a fazer mudanças sistêmicas no planeta.

Orador 1:
Professor Roberto, esse processo não é linear. Há lugares em que esses fenômenos são mais intensos, há lugares em que esses fenômenos são melhor tolerados. A gente percebe, por exemplo, que nos países subdesenvolvidos, nos países pobres, esses impactos tendem a ser mais agressivos e tendem a trazer mais comprometimento para essas populações. Então, a expectativa é que a elevação da temperatura, por exemplo, no planeta, possa trazer, no desequilíbrio dos cursos de água, da oferta de alimentos, da oferta e acesso, por exemplo, das populações da região do Equador, transtornos gravíssimos. Como que esses fenômenos que se distribuem de uma forma, de um modo não uniforme, vão impactar? Que exemplos poderiam ter de impactos disso diretamente nas condições de saúde das pessoas?

Orador 2:
A gente fala que essa questão da saúde planetária tem uma questão geopolítica. Então existe o Norte global e o Sul global. O Norte global nesse planeta está, vamos dizer assim, considerando as indústrias, os países mais ricos, mais industrializados, que têm maior poluição, que têm menores reservas naturais de florestas e natureza, são os mais poluidores, são os mais ricos e são os que vão sofrer menos com as mudanças globais… Essas mudanças que a gente está falando da saúde planetária, seja da biodiversidade, seja do clima. E o Sul global, que são os países mais populosos, mais pobres, que têm menos poluição e que têm maiores reservas naturais, são os que mais vão sofrer os impactos, porque eles têm menos infraestrutura para lidar com essas mudanças globais. Então existe um problema geopolítico muito importante. Por exemplo, quando se fala de Acordo de Paris, mudança do clima, existe uma proposta de que, em vez de destruir as florestas aqui, porque os países do Sul estão destruindo as florestas para sobrevivência, para desenvolvimento econômico, houvesse o chamado crédito de carbono, ou seja, você ganhar dinheiro com a propriedade, com a terra, com as árvores em pé. Hoje, uma árvore em pé nesses países do Sul global não rende tanto quanto se transformar em áreas produtivas. Então existe aí uma tentativa de fazer um financiamento, para esses países que estão nesse Norte global comprarem créditos de carbono, para que paguem essas florestas e paguem o desenvolvimento econômico, que é digno para todo mundo, considerando que a gente tem um grande gap de desigualdade social no planeta, ajudar o desenvolvimento desses países do Sul global com esses financiamentos para preservar a natureza. Esse é um exemplo. Mas o que acontece? Os acordos, as negociações não chegam a um acordo para sair do papel, ficam na teoria. Então, esses avanços vão precisar acontecer.

Orador 1:
Você tem participado desse grupo de Harvard que estuda a saúde planetária, pertence a esse instituto da USP de Estudos Avançados e trouxe um exemplo de que, naturalmente, há uma discussão no financiamento dos países pobres para que mantenha suas áreas de preservação. Mas eu pergunto: isso é suficiente? Nós estamos dizendo que nós poderíamos achar uma solução capitalista para esse problema?

Orador 2:
Não é suficiente e não é a única solução, sem dúvida. É só para mostrar um exemplo.

Orador 1:
Me dá a impressão de que talvez ela fosse uma solução paliativa. O que seria uma solução que caminhasse numa direção de construção de um sistema de saúde planetário efetivamente duradouro, de reversão da atual lógica destrutiva que a gente tem visto?

Orador 2:
Um dos sinônimos de saúde planetária é a saúde da civilização humana que afeta o planeta. Então, na verdade, o nosso processo civilizatório, a nossa forma de civilização, as nossas instituições, os nossos sistemas, eles estão com uma lógica que é predatória, que é destrutiva, que tanto gera o problema de impacto, vamos dizer assim, sobre os outros sistemas e também para a própria humanidade, gerando a desigualdade social. Então, essa lógica dos sistemas que a gente tem da civilização humana precisa ser revertida. Então, a solução não é simples, é mais complexa. Então teria que mudar sistema educacional… Os problemas que a gente está enfrentando a partir desse século, até tem um pesquisador, o Yuval Harari, que fala naqueles livros que ele estuda, do Sapiens ou do Homo Deus, ele fala que os problemas são planetários, são globais. Não é um problema de uma nação mais. Então, a necessidade talvez de começar a pensar nos problemas de uma maneira mais planetária, todos os problemas serem pensados de uma maneira planetária, é uma mudança geopolítica que está no grande debate hoje entre as questões mais nacionalistas. O que é bom do nacionalismo e o que não é bom do nacionalismo, o que é bom da globalização, o que não é bom da globalização… A pandemia de Covid trouxe até uma discussão sobre isso. Na lógica de globalização, os malefícios, então, não é simples. E é essa discussão que eu acho que é difícil de fazer parte do dia a dia das pessoas. Mas ela faz parte do problema. Quando a gente tem uma pandemia, e a pandemia é um exemplo de problema de saúde planetária, a gente tem que trazer essa discussão pra pensar na mudança do nosso estilo de vida, nossos hábitos, o nosso consumo. Então, talvez o que está mais próximo da gente é começar… Esse grupo do qual eu faço parte lá de Harvard tem trabalhado a perspectiva de promover a mudança. O que os médicos podem fazer para promover saúde planetária? Então a mudança dos hábitos, de alimentação, do estilo de vida, porque a alimentação impacta no consumo. Então, por exemplo, na Medicina do Estilo de Vida, a gente fala que comer muita carne é um problema hoje na nossa sociedade, a gente não precisaria comer tanta carne. Por quê? Porque, além de ser um problema para a saúde biológica, você tem o impacto na necessidade de produzir a quantidade de carne que tem que ofertar para a população. Então isso gera problemas sistêmicos. Então, essa noção de as pessoas poderem saber que, mudando seu estilo de vida e fazendo opções melhores, elas podem provocar repercussões sistêmicas. Talvez esse seja o grande desafio da gente.

Orador 1:
E olhando isso de uma perspectiva coletiva, este polo de países desenvolvidos do hemisfério Norte, que tem um padrão de consumo, que tem um padrão de acesso, cotejado com os países em desenvolvimento, como é que a gente, olhando o planeta de uma perspectiva global da solução planetária, teria que haver um equilíbrio nisso. Esse equilíbrio pressupõe elevar o acesso de uns e reduzir o acesso de outros. É possível?

Orador 2:
Essa já é uma discussão do ponto de vista geopolítico e, de certa forma, esses equilíbrios, essas políticas ou essa governança do ponto de vista planetário, de renda universal, de governo internacional, do direito internacional, de governos que pudessem ter alguns problemas planetários, como a mudança do clima, poderiam ter decisões de ações que fossem interferir no funcionamento… Uma das coisas que está em grande debate hoje nessa questão da saúde planetária é a polarização dos blocos de países que têm petróleo como reservas e os países que não têm petróleo. Então, por um lado, existe o desenvolvimento das tecnologias de energias renováveis, defendidas por alguns países e outros não. Então, isso envolve questões econômicas e provavelmente a gente está numa nova discussão aí, de nova ordem econômica. E aí essa discussão de como vai se distribuir a renda é um dos temas que estará presente nisso.

Orador 1:
E esses estudos hoje que a saúde planetária faz e que identifica o estado avançado de risco que a gente tem no planeta, a gente tem uma discussão geopolítica que está acompanhando essa velocidade, ou não?

Orador 2:
Essa questão é uma discussão a nível dos países, e não tem esse debate porque nesse momento os países não fazem discussões de problemas globais de uma maneira muito… Os órgãos, Organização Mundial da Saúde e a ONU, eles são fracos politicamente perante a ordem mundial hoje dos países. Então se isso não ocorre entre esses órgãos, quando chega na população, as pessoas ainda estão envolvidas com seus problemas locais. Então, essa dificuldade de pensar os problemas planetários é muito grande, porque há conflitos tanto dos interesses econômicos dos países, quanto a nível local, porque as pessoas não se preocupam. E quando surgem os movimentos de pessoas querendo trazer essa consciência, como esses tempos surgiu aí nas questões ambientais aquela adolescente, a Greta, que fez vários movimentos… Então os jovens estão começando a se preocupar com o futuro, porque um dos apelos que a gente tem que ter é que o planeta hoje está numa linha que, se não forem feitas mudanças de rota, ele pode chegar no que eles chamam de tipping point, que é um ponto de não retorno. Ou seja, nós somos a primeira geração que sabe dos problemas planetários cientificamente falando, então a gente tem evidências, mas a gente é a última geração que pode fazer mudanças. Então esse é o nosso desafio. As gerações futuras podem ter vontade de resolver os problemas, mas se eles passarem do ponto de não retorno, nem que eles queiram fazer ou que a sociedade inteira queira fazer mudanças, a gente já perdeu o ponto de mudança. Então, essa é a grande discussão: o que a gente precisa fazer para isso? Aumentar o número de pessoas que saibam desses assuntos e tragam para o seu dia a dia, sem que sejam ridicularizadas quando elas se preocupam com o futuro, com o planeta, porque as pessoas às vezes acabam sendo ridicularizadas, as pessoas dizem “isso é besteira, isso é bobagem”. Então teríamos que ter uma valorização da sociedade. Os profissionais de saúde, que são pessoas teoricamente respeitadas na sociedade, por isso que esse trabalho que a gente vai apresentar lá agora é sobre qual é o papel dos profissionais de saúde na questão de promover saúde planetária. A gente tem que introduzir isso, como somos pessoas confiáveis na população, nas localidades, falar mais sobre isso, falar sobre alimentação, sobre o impacto do planeta. Então, é um trabalho imenso ainda que tem para ser feito.

Orador 3:
Sobre essa questão do impacto relacionado ao planeta, você acha que o Brasil teve um decréscimo relacionado a isso? Porque a gente teve a Eco 92 e, depois da Eco 92, nós tivemos grandes políticas relacionadas à proteção, principalmente quando você tem o agronegócio. Então nós tivemos políticas relacionadas à mata ciliar, nós tivemos políticas de proteção daquela mata, daquela preservação, daquilo que existe ainda. Você acha que dos últimos anos pra cá houve um decréscimo relacionado a isso, ou a população em si se acomodou nesse sentido, da preocupação ao meio ambiente?

Orador 2:
Olha, eu acho que a legislação brasileira é uma legislação boa no sentido de proteção, mas existem muitos abusos ainda e a população não está muito atenta a essas questões. Eu acho que na Eco 92, o Brasil era considerado um dos líderes internacionalmente nessa questão ambiental, até porque tem grandes reservas e tem essas dessas políticas de proteção avançadas até certo ponto, tem essa preservação. Mas nos últimos tempos há uma mudança nisso. Essa visão do desenvolvimento do agronegócio tem uma visão, por um lado, de ser a fonte de alimentos para o planeta inteiro, mas uma das coisas que me surpreendeu recentemente foi o seguinte: gente, nós moramos aqui no Oeste do Paraná, e a gente tem a maior produção, a gente produz muitos grãos e também exportamos. E aí eu descobri que 70% do que a gente produz é para fazer ração de animal. E aí se for ver a cadeia produtiva, isso gera uma cadeia produtiva que é para alimentar os animais que vão servir de alimentação humana. Mas quando a gente vê os dados epidemiológicos da população obesa, com doenças cardiovasculares, que hoje os estudos mostram que isso tem a ver com o consumo excessivo de carne e produtos de origem animal, você vê que tem uma falta de lógica nessa cadeia produtiva. Então a gente não está precisando desse processo. Se a gente tivesse mais agricultura familiar, com mais produção de alimentos com famílias, seria uma outra lógica de desenvolvimento, de um agronegócio muito mais sustentável, muito mais saudável para as pessoas e para o planeta. Então, essa lógica, essa discussão, teria que ser diferente. Porque quando você as pessoas acham que é bom, tem desenvolvimento, tem emprego, tem renda, tem exportações, mas não tem uma lógica muito racional por trás disso. Então falta a população saber disso.

Orador 1:
Professor Roberto, quero agradecer a sua participação nesses episódios e, sem dúvida, talvez a gente possa organizar novas conversas, novos encontros, para poder compartilhar com a nossa comunidade.

Orador 2:
Muito bem, obrigado!