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A UNILA se orgulha de ter você aqui

No dia de celebrar o orgulho e a diversidade, fizemos um resgate das ações que levam a Universidade a se vestir com as cores do arco-íris
publicado: 28/06/2021 08h48, última modificação: 29/06/2021 08h32

“Acho que o site da UNILA tem que mudar e se colorir com as cores do arco-íris”, disse Wall Assis em entrevista, numa espécie de desafio que a Universidade aceitou e do qual agora vem dividir o resultado. Wall é mulher trans, estudante que recentemente concluiu a graduação. Sua história e de demais colegas foi registrada numa matéria também publicada neste 28 de junho – Orgulhe-se de ser quem você é! –, dando espaço exclusivo para que membros dessa comunidade possam se expressar. Aqui, serão tratadas especialmente as atividades institucionais e, também, as relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, reunindo o que a Universidade tem feito para tratar do tema.

As lutas que ocorreram ao longo dos anos também representam conquistas de quem acredita na causa da diversidade, seja por parte de estudantes, de professores e também da equipe técnica da Universidade. E hoje é dia de celebrar esse orgulho. A professora Lorena Rodrigues Tavares, em uma edição do ¿Qué Pasa? produzida para esta campanha, diz que “desde os anos 80 temos uma série de conquistas desse movimento, em termos de políticas públicas, legais e jurídicas, como a criminalização da LGBTfobia. Mas também temos visto um desmonte de algumas dessas conquistas nesses últimos anos. A situação é muito difícil. O Brasil continua liderando o ranking mundial de assassinatos de pessoas transexuais. Há um aumento da violência nas ruas”, pontua a pesquisadora sobre o tema. 

Reunião do Consun em 2017 em que foi aprovada a Política de Equidade de Gênero

A UNILA tem desenvolvido algumas ações para diminuir os impactos que possam estar relacionados a essa população. Em 2017, uma luta histórica foi alcançada com a aprovação, pelo Conselho Universitário (CONSUN), da Política de Equidade de Gênero da UNILA, que apresenta como uma de suas diretrizes a eliminação de toda forma de preconceito e discriminação sofrida pelas mulheres e lésbicas, gays, bissexuais e transexuais no espaço universitário e na comunidade unileira. Propõe, assim, combater o machismo, o sexismo, a misoginia, o racismo, a xenofobia, homofobia, lesbofobia, bifobia, transfobia, entre outras formas de discriminação. Essa Política foi resultado de debates que vinham sendo tratados desde 2014 pela comunidade universitária.

Nascia, então, um dos eixos que, meses depois, viria a compor um dos quatro que o Comitê Executivo de Equidade de Gênero e Diversidade (CEEGED) passou a trabalhar. Este primeiro eixo, que diz respeito aos direitos LGBQTIA+, está relacionado à criação de mecanismos institucionais para prevenir e enfrentar a violência e a discriminação contra membros dessa comunidade no ambiente acadêmico, além de prover formas de empoderamento.

Parte da equipe da CEEDED em eventos na UNILA

O Comitê é uma instância temporária até a criação futura de uma Secretaria de Equidade de Gênero, a ser trabalhada no momento de uma reestruturação administrativa. “O processo foi muito bacana porque a gente foi sentindo a necessidade de discutir uma política guarda-chuva, que não fosse uma política específica para o enfrentamento da violência, para as mães e pais, para a comunidade LGBQT na Universidade, mas uma política que pensasse gênero de maneira mais ampla”, conta a professora Renata Peixoto, que integra a equipe do CEEGED.

Algumas ações que envolvem a temática LGBTQIA+ já foram realizadas pelo Comitê, a exemplo de um encontro para o Dia da Visibilidade Lésbica, em 2019. Para o ano passado, havia sido programada a realização de um Café da Diversidade, com o objetivo de dar as boas-vindas aos novos estudantes, mas com a pandemia não foi possível realizá-lo de forma presencial. “Fizemos de forma remota, com a participação de Ronaldo Canabarro. Este ano, fizemos uma edição online, com a proposta que se chamava Bem-viado, fazendo alusão às boas-vindas. A gente teve a participação de uma drag do Paraná falando de diversidade, além de performances de poesia, momentos culturais e de descontração”, conta Maria Aparecida Webber, que também integra o Comitê.

Para Diego Carvalho, estudante que recentemente ingressou na graduação, “a gente percebe o reconhecimento quando vê a existência do CEEGED, por exemplo”. A Política de Equidade de Gênero também traz a perspectiva de que todos os eixos possam ser trabalhados por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. Assim, é possível ver na grade de alguns cursos de graduação disciplinas como Diversidade e Gênero na América Latina. Além disso, o tema também é tratado em ações de extensão e pesquisa, como veremos adiante.

Nome social: um tema sensível para a comunidade

A outra conquista diz respeito ao uso do nome social na UNILA, aprovado em 2016 também pelo CONSUN. A resolução assegura aos discentes o direito de usar o nome social e de incluí-lo nos registros acadêmicos. O nome social é o modo como as pessoas transexuais, travestis e transgênero são reconhecidas, identificadas e denominadas na comunidade e no meio social, uma vez que o nome civil não reflete sua identidade de gênero ou possa implicar em constrangimento.

Para a docente Lorena Tavares, especialista em estudos sobre gênero e feminismo, o tema é de grande importância. “O que as pessoas transexuais estão exigindo é o direito de serem quem elas são, como se dá a construção da identidade. Respeitar o nome social é humanizar essas pessoas, garantir que elas sejam tratadas como seres humanos dignos, de respeito. Quando não se respeita o nome social de uma pessoa, a gente não está respeitando seu direito de ser quem é. Para o cisgênero é muito fácil, ele não consegue entender a importância disso. É um direito extremamente importante. Não é um favor, é uma obrigação que todos nós temos que respeitar”, defende ela.

Essa questão é sensível para a Universidade, que está buscando atender a situações dessa natureza com mais empatia e sem gerar qualquer constrangimento. O pró-reitor de Graduação, Pablo Nunes, informa que, a partir do próximo ingresso, as informações constantes no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em relação ao nome social serão aproveitadas pela UNILA sem necessidade de nova solicitação, como já aconteceu em anos anteriores. E ele garante que, caso a informação não esteja disponível no banco de dados do Sisu, mas que haja o interesse da ou do estudante em utilizar o nome social, isso será feito já no ato da matrícula, com mais agilidade.

O tema que perpassa por todas as áreas da academia

Um dos projetos de pesquisa que tratam do tema é o coordenado pela professora Cleusa Gomes da Silva e que em 2018 foi registrado no Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA). Trata-se do Observatório de Gênero e Diversidade na América Latina, que busca investir na produção de dados e indicadores sociais e culturais sobre a diversidade, para subsidiar formulações de políticas públicas transversais, por meio da articulação entre pesquisa, ensino e extensão.

Reuniões da Rede da Diversidade de Foz do IguaçuA Rede de Encontros pela Diversidade é um projeto em atuação constante no município, com a participação de representantes da UNILA. E há a proposta de o coletivo trabalhar na capacitação de formadores, para aprimorar os conhecimentos de pelo menos um integrante de cada uma das 29 entidades que compõem a Rede. Cida Webber informa que também há uma proposta para que os integrantes desenvolvam um material audiovisual sobre o tema, destinado à circulação nas mídias sociais, além da produção de uma cartilha com abordagem acessível, para que dialogue com a realidade das pessoas que a Rede deseja atingir.

Outra ação que também recebe apoio do CEEGED é o trabalho desenvolvido pelo projeto de extensão Bota a Cara no SUS: Saúde LGBTI+. Os estudantes que conduzem o projeto, Mateus Feroldi e Nananina Nuñez, estão desenvolvendo, para este mês da diversidade, uma série de conteúdos audiovisuais que apresentem assuntos de interesse da comunidade LGBTQIA+, com temáticas relacionadas à saúde, mas também sobre a importância da luta contra o preconceito e em prol dos direitos dessa comunidade. 

O Bota a Cara no SUS tem o objetivo de realizar ações de capacitação em prevenção, promoção e educação em saúde da população LGBQTIA+, aproximando os profissionais de saúde do município de Foz do Iguaçu ao contexto desse público. A proposta, segundo os coordenadores, é ampliar a entrada desses cidadãos aos serviços disponíveis por meio da atenção básica, além de enfatizar aos profissionais da área a necessidade de acolhimento e atendimento humanizado, fortalecendo os princípios do SUS em universalidade, equidade e integralidade.

O nome do projeto, segundo Mateus, foi uma analogia ao meme das meninas trans que diziam "põe a cara no sol, mona". “Isso para mim é orgulho, é apropriar-nos do que é nosso, do que a gente produz, da nossa linguagem, da nossa forma de viver e de nos comunicar”, aponta. Ele conta que a ideia do projeto nasceu de experiências pessoais como usuário do SUS e por ter passado por situações que ele classifica como estereotipadas, conforme exemplifica. “Há casos em que o profissional de saúde encaminha para um teste de HIV ou IST e não pergunta a minha sexualidade, não procura fazer conexões. E uma vez eu passei por uma situação muito chata. Num atendimento, eu fui chamado de promíscuo, que se eu estava lá era porque tinha feito algo de errado”.  

Ele diz que, na execução do projeto, há apoio por parte institucional, de professores e de colegas que enxergam a importância sobre o tema. “Acredito que só de ter um projeto dessa natureza é dizer que nós estamos aqui, que acreditamos que essa especificidade da saúde da população LGBTQIA+ existe, que envolve procedimentos complexos”, defende ele. Mateus entende que este não é um projeto específico do curso de Medicina, mas de todos os envolvidos na área da saúde, e os convida para que atuem como elo, que possam ampliar o acesso da saúde a essa comunidade.

“Os profissionais precisam entender que eles têm um papel importante na saúde dessas pessoas e que podem ampliar o acesso dessa comunidade. Precisam dizer que é direito delas usufruírem desse sistema e desses protocolos, que foram criados para elas. Então acessem, usem”, diz Feroldi. A proposta do projeto é fazer capacitação, treinar para que os profissionais possam fazer um bom acolhimento para os LGBTQIA+, criar protocolos e procedimentos específicos e lutar contra o preconceito e a discriminação, garantindo o acesso previsto em lei.

Nananina, que também integra o projeto, diz que o Bota a Cara no SUS também é sobre a liberdade de escolha e de aceitar-se realmente como é. “Quando a gente demonstra que está seguro, que a gente acolhe e que pode, sim, ser acolhido nessa circunstância, é uma nova abertura para que a pessoa se aceite como é e deixe de lado os discursos de ódio sobre quem nós somos”, completa.

No ensino e para a vida

A UNILA oferta, desde 2018, um curso de pós-graduação, em nível de especialização, sobre Gênero e Diversidade na Educação. Para o coordenador, Marcos de Jesus Oliveira, a especialização é resultado da convergência de interesses de pesquisa do corpo docente nas áreas de gênero, feminismo e diversidade, bem como do compromisso político com uma educação orientada para a defesa dos direitos humanos e para o combate das desigualdades estruturais e estruturantes que, historicamente, geram violências e exclusões nas sociedades latino-americanas, incluindo demandas legítimas da população LGBTQIA+.

O curso ainda está na primeira turma e as apresentações dos trabalhos de conclusão estão acontecendo este ano de forma online. “Os trabalhos defendidos têm revelado o engajamento ético-político dos discentes através da produção de debates, discussões e pesquisas de interesse da região”, avalia Marcos. Ele diz que ainda não há previsão de abertura de nova turma, mas que há um diálogo permanente entre o corpo docente, com o objetivo de ofertar nova edição tão breve quanto possível, pois a coordenação tem recebido vários e-mails de pessoas de diversas partes da América Latina interessadas na especialização. 

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Orgulhe-se de ser quem você é!que conta um pouco das histórias de vivências e resistências da comunidade universitária.