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Vida Universitária

Orgulhe-se de ser quem você é!

No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a UNILA convida você a orgulhar-se da sua história
publicado: 28/06/2021 10h56, última modificação: 28/06/2021 17h19

No dia de hoje, mais do que nos demais dias do ano, vamos falar de orgulho e diversidade, que são temas complexos em suas essências, polêmicos para uns e libertadores para outros. A pergunta do dia é: você já expressou seu orgulho pela diversidade hoje? Por ser ou então por apoiar um amigo ou familiar que honra e respeita o tema em todo o espectro que envolve a sigla LGBTQIA+? Calma que vamos explicar tudo isso direitinho daqui a pouco, para você que não está acostumado com esses termos ou com essas particularidades que envolvem a questão. Mas, com certeza, você sabe da importância de levantar essa bandeira de diversidade e integração, e sabe que a UNILA também defende essas causas.

"A UNILA me colocou em contato com pessoas que viviam a sua identidade sem medo. Ou com medo mesmo. E isso me trouxe a reflexão: por que estou me escondendo? Como estou contribuindo com essa luta? Foi um momento de aprendizado."

Continue atento a esta matéria especial, porque aqui vai rolar esclarecimento sobre o universo da diversidade, histórias de existências e resistências, a partir de depoimentos da comunidade universitária que foram coletados em entrevistas. O importante é embarcar nesta onda de boas energias e compartilhar esse orgulho com todas, todos e, por que não dizer, todes? (vamos dar uma pausa no formalismo da língua e encarar este momento como liberdade de expressão). Um dos nossos entrevistados, Yuri Amaral, gravou um vídeo explicando melhor sobre o uso dos pronomes neutros, que pode ser conferido no Instagram. É isso que a UNILA está propondo, especialmente no dia de hoje e em todos os demais dias do ano, porém ciente de que não será possível, aqui, esgotar o tema. Vem junto que a gente te explica no caminho, que é longo, de muitas lutas e é colorido por natureza.

Falar de diversidade é dar voz a demandas coletivas. Aqui, essas e esses protagonistas assumem o lugar de fala, não importa em que letra do LGBTQIA+ se enquadrem. Durante o mês de junho, estudantes foram convidados a conversar sobre o tema, por meio de pequenas conferências virtuais que contaram com uma participação diversa, quase que um encontro de amigues. E vamos apresentar um pouco da participação de cada uma e de cada um, que representam desde estudantes pioneiros que se engajaram na causa até novos ingressantes; de quem acabou de concluir o curso de graduação a quem já passou pela pós. Alguns da cidade de Foz do Iguaçu; outros de São Paulo, do Acre e, também, da República Dominicana. Aqueles engajados em atividades culturais ou de ensino, além dos que empreenderam projetos de pesquisa e extensão relacionados ao tema.

Com a palavra, quem tem lugar de fala

Gilliard Marino

Gilliard Martino foi estudante da UNILA, com ingresso no ano de 2012. Um unileiro praticamente com o selo de pioneiro, ele tem boas lembranças da época em que a Universidade dava seus primeiros passos. Natural de Foz do Iguaçu, diz que viu como a instituição começou a fazer parte da vida social da cidade. “Foz tem uma população LGBT expressiva, juntando com as cidades fronteiriças dos outros países. Só que também é muito conservadora, onde a gente sofre violências constantemente. O fato de se expressar, mesmo que de forma bem sutil, já é suficiente para o conflito. Ainda mais numa Universidade que tem corpos que chocam, que estão aqui para causar mesmo, então a reação é bem maior”, conta ele.

Apesar de ter vivenciado o que chama de um ambiente que, por vezes, tendia à violência moral, com questões que não conseguiam ser revolvidas por serem espaços que ainda estavam se estruturando na instituição, ele considera que a UNILA também tenha sido uma experiência muito rica em sua vida. “Havia pessoas de diferentes culturas e com diferentes formas de lidar com a diversidade. Uma coisa que me chamava a atenção e que eu achava engraçado é que, quando você sai do seu lugar de origem, é parecido com o 'sair do armário', porque não tem todas as amarras da sua terra. E, quando chega a esses novos espaços, tem a possibilidade de viver novas experiências”, relata.

E assim ele via que, com o tempo, chegavam novas pessoas que passavam a expressar-se com mais leveza, trazendo experiências novas de ativismo, salientando as visões de pensamento crítico sobre a questão, a exemplo dos uruguaios e colombianos, enquanto para estudantes de alguns outros países a fluidez sobre o tema era mais restrita. Ele relembra, também, as experiências iniciais de integração na primeira moradia estudantil. “Era um refúgio, e foi muito importante a vivência ali. Era um espaço em que podíamos ser nós mesmos. Dentro do campus nem sempre isso era possível. A gente chegava vestindo saia,  cabelo pintado e, às vezes, gerava desconforto nas pessoas, principalmente nos espaços em que a Universidade não tem muita autonomia”, relembra.

    

Ele também foi representante estudantil no Conselho Universitário, mas acabou saindo em 2016 sem concluir o curso de Ciências Biológicas. “Segui um novo caminho, fiz outras escolhas. Mas dá para ver que as políticas começaram a ser colocadas em prática, que teve mudança no perfil estudantil e também na relação com os LGBTs. É possível enxergar que a Universidade começou a lidar de forma diferente”, reflete.

Um dos referenciais apontados por Gilliard foi a participação no coletivo Maldita Geni, que abarcava estudantes de diferentes cursos, além de técnicos e professores. O grupo se reunia para discutir sobre as vivências e experiências da diversidade na cidade. Num desses encontros, Yuri Amaral, estudante que concluiu a pós-graduação na UNILA e que se identifica como trans não binária, também de Foz do Iguaçu, conta que fizeram mapeamentos de lugares que consideravam seguros para o público LGBT: “de lugares que não partissem da violência, mas sim da segurança. Foi muito complexo porque a cidade ainda não dispunha de muitos espaços dessa natureza”, conta Yuri.

Ele recorda que outro colega da pós-graduação abriu um papel craft no chão, e o grupo começou a desenhar o mapa do centro da cidade, para assinalar aqueles pontos em que eles se sentiam mais seguros. “A nossa intenção era demarcar o território através de experiências positivas. Começamos a ver que também havia experiências negativas e então passamos a usar legenda, outras cores”. 

Assim, nasceu a ideia de “fervos”, que eram os encontros coletivos daqueles que queriam viver a diversidade. Esses encontros possibilitavam maior integração entre as pessoas e eram promovidos em lugares públicos, como as praças do Mitre e da Bíblia. "A UNILA me colocou em contato com pessoas que viviam a sua identidade sem medo. Ou com medo mesmo. E isso me trouxe a reflexão: por que estou me escondendo? Como estou contribuindo com essa luta? Foi um momento de aprendizado. Essa é uma das experiências mais marcantes que tive na UNILA, um tipo de recomeço", reflete.

Espaços para colorir e, também, de resistência

Yuri também recorda dos tempos em que a UNILA tinha um campus no centro da cidade, onde muitas atividades eram realizadas e que davam vida para a área central. “Eram pessoas LGBTs de outros países da América Latina, pessoas não brancas. Tinha travestis, mulheres trans, homens trans, bichas afeminadas, todo tipo de gente frequentando lugares conservadores, e isso era fantástico, uma forma de existir e resistir”, recorda. 

Para Gilliard, o campus no centro da cidade possibilitava mais liberdade, porém não estava totalmente isento de questões relacionadas à LGBTQfobia. “É um tema estrutural e a gente não espera que a UNILA, por si só, resolva isso sozinha. Só que a gente quer, no mínimo, alguma ação de enfrentamento”, referindo-se a algumas questões que, segundo ele, não foram investigadas a fundo. Ele reforça que é um desafio constante para a UNILA mediar essas relações de conflito e considera o ano de 2013 um divisor de águas para mudanças, com a entrada de estudantes de países mais variados e, também, com o ingresso por cotas para afrodescendentes, entre outras formas de inclusão. “E isso aconteceu com as bichas também, com as trans. A gente se organizou mais a partir daí, e muitos eventos começaram então a serem realizados, principalmente impulsionados por iniciativa do ILAACH, nos pátios da UNILA Centro”, diz.

Diego Carvalho

O calouro Diego Carvalho é um dos que já participava de movimentos desde antes de ingressar em definitivo na UNILA, o que aconteceu mais recentemente, no início deste ano, já no modelo de ensino remoto em função da crise sanitária. Ativista político e militante na cidade, também natural de Foz do Iguaçu, ele faz parte da União Nacional LGBT, da Aliança Nacional LGBT em Foz do Iguaçu e do Espaço Iguaçuense da Diversidade. Ele lembra que, também em 2013, nasceram os Encontros pela Diversidade, iniciativa importante de mobilização, com a participação determinante dos professores Cleusa Gomes e Gerson Ledezma Meneses, além de representantes da Unioeste.

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Megg Rayara

“A gente começou com uma atividade lacradora, que foi trazer a Megg Rayara para cá nesse período, e ela abriu esse Encontro pela Diversidade dizendo que temos que formar os nossos quadros para resistir. A ideia da Rede é agir por meio de formações continuadas sobre o tema da diversidade. Desde então, muitos LGBTs participaram desse projeto”, diz Diego. Inicialmente, a Rede era coordenada pelo ILAACH, mas passou a ser autogestionada. “Atualmente coordeno a Rede, de modo a conciliar as atividades dos membros, mas oficialmente a coordenação é conjunta das 29 entidades espalhadas pela cidade inteira, envolvendo Prefeitura, Guarda Municipal, Conselho da Mulher. Muitas mulheres e muitos homens LGBTs que estão trabalhando todos os dias para discutir a diversidade dentro e fora da Universidade”, conta ele.

Para Diego, é preciso falar de orgulho, mas também de vulnerabilidade com demais estudantes na Universidade. Na sua concepção, os mapeamentos e estudos realizados por pesquisas na UNILA sobre o tema da diversidade ajudam a clarear o caminho, pois geram registros. Ele vê que a Universidade caminha para formar pesquisadores sobre o tema, mas também para diminuir casos de homofobia que podem acontecer até mesmo dentro do espaço universitário. “É preciso que as pessoas não tenham medo de falar, porque não basta somente ter orgulho de quem somos, também precisamos ter segurança para que a gente viva. Hoje, a Universidade caminha para ser esse espaço, mas ainda não é de todo”, analisa ele.

Segurança, acesso e permanência

Casos de agressão corporal é o tipo de alerta que faz Wall Assis (foto abaixo, à esquerda), estudante de São Paulo que recém concluiu o curso de graduação e que relata ter sido agredida próximo ao campus universitário, num caso de crime de ódio. “Vim de escola pública de São Paulo, estava vivendo um sonho, numa Universidade boa e num curso de que gosto bastante, que é o de Letras, Artes e Mediação Cultural. Desde esse momento, eu comecei a pensar no meu papel e qual a importância de chegar até o final da graduação passando por diversas dificuldades”, conta ela, que se identifica como mulher trans.   

Wall Assis e Yuri Amaral

Ela apresentou trabalho de conclusão de curso com o tema sobre a trajetória de um corpo urgente na Universidade. E explica: “esse urgente é o que acompanha o meu corpo ser dissidente em classe, corpo e gênero. É a trajetória de uma pessoa pobre e trans dentro da Universidade, e trago uma série de performances que eu fiz durante toda a graduação”. Uma de suas videoperformances, "Desatando nudos", que retrata um pouco sobre a questão de gênero, pode ser acessada pelo YouTube. Sobre suas produções, ela se lembra da importância da Casa de Malhú em dar espaço para as travestis de Foz do Iguaçu. “Reflito a minha vida no trabalho e todas as performances ali”.

Para Wall, não é fácil para uma trans chegar ao final da graduação. Ela recorda que apenas ela e mais uma colega conseguiram concluir o curso até o momento. “Eu já trabalhei num projeto da Universidade para acompanhar as pessoas trans que estavam na UNILA, e eram cerca de 20 pessoas que passaram pela instituição em todos esses anos. É questão de acesso. E é importante a gente ocupar esses espaços e trazer à tona esse movimento, para mostrar que a comunidade LGBT da UNILA está aqui e está se manifestando. Abrir espaço, também, para quem queira agregar algum aporte para a visibilidade dessa comunidade da Universidade. Espaços como este, para a gente falar, é um bom parâmetro. Mostrar esse apoio, que envolve uma rede gigantesca de pessoas, de amigos”. Esse trabalho de mapeamento realizado por ela é parte de um projeto abarcado pelo Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA), entre os anos de 2017 e 2018, com base no levantamento e estudo de diversos indicadores.

Luta e resistência constantes é como Gilliard traça o desafio do movimento LGBTQIA+ na vida, inclusive no ambiente universitário. “A gente precisa resgatar o histórico de nossas vivências, temos a tendência de reinventar a roda toda vez, e não precisa disso. Temos as experiências que nos ensinam muito. A UNILA ainda tem um caminho grande para avançar em relação a esse tema”, diz ele referindo-se às questões que muitas vezes impedem a permanência de alguém na Universidade. Por outro lado, lembra com orgulho de várias ações de enfrentamento de tudo isso, como a campanha do Esmaltaço, uma iniciativa do coletivo Maldita Geni, em 2014, que envolveu membros de toda a comunidade acadêmica, numa forma de demonstrar apoio à necessidade do combate à discriminação no ambiente universitário.

"Gosto de pensar em questões que não mostrem a nossa vulnerabilidade. Precisamos mostrar a história de pessoas trans como protagonistas no mundo."

Uma mulher trans, estudante de curso de graduação e que prefere não se identificar, relata as dificuldades que teve em relação à sua matrícula e ao uso do nome social. “Meu processo de nome social na UNILA só foi acontecer após ser levado a órgãos superiores. Mesmo depois de eu ter retificado meus documentos, de adotar o nome social, ainda assim foi difícil, porque tive que fazer vários chamados, mandar para a Secretaria Acadêmica. Os estudantes providenciam o nome social para fazer o Enem e, quando chegam à UNILA, precisam fazer a solicitação de novo”, relata.

No entanto, ela diz que houve mudança posterior ao acontecido e que estudantes trans não passarão mais por essa situação. A mudança a que ela se refere é a disponibilização de um requerimento de registro de nome social logo na entrada do setor de matrículas, de forma que não será mais necessária exposição a esse respeito. “É preciso ter acompanhamento no momento das inscrições, porque muitas vezes as pessoas chegam em condições muito precárias, saindo de casa, de suas cidades, e precisam de um atendimento humanizado, tanto de quem vai efetuar a matrícula ou de quem está acompanhando. Talvez pequenos atos possam fazer a pessoa desistir de estudar. Essas questões são de políticas de permanência”, resume.

Ela diz, inclusive, que já se predispôs, na diretoria do seu Instituto, a acompanhar as demais pessoas trans que ingressarão na UNILA, para dar apoio em relação à questão do nome social, fazer plantão nesse momento, para que futuros ingressantes não passem pelas mesmas dificuldades que ela passou. No início de 2020, ela tentou colaborar dessa forma, porém não foi possível por conta da pandemia.

A sugestão dela é de participação ativa, proporcionando treinamento para o corpo técnico que atua no momento das matrículas, com o apoio da Casa de Malhú, de Foz do Iguaçu. “Nunca foi um desafio de não querer fazer, até porque tem muitas pessoas que podem falar disso, tanto as trans da própria UNILA quanto de movimentos sociais”. Ela finaliza dizendo que não importa o quanto as pessoas consigam se desconstruir, sempre vai haver mais um detalhe para perceber e para lutar por ele. “Gosto de pensar em questões que não mostrem a nossa vulnerabilidade. Precisamos mostrar a história de pessoas trans como protagonistas no mundo. Mudar alguns discursos, porque somos vulnerabilizadas, não vulneráveis”.

Orgulho para quê? Por quê?

Nananina Nuñez

"Eu sou preta, mulher e, além disso, bissexual. Muitas vezes, essas características fizeram com que eu me sentisse excluída, em muitos cenários, ou que não me sentisse escutada”. Assim, a dominicana Nananina Nuñez, estudante de Medicina, 19 anos, inicia a sua apresentação. Ela conta que a vida dela antes de chegar à UNILA foi difícil, inclusive em relação às suas escolhas, tendo vindo de um país que considera conservador. “Porque sou mulher e, para muitos, o que eu tinha para dizer não era importante. Porque sou preta, e quando uma pessoa é preta tem que se esforçar o dobro para ter o mesmo reconhecimento que uma pessoa branca. E, também, pelo fato de que sou bissexual, então eu era normalmente vista como uma pessoa promíscua, que não sabe o que quer, que não entende o que está falando e quem realmente é”, desabafa Nana. 

Então ela diz que todos esses preconceitos, na verdade, fizeram com que se sentisse oprimida e guardava esse sentimento para si mesma, porque imaginava que se ela se manifestasse de forma que contrariasse os padrões impostos pela sociedade, ela poderia sentir-se rejeitada. “Logo que fui aprovada na UNILA, uma das pessoas que foram mais significativas e que mais me ajudou a me conhecer, a saber quem eu sou e a importância de dizer quem eu sou, foi Mateus Feroldi. Com ele, eu comecei a fazer parte do projeto de extensão Bota a Cara no SUS: Saúde LGBTQIA+”, conta ela com o tom de quem foi abraçada pela percepção da diversidade e da integração. Leia mais sobre o projeto de extensão e sobre outras iniciativas de ensino e pesquisa desenvolvidas na Universidade, na matéria A UNILA se orgulha de ter você aqui.

Mateus Feroldi

Mateus Feroldi Caetano de Souza é um jovem de 22 anos, também do curso de Medicina. Filho de um paranaense com uma acreana, ele nasceu numa cidade do interior do Acre, com menos de 20 mil habitantes, e na adolescência se mudou para Cascavel para cursar o ensino médio. “Desde criança eu já sabia que ser gay naquela cidade seria um problema. E por ter nascido no interior, tive contato com o machismo muito cedo. Lá se espera que o homem tenha um padrão de vida, trabalhe, tenha filhos e tudo mais. Isso foi algo que me marcou muito. Não queria que o fato de ser uma criança afeminada fosse impedimento ou um fator limitante para mim”, conta ele. 

A cidade de Cascavel, para Mateus, foi um divisor de águas em sua vida, onde teve contato de fato com o universo da diversidade, aproximando-se da vivência com gays, lésbicas, bi, trans e com a cultura drag, que considera ter sido uma paixão à primeira vista, e pensou: “isso é lindo, é perfeito. Foi nesse contexto que eu tive os primeiros contatos com a militância LGBTQIA+, vinda da arte drag. Queens que militavam e faziam performances de resistência”, diz com entusiasmo.

Assim como Nana, Mateus também acredita que a UNILA foi um espaço que o acolheu em vários aspectos. “Quando cheguei à UNILA, fiquei muito feliz porque fui acolhido por uma comunidade LGBTQIA+ bem ampla, não só da Universidade, mas do curso de Medicina. Muitos veteranos já faziam parte desse universo. Pelo curso ser apontado como elitista e conservador, achava que não iria me encaixar bem em relação ao que acredito como diversidade; porém, me senti abraçado”, conta ele.

“As dificuldades ainda são gigantes. Já vimos algumas mudanças, mas acho que depende muito do contexto. Temos muitas barreiras para quebrar." 

Mas os desafios, segundo os dois, são constantes, desde o fato de assumir a sexualidade para si, como para a família, até no nível mais global, que envolve a sociedade e questões de legislação. “As dificuldades ainda são gigantes. Já vimos algumas mudanças, mas acho que depende muito do contexto, temos muitas barreiras para quebrar. O que me deixa mais revoltado é a questão de políticas, de leis. O Brasil é um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo e é um dos que mais consome pornografia de pessoas trans e travestis. Sinto que a sociedade brasileira é muito contraditória. O que me deixa muito chateado é quando vejo algo do tipo: ‘aceito você ser gay, mas não dentro da minha casa e na minha família'”.

Por isso a questão do orgulho e da celebração da diversidade é importante neste momento para ambos. Para Nananina, expressar esse orgulho é usar a sua voz para empoderar outras pessoas, e ela resume isso da seguinte forma: “a gente é mais do que uma história triste, é uma história de sucesso, e a gente é forte. E demonstramos isso quando podemos falar da gente. Nosso papel é transformar o medo em orgulho. Porque somos seres livres e devemos ensinar ao mundo que a gente é capaz quando entende, aceita e cultiva a própria identidade. A gente ama e está lutando por um amor livre, mas também temos que entender que nossa luta é principalmente uma luta política”, reforça ela.

Feroldi entende que não basta apenas um dia ou um mês para celebrar a diversidade. “Na real, a nossa vida devia ser uma celebração. Nós devemos ter orgulho sempre. Ter um mês para celebrar isso é incrível, muito bonito, porque temos que trazer essa visibilidade, quebrar estereótipos. Então é falar de quem você é, é se orgulhar. O orgulho vem muito do autoconhecimento, de você saber quem é de verdade, do que não te limita. O mês do orgulho é muito isso, de expor o que você faz, de apoiar outras pessoas que fazem parte da comunidade. Para mim, tinha que ser o ano todo”, defende ele.

   

A dica de Diego Carvalho é para que não somente a comunidade LGBTQIA+ mostre a cara, mas também professores e técnicos o façam, “porque muitas vezes a gente vê só a nós mesmos. Que a gente se orgulhe de quem a gente é, mas que também lutemos por espaços dentro da Universidade, na cidade, em todos os lugares. A gente precisa lembrar de que não é por ser gay, travesti ou lésbica, que não somos seres humanos”, incentiva. 

Por outro lado, nem tudo são flores. Para Yuri Amaral, este também é um momento de denunciar, não só de se orgulhar. “A denúncia é mais importante do que a ideia de orgulho. No sentido de que nada está muito bom, tem coisas ruins acontecendo, e é importante que quem esteja fazendo coisas ruins se conscientize”, diz.

Para finalizar, a nossa entrevistada que prefere não se identificar pontua que, “se não houvesse um momento de escuta igual estou tendo agora, seria igual a algumas marcas multinacionais que fazem as suas propagandas pró-diversidade cheias de arco-íris, de pessoas felizes, falando o quanto é maravilhoso tudo isso e tudo mais. Quando não é bem assim”, pondera.

Se você pode fazer algo pela causa, primeiro respire e depois inspire. Saber que está vivo e defende uma causa tão nobre como a diversidade pode ser uma ação inspiradora para muitos. Pensar que não é apenas uma ação individual a de erguer a bandeira do arco-íris, mas sim uma ação coletiva que pode abrir a mente daquele amigo machista que faz piadas homofóbicas, da senhorinha que acha que ser livre no amor é pecado, do vizinho que faz de conta que você não existe porque não segue os padrões que ele acredita como sendo os mais autênticos da sociedade. 

E viver a sua vida de forma digna, com certeza, é inspirar outros a seguirem por esse caminho. Então não se esqueça: respire e inspire. Faça como Gilliard, Yuri, Diego, Wall, Mateus, Nana e outros que não puderam participar aqui, mas que se sintam representados, todos num só movimento: orgulhe-se de quem você é!

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