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Cátedras-guarani

publicado 07/08/2020 13h12, última modificação 07/08/2020 16h33

Apresentação

 

    YO EL SUPREMO (1974/2014)

                                                                                                    Alai Garcia Diniz

                             .                     

Desejo começar lembrando as vozes secularmente esquecidas e aquelas que hoje aqui estão nestes Anais por aceitarem compor um conjunto em sua diferença, dando voz ao evento. É preciso começar por elas! Escutar os movimentos indígenas potencializa a interculturalidade. Refiro-me especialmente aos palestrantes indígenas que aceitaram sair de seu espaço, perigosamente conquistado e que necessita ser defendido no dia-a-dia. No momento a luta é contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 215) que retiraria do poder executivo o poder de demarcar terras para transferi-lo ao Congresso. Os depoimentos sobre as violações desses direitos; as lutas e o pensamento guarani de alguns caciques Mbya Guarani do Guaira; Terra Roxa, a voz de jovens docentes e lideranças Ava Guarani do Tekoha Ocoí estão aqui nos Anais e podem ser ouvidos na íntegra. Aos caciques Ilson Soares; Liborio Garcia do Guaira; a Cassemiro Pereira Centurião e a Delmira Peres do Tekoha Ocoí e a todos que contribuíram com a potência de sua fala na batalha do cotidiano, meu eterno agradecimento.

O evento YO EL SUPREMO (1974/2014) ocorrido entre os dias 03 e 04 de dezembro de 2014 que unificava atividades de duas cátedras: León Cadogan e Roa Bastos do IMEA – Instituto Mercosul de Estudos Avançados foi um modo de ativar a discussão sobre a obra de Augusto Roa Bastos (1917-2005), na Universidade Federal de Integração Latino-Americana e mostrar conexões interdisciplinares e a amplitude de sua escritura, bem como ressaltar o trabalho pioneiro de Leon Cadogan e mostrar como é possível colocar em diálogo a obra mítica Ayvu Rapita (1959) com o romance Yo el Supremo (1974), após quarenta anos de sua publicação. Literatura e mito potencializam relatos que povoam os imaginários da Tríplice fronteira e que se transformam, deslocam-se e implicam trânsitos culturais.

A partir desse colóquio que reuniu pesquisadores paraguaios, brasileiros e argentinos de diferentes áreas instalou-se uma proposta interdisciplinar que tinha como prioridade colocar em diálogo a oralidade e atualidade das vozes de caciques e ativistas indígenas com a base histórica, social para circular os temas que outorgaram a Augusto Roa Bastos, um dos maiores prêmios de Literatura: o Prêmio Cervantes, em 1989.

1.      Ouvir o tempo

Unificar as atividades de duas cátedras: León Cadogan e Roa Bastos do IMEA – Instituto Mercosul de Estudos Avançados, partindo  de  uma temática que se aparentemente parecia estar apenas pautada no romance  – Yo el Supremo (1974)  do escritor Augusto Roa Bastos, tinha como finalidade perscrutar sobre o tempo presente.

Por que retirar do armário um romance como Yo el Supremo,  um romance após 40 anos de vida?

O que empresta especial interesse a esse objeto, que aparentemente é um livro sobre um político paraguaio? Salvador da pátria, revolucionário da independência, fundador da primeira república do Rio da Prata, figura polêmica entre herói e ditador, José Gaspar Rodriguez de Francia que viveu no século XIX, governou de 1814 até sua morte em 1840: Karaí Guasu, o que tem a ver esse personagem histórico com você, leitor; com o cacique Ilson Karaí; com o professor; com aquele jovem que não o leu ainda? Tudo!

Neste texto, em rápidas pinceladas tentarei trazer a obra para o nosso convívio da área para a indisciplina.

2.  Hermetismo de Yo el Supremo

Muitos já dissertaram sobre essa obra, aparentemente, hermética, para aqueles que desejam ler sem esforço para pensar, imaginando encontrar uma estrutura romanesca linear, que caiba num vão do dia, no meio de uma espiada à rede de relacionamentos; no intervalo de um videoclip. Até dá! Caso se entenda que pouco a pouco a obra exigirá mais espaço para penetrar no recôndito espaço do leitor que aceita o pacto para navegar em uma cartografia do imaginário que usa o fictício das digressões como um palimpsesto ou capta os relatos que do guarani passa de boca em boca, no corpo a corpo com as letras.

Como um dos relatos do chamado romance dos ditadores, ao lado de Gabriel García Márquez com El otoño del patriarca (1975) ou Alejo Carpentier com El recurso del Método (1974), entre outros, o importante para o evento não seria exatamente o de reforçar ou o de mostrar como se desenvolveu este subgênero estudos tradicionais da área encontrado em compêndios de historia da literatura latino-americana, mas seria mostrar como a partir do imaginário criado pelo discurso literário seria possível cruzar e transcender barreiras disciplinares. Como?

3.  Em transe, transito

Vale mais a pena conferir o fio que percorreu o evento. A começar pela oficina de Tradução “El Guaraní y la desde y hacia el bosque de la metáfora” de Susy Delgado, poeta, tradutora  e atual Directora de Lenguas da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai, que atingiu um público diferenciado com estudantes do curso de Guarani, ofertado aos técnicos da UNILA e coordenado pelo Professor Mario Ramão Filho. Também foi a partir da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai o registro da repercussão jornalística internacional sobre o evento e que aqui também reproduzimos.   

A palestra de abertura foi realizada por um convidado, o professor de Política, Felix Pablo Frigerio que trouxe à baila, com rigorosa competência e uma reflexão contundente as condições sub humanas em que vivem e a relevância do movimento indígena na América Latina. Coube ao professor Paulo Renato Silva estabelecer a conexão histórica entre passado - o ano de 1974, em meio à ditadura de Stroessner e o exílio de Roa Bastos e o presente dos últimos acontecimentos no Paraguai que trouxe de volta o autoritarismo com o retorno do Partido Colorado ao poder em 2013. As duas marcas históricas do evento foram articuladas de outro modo por Rocco Carbone ao discutir literatura e política, relacionando o autoritarismo criticado por Roa Bastos, com a questão histórica de perseguição aos homossexuais no regime de Stroessner, apenas divulgados na contemporaneidade de um Paraguai que começa a retirar algumas máscaras. O que a comunicação da pesquisadora Marisa Amaral observou com os dados e sessão de fotos foi o preconceito que denota a falta de condições de vida e a falta de direitos mínimos de sobrevivência dos indígenas no Paraguai.  

Além de interdisciplinar, também do âmbito geopolítico foi a contribuição do professor e pesquisador paraguaio José Manuel Silvero, da Filosofia que trouxe uma abordagem sobre o aparente conflito entre Pierre Clastres e León Cadogan, que, de fato, não pode ser visto como um plágio de Clastres sobre o livro de Cadogan Ayvu Rapita, mas é de outra índole a visão de Silvero pode ser conferida em detalhes pelo capítulo desenvolvido nestes Anais. Da ordem da assimetria cultural existente entre escritura e oralidade e que acompanha a discussão desde o título ao conjunto do artigo de Mario Rene Rodriguez são as vozes que não se ouvem e que alguns escritores descortinam na competente proposta de comparação entre as obras de Roa Bastos; Juan Rulfo, José Maria Arguedas e João Guimarães Rosa.

Com as epidemias advindas do contato com os colonizadores e jesuítas no teko Guasu do Guaira como os indígenas se defendiam? A partir de seu próprio modo de buscar a  cura dos males e de seus próprios conhecimentos como o das experiências de ouvir em sonhos Che Ke rapyça que  tomavam suas decisões Em narrativas dos jesuítas, Adilson Manfrin analisa em seu capítulo tais estratégias que serviram para tomada de decisões como o de deslocamento da teko para a redução missioneira de Nuestra Señora del Loreto del Pirapó.

A reflexão da professora da UNIOESTE Eloá Soares D. Kastelic trouxe os conflitos linguísticos oriundos da circulação de falantes das línguas - Guarani e Portuguesa estudada entre os Ava Guarani da região da Tríplice Fronteira, dando voz ao movimento indígena e comparando a prática da Educação indígena com os  direitos legais como cidadãos e  com a nova geração que utiliza um outro idioma como o Guarani.

Bruno L. Petzoldt lida com a narratologia ao discutir como em Yo el Supremo é possível ler o romance como a problematização da “historia de uma narração” e uma metalinguagem que aponta para uma complexidade bipolar do bilingüismo como visão de mundo.

Com Antonio Carmona, presidente da Fundación Roa Bastos e reconhecido jornalista paraguaio apresenta-se a escritura e reescritura do mito José Gaspar Rodriguez de Francia que como Sísifo vai sendo compilado, reinventado a cada época e que na obra Yo el Supremo se vuelve palimpsesto na compilação de diferentes registros orais e escritos, fingidos ou não.

O capítulo da pesquisadora e docente da UnB, Ana Rossi tem como foco a tradução da obra Ayvu Rapita de Leon Cadogan no processo de transformação semiótica que ao passar da oralidade à escritura possibilita a reflexão sobre a questão ética.

Uma viagem pelo tempo é o que propõe a professora Luizete Guimarães Barros da UEM, também estudiosa do romance histórico em uma arguta reflexão sobre o autoconhecimento em Yo el Supremo. Apoiando-se em referenciais como Derrida; Jorge L. Borges e Schopenhauer levanta o tema de como a literatura (no caso o romance histórico) pode forjar os fatos, parodiar o conhecimento e submeter a história à perspectiva, ou ao desejo do Eu (Yo, el Supremo) enunciador. E com um propósito de reler a história do Paraguai, Izel Talavera lê a obra de Roa Bastos quarenta anos depois como uma metáfora que, em realidade, interpelava a ditadura de Stroessner.

4. Divulgação

O legado desse colóquio revela como um romance continua propondo em cada leitor diferentes abordagens da obra e com estes Anais, um pequeno evento localizado na Tríplice Fronteira pode obter amplitude a partir dos Anais eletrônicos e ir alimentando outros enigmas sobre o alcance da interdisciplinaridade proposta. 

Os trânsitos culturais que a interdisciplinaridade combina ao tratar do poder ficcionalmente e no presente com a assimetria cultural que subjuga, desloca e reprime outras culturas, línguas e costumes permitem oferecer a uma obra rotulada como subgênero da literatura latino-americana (romance de ditadores), após quarenta anos a transposição de limites disciplinares, geopolíticos e temporais.

Leon Cadogan, antropólogo autodidata como Nimuendaju, residente no Paraguai, partiu de uma prática pioneira no campo para construir um objeto de conhecimento sobre as bases da epistemologia que comanda os hábitos sagrados e cotidianos dos Guarani do Guaira: Ayvu Rapita, obra tão pouco debatida nas universidades, em cursos de Letras da região. Recorrendo a informantes orais e adotando procedimentos especiais em sua “tradução’ do oral para o escrito; do guarani para o Espanhol, continua ainda desconhecido nos meios literários. O pioneirismo em criar um modelo tradutório entre a oralidade à escritura implica fazer a mediação intercultural... E Leon Cadogan traiu ao ouvir os mitos, os hábitos Mbya Guarani, traduzindo-os aos não-indíos e sofrendo as conseqüências deste ato?

A pergunta permanecerá, mas é graças à tradução e publicação de Ayvu Rapita que hoje é possível oferecer às lideranças do Guaira o velho livro, por exemplo, ao cacique Ilson Soares para que nos dê sua opinião e algum dia comente se o sagrado ali traduzido em Ayvu Rapita implica, não uma tradução, mas uma traição discursiva, baseada na velha fórmula de apropriação cristã dos mitos; ou se, pelo contrário, contribui como memória dos Mbya Guarani que pode aprofundar hoje o conhecimento das lideranças políticas e espirituais da região sobre um pensamento ancestral de outros líderes?

A marca do evento só vai poder ser analisada a partir da repercussão junto a jovens estudantes, docentes, internautas em geral, que possam se interessar também por chaves de leitura para um texto reconhecido da comarca cultural do Rio da Prata Yo el Supremo e que transcende a limitação nacionalista do campo da  literatura ou a outro desconhecido como Ayvu Rapita.  Mas, além disso;

Yo el Supremo,  por ter sido escrito durante a primeira fase de exílio de Roa Bastos em Buenos Aires,  permite um diálogo entre passado e presente;  a subjetividade, o arquivo e a memória; o pensamento Guarani  e sua resistência; a tradução e as poéticas ameríndias; o repertório como patrimônio intangível, sem apartar-se das questões contemporâneas referentes aos direitos territoriais  que  transformam  os indígenas,  em deslocados, sem terra  ou invasores de seus territórios ancestrais usurpados  pelo capital expansionista no campo.

5 .  Documentando a voz

Concluindo, o evento contou com o pré-lançamento do documentário Guataha (2014), dirigido por Clarissa Knoll, que tentou propor uma prática audiovisual (de mediação) para dar visibilidade às poéticas ameríndias, no caso a Ava Guarani de Tekoha Ocoí. Entendendo o repertório como patrimônio intangível, o filme pretendia trazer questões contemporâneas referentes aos direitos territoriais que transformam os indígenas em deslocados, sem terra ou invasores de seus territórios ancestrais, usurpados pela hidroelétrica necessária para regar o capital expansionista no campo.

Em um balanço posterior fica a percepção de que eventos interdisciplinares como esse que se propôs a imbricar duas cátedras (Cátedra Latino-Americana Augusto Roa Bastos de Literatura & Cátedra Latino-Americana León Cadogan: História, Sociedade e Cultura Guarani) dependem ainda de que se invente uma cultura, na UNILA, o que demanda tempo e outras práticas. No entanto os Anais têm a finalidade de dar continuidade a essa proposta, a fim de que a oralidade das lideranças indígenas do Guaira; os artigos dos pesquisadores diminuam a sensação de ter atingido ainda poucos estudantes ou interessados. É certo que, ao longo dos dois dias de debate, o pico de público, provavelmente, tenha atingido ao redor de cem pessoas na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, entretanto, o evento pode ter sido o primeiro de uma série que combine a literatura como produto simbólico que possibilita a interação com outras áreas que vão do saber ao poder e vice-versa. Precisamente porque o romance Yo el Supremo não se centraliza apenas em um personagem histórico do Dr. Francia, não trata exatamente da história de um político, mas fala ao eu de qualquer um de nós, que podemos esquecer da solidariedade e do tratamento digno que é preciso conferir aos demais e, sermos, sem perceber, um  ditador (a) para o outro. Mas também não é só isso o que Yo el Supremo cria. Ele conta o perigo de um discurso sem escuta, aleatório, de uma só via, a do monólogo, que funda o medo e pode estar sempre presente à espreita, se não nos acautelarmos! Foi Antonio Candido quem disse que a literatura era um direito de todos os cidadãos porque nos humanizava. A arte confere humanidade ao ser humano, por isso é preciso ampliar a idéia de literatura para o conceito proposto por Wolfgang Iser, “como aquilo que torna presente o que está ausente, graças ao conhecimento e à memória.”

Deste modo, o fio que percorreu o evento consistia em reunir reflexões sobre o real e o simbólico, o fictício e o imaginário e outros elementos da realidade atual como a resistência indígena no Paraná que ao divulgar sua luta pela sobrevivência de costumes; pensamentos ou poéticas ameríndias estariam dialogando com projeções inseridas na obra de Augusto Roa Bastos. Vale mais o exemplo. No discurso Do xamã Guilherme Tupã Ñevangaju Rocha há o mito da criação dos Ava Guarani. A literatura se abastece de mitos. Há quem diga que a literatura ocupou na modernidade o papel dos mitos. No romance se oferece como um relato dos Nivacle o mito das três almas. O espaço pluriétnico em que desponta uma racionalidade não ocidental articula-se- na obra Yo el Supremo   e com seu discurso enciclopédico os fragmentos se mesclam aos silêncios, operando-se, entre múltiplos “Yo”, que semelhante  à capacidade  dos xamãs de penetrar  em diferentes mundos.

Há quem veja na literatura que opera, em fluxo aberto, no tempo e no espaço, entre múltiplos “Yo” a articulação de elementos premonitórios como a ideia de que:

“El Paraguay es el centro de la América Meridional, núcleo geográfico, histórico, social, de la futura integración de los Estados independientes en esta parte de América. La suerte del Paraguay es la suerte del destino político americano (ROA BASTOS,1997:107).

Pensamento como o veiculado acima também cabe na literatura como discurso que congrega a memória mítica ou profética profecia, o que, em vista de alguns fatos políticos do último lustro, que teriam no golpe parlamentar contra o presidente Fernando Lugo, no Paraguai em junho de 2012 o início de uma orquestração que, em diferentes tentativas  tenta criar um clima de instabilidade política em países do Cone Sul e em uma onda que se aguça em junho de 2013 tem agora, em pleno período pós-eleitoral com uma rejeição do resultado da eleição para criar uma crescente suspeição que, paradoxalmente, vem articulada pela maioria parlamentar no Congresso que aposta no menosprezo ás instituições democráticas de um Estado de direito que deveriam defender.  Elementos de manipulação do poder político em diversos espaços latino-americanos confirmam a necessidade de uma leitura atual de Yo el Supremo.

Deste modo entre as reflexões que foram propostas e que aqui figuram a começar pelos discursos orais funcionariam como Peme'ẽ jevy ore ñe'ẽ (Devolva nossa palavra!) para dar continuidade à tarefa pioneira de Leon Cadogan que nos interessa também destacar não apenas como as vozes da resistência indígena na Tríplice Fronteira como também a de nos ensinar a pensar a partir de outro paradigma como o do cacique Ilson Soares do Teko´a  Y Hovi  do Guaira;  entre questões antropológicas e interculturais que envolvem a recepção da obra Ayvu Rapita (1959) de Leon Cadogan.

Soterrado no coração da América meridional constituiu-se um povo originário das culturas tupi-guarani da qual somos também oriundos e de uma colonização que ainda não terminou. Ao falar da história do Paraguai, Roa revisa um panorama de quinhentos anos.

É Angel Rama que atribui à obra um tom iracundo que não se refere apenas ao Doutor Francia, mas também ao autor cujo combate não se estabelece com a sociedade, mas com a literatura e o meio intelectual em que viveu em seus tempos de exílio. É uma tarefa complexa levar adiante uma literatura viva, feita de mitos, oralidades, compilações e crenças, profecias e relatos. Por isso há dois debates que se superpõem e se confundem no livro: o do Ditador e o do Escritor,  Cada um dos dois ruma adiante com seu espírito beligerante  e cumpre sua própria luta seus campos específicos.

Foram atingidos jovens estudantes, técnicos, docentes, bem como leitores em geral, interessados não apenas em chaves de leitura para um texto reconhecido da comarca cultural do Rio da Prata? O evento foi capaz de transcender a fronteira da disciplina literatura para a interdisciplinaridade? Houve compreensão de uma necessidade de transcender a fronteira nacionalista que tradicionalmente se impõem  ao campo da  das humanidades e da literatura, em particular?

Assim Yo el Supremo, escrito em Buenos Aires,  durante a primeira fase de exílio de Augusto Roa Bastos permitiria  um diálogo entre passado e presente;  a ficção, o arquivo e a memória; o pensamento Guarani em Ayvu Rapita, sua tradução e o discurso de uma luta real no século XXI,  de vidas que atuam com base a uma resistência cotidiana.

As questões antropológicas e interculturais que envolvem a recepção desse Popol Vuh da Tríplice Fronteira de Leon Cadogan exigem pesquisas e diálogos atuais que contem, implicitamente, a necessidade da escuta às vozes Guarani cuja semente da palavra cobra vigor na luta pelo direito de viver, pensar e criar: Kuaarara.

 

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