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Pesquisa traça perfil dos cães com Leishmaniose Visceral em Foz do Iguaçu

Dados foram obtidos a partir da análise de mais de 12 mil exames de detecção da doença, realizados entre 2015 e 2020 pelo CCZ
publicado: 30/08/2023 12h49, última modificação: 20/09/2023 10h56
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Orientação para evitar leishmaniose é manter cães sem acesso livre à rua e usando coleiras repelentes

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Biociências da UNILA traçou o perfil dos cães acometidos pela Leishmaniose Visceral Canina (LVC) em Foz do Iguaçu. O estudo, conduzido a partir da análise de dados de 12 mil cães atendidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) entre 2015 e 2020, traz informações que podem auxiliar a estabelecer estratégias de controle dessa doença, considerada endêmica no município e que também pode ser transmitida a seres humanos.

Orientação para evitar leishmaniose é manter cães sem acesso livre à rua e usando coleiras repelentes
Orientação para evitar leishmaniose é manter cães sem acesso livre à rua e usando coleiras repelentes
No período analisado, 38% dos cachorros testados pela rede pública testaram positivo para a LVC. A médica veterinária do CCZ Luciana Chiyo tabulou e analisou os dados das fichas clínicas desses animais e concluiu que algumas características dos cães são potenciais fatores de risco. “A cor da pelagem, por exemplo, mostrou-se ser um fator de risco significativo. Cães com pelagem escura apresentaram 41,2% de positividade”, explicou Luciana, que defendeu a dissertação de mestrado em novembro de 2022. O estudo foi publicado pela revista Acta Tropica.

Além da cor, o tipo de pelagem também pode ser um fator de risco. Cachorros com pelo curto tiveram 41,2% de incidência da zoonose. Já entre os de pelo mediano, a incidência foi de 31,3%, e entre os de pelo longo, 22,7%. Cães machos foram mais infectados do que as fêmeas, com 41,1% e 35,7% de positividade, respectivamente. E a LVC é mais comum em animais mais velhos, maiores de 4 anos de idade.

Outro fator de risco é o tamanho do animal. Os casos positivos foram maiores em cachorros de porte grande (41,7%) e porte médio (44,8%). Cachorros pequenos apresentaram 32,9% de exames positivos. “Como a Leishmaniose Visceral é transmitida pela picada de um inseto, o mosquito-palha, provavelmente a questão do porte está relacionada à exposição ao vetor. Um animal grande fica mais exposto e tem mais chances de se infectar”, salienta Luciana.

A pesquisa também realizou uma análise espacial e mostrou que há casos positivos de LVC em todas as regiões de Foz do Iguaçu. “Esse tipo de estudo serve para que o poder público saiba onde estão e como estão distribuídos os casos humanos e caninos na cidade. Em posse destes dados, é possível estabelecer estratégias de controle, como vigilância entomológica, ações de educação em saúde para a população e controle populacional canino, especificamente com ações de castração de machos e fêmeas, principalmente os que vivem na rua”, reforça o orientador da dissertação, professor Kelvinson Viana.

 

Prevenção passa por cuidados com animais e com o ambiente

Diferença entre o mosquito que transmite a dengue, Aedes aegypti, e o mosquito-palha, vetor da leishmaniose visceral canina/ Imagem cedida por Luciana Chiyo
A Leishmaniose Visceral Canina é uma doença parasitária transmitida por um inseto popularmente conhecido como mosquito-palha, que é muito comum em ambientes quentes e úmidos. Os cães infectados exercem papel importante na transmissão, já que servem como reservatório da doença e contribuem para a transmissão em humanos. “O cão é o principal reservatório em área urbana e é um reservatório muito eficiente. Ele tem muita leishmania, muito protozoário. E à medida que você tem muitos cães infectados, você começa a ter a transmissão para o homem”, explica Luciana Chiyo. Em Foz do Iguaçu, a incidência de casos humanos, de 2015 a 2020, foi de 1,39 casos por 100 mil habitantes, com letalidade de 31,8%.

A prevenção da LVC passa por cuidados com o ambiente e com os cachorros. Ao contrário do Aedes aegypti mosquito que transmite a dengue e que se reproduz em água parada –, o mosquito-palha utiliza matéria orgânica para se desenvolver. Portanto, é importante manter os quintais limpos e livres de acúmulo de folhas, frutas, fezes de animais e outros entulhos que favorecem a umidade do solo, onde o vetor se reproduz.

Para os tutores de cães, a orientação é que mantenham os animais sempre no domicílio e sem acesso livre à rua.

Luciana Chiyo
Luciana Chiyo é médica veterinária no CCZ de Foz do Iguaçu e mestre em Biociências pela UNILA
E a principal forma de prevenção contra a LVC é o uso de coleiras repelentes à base de Deltametrina 4%. “Quem tem cão hoje em Foz do Iguaçu, que é uma zona endêmica, tem que obrigatoriamente manter esse animal com coleira repelente, mesmo se não tiver um diagnóstico positivo. A coleira diminui as chances de o animal ser picado, mas ela também atua como inseticida. Então, quando o vetor picar o cachorro com a coleira, ele acaba morrendo mais cedo, cortando o ciclo da doença”, salienta Luciana, que lembrou que a coleira tem prazo de validade e que precisa ser trocada para manter a efetividade do produto.

Caso o tutor suspeite que seu animal possa estar com LVC, ele pode agendar o teste gratuitamente no CCZ, por meio do telefone (45) 2105-8730. Os principais sintomas da leishmaniose em cães são emagrecimento, pelo opaco, feridas na pele e crescimento exagerado das unhas. “Atualmente, o Ministério da Saúde proíbe a eutanásia de cães com LVC. Embora seja uma doença sem cura, hoje já existe um tratamento que permite que o animal viva com qualidade. Porém, nós sabemos que é um fármaco de custo alto e pouco acessível para grande parte da população. Por isso, nossa prioridade, no CCZ, é sempre trabalhar na perspectiva da educação em saúde e na prevenção, para que os tutores cuidem de seus cães, evitando o contágio da doença”, diz a pesquisadora.