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Trabalho de estudantes de Cinema e Audiovisual ganha prêmio internacional

"Os relatos das grandes águas" foi vencedor no 3º Concurso Audiovisual Ibero-Americano de Divulgação Cultural e Científica
publicado: 29/08/2023 17h30, última modificação: 31/08/2023 12h52

O projeto "Os relatos das grandes águas", trabalho de conclusão de curso de um grupo formado por quatro estudantes de Cinema e Audiovisual da UNILA, ganhou o prêmio de melhor podcast no 3º Concurso Audiovisual Ibero-americano de Divulgação Cultural e Científica, realizado no México, no início de agosto.

O concurso faz parte da programação da Cumbre Iberoamericana de Medios Públicos e é promovido pela Asociación de las Televisiones Educativas y Culturales Iberoamericanas (Atei). No total, participaram 234 trabalhos, distribuídos em 9 categorias. “Os relatos das grandes águas” foi vencedor na categoria Programa de Rádio ou Podcast Científico Cultural.

O podcast – ou cineáudio, como o grupo define – acompanha a história de três amigos em uma viagem pelas lendas das Cataratas do Iguaçu e está dividido em três episódios, de aproximadamente 15 minutos cada um. O primeiro e o segundo, contam duas lendas guaranis para a formação das cataratas e o terceiro é reservado para um “debate” sobre a cultura guarani. Para o concurso, foi enviada uma versão menor do primeiro episódio. Os demais estão sendo finalizados.

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Giovana, Oriana e Vinícius: projetos com muitos desafios

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Francisco: O som constrói um universo

Indo na contramão, o grupo optou por apostar no som em detrimento da imagem para contar as histórias guaranis que narram a formação das Cataratas do Iguaçu. “Esse é o primeiro trabalho nesse formato [no curso de Cinema e Audiovisual] e trouxe um pouco da vontade de mostrar que não é preciso utilizar só um sentido. De mostrar para as pessoas que cinema não é só o telão”, conta Vinícius Boita, que dirigiu os atores e é o responsável pelo som direto. Ele diz que sempre foi atraído pelo sonoro durante o curso. A mesma preferência de Francisco Javier Criollo Leon, responsável pela montagem e edição. “O som pode ser totalmente imersivo. Permite muita exploração estética. Pode levar você a lugares que não precisam do recurso visual. O som é muito deixado de lado”, comenta Francisco.

Apostando no áudio, o grupo entendeu que poderia entregar um produto com a capacidade de ser percebido de diferentes maneiras. “O som permite essa liberdade em muitas questões. Nesse formato a gente conseguiu ter a liberdade da fantasia, de trazer outras imagens”, completa Oriana Stiuv, responsável pela produção.

Giovana Ribeiro, que ficou encarregada de produzir o roteiro e direção de arte, relata que optar pelo áudio impôs desafios, mas trouxe novas possibilidades. “Tive uma liberdade criativa muito maior, porém, acho que foi um desafio conseguir mesclar essa liberdade com o que era possível. O grande desafio foi fazer um roteiro que criasse esse imaginário no ouvinte”, diz.

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O objetivo dos estudantes ao escolher contar as lendas das cataratas foi “deixar algo para Foz”. “A gente veio, estudou aqui. A gente ganha conhecimento, ganha experiência, ganha um título. E pensamos em como retornar isso pra cidade, pra região”, diz Oriana, que é da Venezuela, assim como Francisco. Vinícius veio do Rio Grande do Sul e Giovana é de Foz do Iguaçu. “A gente quis de forma divertida, lúdica e artística criar uma aproximação entre esses dois mundos, que é o mundo do iguaçuense, do dia a dia, com as narrativas originárias, a cosmovisão guarani”, resume Francisco.

O primeiro roteiro escrito por Giovana era para um filme de curta-metragem. “Vimos que, na prática, não ia funcionar”, conta ela. O roteiro foi adaptado e o grupo percebeu que teria de focar em outras soluções – interpretação, vozes, som ambiente. “A gente tinha que inserir algumas informações para ajudar o ouvinte a identificar, entender melhor e conseguir acompanhar a história”, explica Oriana. “Foi uma preocupação muito intensa com a questão da voz”, completa.

A decisão de optar pelo cineáudio foi impulsionada pela pandemia de Covid-19 que impôs limites para todos. “A gente estava no meio da pandemia. Fazer um projeto de TCC de curta-metragem envolvia toda a questão de juntar as pessoas, sair de casa, correr riscos e ter de fazer todo um plano de cuidado. Então pensamos em algo que pudesse ser feito a distância”, comenta Oriana.

Para não correr o risco de usar termos incorretos ou informações que pudessem originar conflitos, o grupo visitou aldeias indígenas da região para ouvir e aprender como direcionar as falas. “A gente está muito consciente de que somos dois brasileiros e dois venezuelanos não indígenas, mas a gente quer contar a história que achamos importante”, frisa Francisco. “Fizemos uma pesquisa para aprofundar alguns conhecimentos da cultura guarani, não só em livros, mas conversando com eles, para entender um pouco a perspectiva deles para o que a gente estava fazendo”, pontua Giovana. Para isso, a consultoria do professor Clóvis Brighenti, dos cursos de graduação e pós-graduação em História, foi fundamental. “Ele ajudou muito a entendermos essa questão da mitologia. Entendemos que não existe uma única versão para a lenda e que é mais uma questão de passar o conhecimento, os valores, de geração em geração”, diz ela.

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Sabendo disso, os estudantes buscaram outras versões para a história que conheceram com os guaranis da região da fronteira. “Foi bem difícil, não tem muita bibliografia, foi um dos maiores desafios”, conta Oriana. Com a ajuda da orientadora do trabalho, Kira Santos Pereira, eles encontraram um livro sobre mitologia guarani, editado na Argentina, que apresentava uma “versão um pouco mais épica, um pouco mais de gênesis do mundo, embora mais direcionado às cataratas”, diz ela. Cada uma dessas histórias ganhou um episódio e, o terceiro “é um resgate da cultura e da importância da tradição oral para a formação do imaginário coletivo na cidade”, descreve Francisco.

A ideia inicial era ter guaranis interpretando os personagens que conduzem as histórias, mas uma série de dificuldades impossibilitou essa participação. “Porém, a gente conseguiu uma pessoa, o Antônio, ele faz parte de uma aldeia de Porto Iguaçu. O Antônio faz um dos deuses e a participação dele trouxe muita riqueza para o projeto”, conta Oriana.

Da produção à finalização do primeiro episódio, o trabalho durou três semestres. O episódio vencedor está disponível temporariamente na página do prêmio no Concurso Audiovisual Ibero-Americano de Divulgação Cultural e Científica. Assim que a série for finalizada, estará disponível nas plataformas digitais.

O concurso no qual “Os relatos das Grandes Águas” foi premiado reúne produções de países ibero-americanos. “Não tínhamos expectativa de ganhar. Ser nominados já era bastante”, comenta Oriana. Francisco lembra que havia concorrentes com produções realizadas em parceria com veículos de comunicação. Com os mil dólares do prêmio, o grupo pretende concluir os dois episódios restantes, aprimorando alguns itens. O material está em fase de edição.