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UNILA e os caminhos da Integração Regional

Reitora Diana Araujo Pereira publica texto sobre os 15 anos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Confira.
publicado: 15/04/2025 15h01, última modificação: 15/04/2025 15h01

O sonho da integração, na região trinacional mais populosa das Américas, vem percorrendo um longo caminho, composto por muitas etapas. Dois importantes momentos foram, certamente, a construção da Ponte da Amizade (1956-1965), que completou 60 anos, e a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional (1974-1984). Ambas grandiosas obras de engenharia, respondiam ao modelo de integração desenvolvimentista, próprio da época. Naquele período, tanto o Brasil como o Paraguai, sob regimes ditatoriais, visavam os aspectos econômicos da cooperação, minimizando os impactos culturais, sociais e ambientais decorrentes de tais projetos.

Com o retorno da democracia, o entendimento sobre a integração regional se altera e abre espaço para novas políticas públicas que ampliam seu escopo e trazem a marca da cooperação responsável e solidária. Quase 60 anos depois dos primeiros passos para a construção da Ponte da Amizade e da assinatura do Tratado de Itaipu, em 2010 é fundada, em Foz do Iguaçu, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), no local onde anteriormente viviam os barrageiros – operários construtores da barragem do lado brasileiro de Itaipu. Rodeada pela biodiversidade remanescente da mata atlântica, com o Parque Nacional do Iguaçu, a UNILA está localizada numa cidade pluricultural, conectada à Argentina pela Ponte da Fraternidade e ao Paraguai pela Ponte da Amizade.

Esta universidade, aberta para a América Latina, é parte daquele sonho da integração regional, que anteriormente ainda não tinha este nome, mas já habitava o imaginário dos nossos antepassados. Basta pensar no caminho de Peabiru, interligando oceanos e rotas, entre o mundo inca e o guarani; em Nuestra América, do cubano José Martí, ou na Patria Grande, do venezuelano Simón Bolívar, entre tantos outros pensadores, artistas e revolucionários que cruzaram nosso continente sonhando com a integração.

Este mesmo sonho se atualiza, novamente, no início da década de 80, quando já se avistava o final da obra de construção da barragem, e vários intelectuais, entidades civis, atores políticos e sociais da cidade de Foz do Iguaçu começavam a se preocupar com o futuro do desenvolvimento local e a sua emancipação econômica. Segundo publicação do Estado de São Paulo, de 25 de maio de 1982, “a criação de uma universidade latino-americana, com inúmeros cursos técnicos, é a primeira ideia de empresários, políticos, diplomatas e estudantes da região de Foz do Iguaçu, ante a ameaça de esvaziamento econômico da região”.

Em 28 de maio do mesmo ano, o jornal ABC Color, de Assunção, também divulgava a iniciativa e afirmava que “diversos sectores de la población de Foz y de Presidente Stroessner (atualmente Ciudad del Este) están pensando llevar adelante el proyecto de creación de la ciudad universitaria.”

O que aconteceria com as inúmeras estruturas e edificações levantadas dos dois lados da fronteira, para erguimento da Usina? Como a recém-criada hidrelétrica poderia chegar a compensar os danos ambientais e sociais causados pela sua construção? Como seria possível minimizar seus “reflexos negativos” para a população local? Uma ideia que prosperou foi, justamente, a de utilizar as edificações que ficariam esvaziadas para abrigar uma cidade universitária em ambos os lados da fronteira, unida pela Ponte da Amizade.

Em agosto de 1981, a Folha do Oeste do Paraná divulgava a proposta, apresentada em Curitiba em uma “reunião de alto nível”, de transformar a Vila A, em Foz do Iguaçu, em uma cidade universitária, “onde abrigaria estudantes do Brasil – Argentina – Paraguai e outros países. A ideia seria atrair milhares e milhares de estudantes de toda a América para preencher o vazio que teremos após o término da obra.”

A partir desta apresentação em Curitiba, uma comissão de trabalho foi formada e a ideia foi sendo ampliada e ganhando adesão em diversos setores da sociedade local.

Naquele momento, o projeto então denominado “Universidade Latino-Americana”, “Centro Interamericano de Estudos e Pesquisas” ou “Centro Tecnológico Latino-Americano”, pela Comissão Provisória composta por atores brasileiros e paraguaios, dá o pontapé inicial a um longo processo que levaria muito mais do que dez anos, na verdade quase 30 anos, para se concretizar.

A Câmara de Comércio Brasil-Paraguai foi uma instância importante na circulação destas ideias e na tentativa de envolvimento do lado paraguaio, buscando apoio junto ao Governador do Alto Paraná, posteriormente, em 1996, junto ao próprio Presidente da República do Paraguai, para a implantação em Hernandarias de uma cidade universitária, instigando o poder paraguaio a seguir na mesma direção: o aproveitamento das edificações utilizadas durante o processo de construção de Itaipu. Para Hernandarias, a proposta visava a criação de um “Centro Latino-Americano de Cultura”, denominado de “Casa de Roa Bastos”, projetando, de forma muito contundente, uma vinculação marcada pela complementariedade entre ambos os espaços – Hernandarias e Foz do Iguaçu –  para a criação da “Universidade das Américas”.

Em 9 de agosto de 1996, a Itaipu Binacional publica, por meio de sua assessoria de imprensa, a notícia de que doaria 14 alqueires para a construção da então chamada “Universidade das Américas”, para que o governo do Estado do Paraná executasse a sua instalação. “O complexo formado por alojamentos, dois refeitórios, lavanderia e parque esportivo, além de uma área de treinamento, utilizado pelos operários que trabalharam na construção da Usina.” O anúncio termina dizendo que, “com a Universidade das Américas, o governo do Estado pretende criar um centro de excelência voltado para o desenvolvimento científico-cultural do Mercosul.”

Foi necessário esperar décadas para que a UNILA fosse criada, em 2010, no segundo governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O projeto de criação da UNILA, por um lado integrava as políticas de ampliação do acesso ao ensino superior do Governo Federal; por outro, se constituía como uma política de integração inovadora, baseada na emancipação cultural, científica, política e econômica da região. Voltada não apenas ao desenvolvimento econômico, a UNILA idealizada naquele momento unia a internacionalização da educação superior ao caráter popular e crítico de uma nova visão da integração regional. Portanto, em 2010 a universidade finalmente deixa de ser uma boa ideia e passa a ser realidade para a sociedade local.

Revisitar essa história demonstra que a UNILA é fruto de um longo caminho, composto por muitas fases e pavimentado por muitas pessoas, movimentos e instituições públicas. Foram muitas mentes e corações embalando este sonho, para que ele se tornasse realidade. Foi necessária muita vontade política e disponibilização de recursos financeiros para dar forma a um projeto tão inovador e ousado. E esta forma, moldada pelas mãos do célebre arquiteto Oscar Niemeyer – também ele um sonhador da integração dos povos latino-americanos – já desponta no horizonte de Foz do Iguaçu, contribuindo para a consolidação da Universidade e trazendo inúmeros benefícios para a economia, a cultura e a educação local e regional. Vale lembrar que o investimento nesta obra, nosso Campus Arandu, expressa o reconhecimento e a valorização do papel social da universidade pública e demonstra a importância geopolítica de Foz do Iguaçu e região, pois certamente será um atrativo turístico e cultural para mobilizar ainda mais a sua vocação de “coração da América do Sul”.

Hoje, a UNILA tem mais de cinco mil estudantes, de mais de trinta nacionalidades, e vive um momento de consolidação e expansão de suas atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação! Com a retomada das políticas voltadas ao projeto de integração regional, dentro e fora da Universidade, a UNILA confirma a vocação desta região fronteiriça: um coração pulsando conhecimento, cultura e tecnologia para toda a América Latina e Caribe.

A UNILA é nossa! É parte fundamental da história de Foz do Iguaçu e da fronteira trinacional. E vem para projetar a região ainda mais como espaço de trocas e intercâmbios, de sinergia e inovação, de cooperação e solidariedade!