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Vida Universitária

Visita técnica aproxima alunos à realidade rural da região

Discentes de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar conheceram histórias e práticas dos agricultores do Assentamento Companheiro Tavares
publicado: 30/06/2025 17h43, última modificação: 01/07/2025 10h14
Exibir carrossel de imagens Visita possibilita contato dos alunos com as práticas desenvolvidas no campo  (Foto: Moisés Bonfim)

Visita possibilita contato dos alunos com as práticas desenvolvidas no campo (Foto: Moisés Bonfim)

A realidade produtiva do Assentamento Companheiro Antônio Tavares, do MST, que inclui práticas de cultivo orgânico e agricultura familiar, em um contexto que remete à luta pela terra, esteve em evidência em uma visita técnica feita por alunos do curso de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar (DRUSA) da UNILA. Acompanhados por docentes, os cerca de 50 discentes — muitos deles em sua primeira experiência de campo — puderam vivenciar de perto as dinâmicas da produção agrícola, saber detalhes da trajetória das famílias assentadas e ter uma noção sobre reforma agrária e políticas públicas do setor. A atividade evidenciou ainda como o conhecimento científico, propiciado pela universidade, e os saberes construídos diariamente pelos agricultores podem ser complementares. 

Pela primeira vez incluída na agenda de viagens técnicas do curso, a atividade no assentamento – às margens da BR-277, em São Miguel do Iguaçu – teve como fim promover uma formação extraclasse. Como explica Valdemar João Wesz Junior, um dos professores que acompanharam os acadêmicos, por meio deste contato mais próximo com os agricultores busca-se conectar o conteúdo teórico com a realidade dos territórios rurais da região. “É um exercício de tentar conectar o curso para além da dimensão mais teórica, com atividades práticas do cotidiano. Que os alunos possam, por exemplo, conhecer mais sobre a região; falar com os agricultores; conhecer a perspectiva dos agricultores sobre os temas vinculados ao desenvolvimento rural e à segurança alimentar”, explica. 

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Visita possibilita contato dos alunos com as práticas desenvolvidas no campo (Foto: Moisés Bonfim)

Segundo o docente, o contato com assentamentos da reforma agrária permite explorar múltiplas dimensões do curso, que oferece disciplinas sobre história agrária, organizações sociais, políticas públicas e gestão de projetos. “Têm várias dimensões que, de alguma maneira, a gente consegue contemplar. É muito interessante de fato, por exemplo, escutar os agricultores, que vêm de diferentes lugares; escutar sobre o período do acampamento e, depois, de assentamento”, contextualiza Junior, que já acompanhou visitas técnicas dos alunos de DRUSA não apenas no lado brasileiro da região trinacional, mas também no Paraguai e na Argentina. 

 Universidade e campo

A conexão entre a Universidade e o campo, possibilitando vivenciar práticas e conhecer realidades, também foi lembrada por Lilian Silva Freitas. Aluna do sétimo semestre de DRUSA, ela afirma já possuir certa trajetória, mais pautada na teoria. No entanto, por meio da visita foi possível vislumbrar possibilidades de atuação. “O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é muito importante no Brasil, é muito válido para as famílias. Estando aqui, a gente consegue ver a força das famílias, por mais que haja dificuldades, vários empecilhos políticos e tudo mais”, analisa. Força que, segundo ela, está na vontade de trabalhar no campo, tornar a terra produtiva e rentável. “Nós, de DRUSA, conseguimos ver de que forma podemos atuar também. Ter esse retorno social”, complementa a discente, que destaca também a visão da terra como um bem coletivo defendida pelo movimento. 

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Aluna do primeiro semestre, Sofía viu na visita uma forma de aumentar conhecimentos sobre reforma agrária (Foto: Moisés Bonfim)

Aluna do primeiro período, Sofía Sansa, colombiana da etnia nasa, viu na visita uma forma de conhecer um pouco mais o Brasil e novas práticas. “Para meu curso é muito importante, já que poderei implementar novos conhecimentos sobre reforma agrária”, analisa. Particularidade que, em relação a Simone Cristina da Conceição Oliveira, se deu no sentido oposto.

Filha de agricultores, Simone viveu desde os 12 anos de idade em um acampamento, “debaixo de barracos de lona” e ao lado dos familiares. Um período depois, seus familiares foram assentados em Ramilândia, mas ela permaneceu no acampamento e só obteve uma faixa de terra em 2009, justamente no Assentamento Companheiro Antônio Tavares.

Atualmente mestranda do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento (PPGPPD) da UNILA, Simone considera que a presença da Universidade no assentamento é essencial para fortalecer a pesquisa comprometida com os territórios populares. “Essa integração do assentamento com a UNILA é muito rica. Tanto em relação à produção de conhecimento, quanto na divulgação do assentamento, da produção”, contextualiza. Em sua avaliação, essa relação torna possível levar o debate da reforma agrária para o meio acadêmico e para o campo da pesquisa. Além disso, é uma forma de mostrar que de fato a reforma agrária produz “respostas no campo” que precisam ser divulgadas. “Eu deixo um indicativo para que se construa uma parceria de continuidade. Para que a cada semestre tenha esse espaço de visitação, de debate, de pesquisa dentro do assentamento, para conhecer as experiências que são várias, e são riquíssimas, de produção”, afirma.  

Pesquisa

Como mestranda da UNILA, Simone pesquisa justamente a produção e comercialização dos produtos da reforma agrária nos assentamentos Antônio Tavares e Olga Benário (Cascavel), buscando entender como as políticas públicas dialogam — ou não — com a realidade dos produtores. “Principalmente nessa questão de ampliar os mercados. Além do mercado institucional, ampliar para outros espaços, como feiras e o Armazém do Campo, que são experiências novas do movimento sem-terra. Eu, de fato, estou fazendo a minha pesquisa e o meu curso para agregar, para trazer coisas novas para o assentamento”.

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Experiência permite explorar múltiplas dimensões do curso (Foto: Moisés Bonfim)

A característica de adquirir conhecimentos para aplicá-los no próprio território pôde ser observada pelos alunos de DRUSA ainda por meio dos relatos dos moradores. Filha de Vera Lúcia e de Celso José, pioneiros do assentamento, Tatiane Schardosin se formou em Nutrição justamente para ser a responsável pela produção de melado da agroindústria familiar instalada na propriedade dos pais.

Como nutricionista responsável, ela acompanha toda a linha de produção, visando a manter a qualidade dos produtos. “A gente sabe que não é só fazer a tabela nutricional que os rótulos de alimento têm. É preciso esse cuidado na manipulação, pois a gente precisa de boas práticas em qualquer alimento, para agregar o valor”. Atividade da família desde os avós de Tatiane, a produção de melado recebeu a certificação orgânica e é distribuída em estabelecimentos da região.