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UNILA recebe R$ 1 milhão em edital do Procel para construção de laboratório

Sustentável e com alta eficiência energética, edificação foi projetada por equipe formada por pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas
publicado: 05/11/2020 17h20, última modificação: 05/11/2020 18h35

O projeto Ombo'éva: Green Smart Building, uma edificação sustentável e de alta eficiência energética, acaba de ser contemplado com R$ 1 milhão para sua construção. Os recursos são provenientes do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), da Eletrobrás. O prédio, de aproximadamente 300 metros quadrados, vai abrigar um laboratório para realização de impressões 3D. O prazo para a construção é de até 24 meses.

O projeto foi desenvolvido entre dezembro de 2019 e janeiro deste ano por uma equipe de 13 pessoas, que inclui docentes e estudantes da UNILA e parceiros da iniciativa privada. “Esse projeto foi uma construção coletiva, colaborativa e sinérgica. Surgiu essa oportunidade e a gente uniu forças”, explica o docente do curso de Engenharia de Energia e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, Oswaldo Hideo Ando Júnior.

No resultado inicial, divulgado em maio, o projeto da UNILA ficou em quinto lugar – o edital contemplava apenas os quatro primeiros classificados –, mas um dos vencedores foi desclassificado. Um novo edital, contemplando a UNILA, foi publicado no final de outubro. “Foi inesperado”, diz o professor.

A chamada pública contemplou construções Nzeb (Near Zero Energy Building  “construções com energia quase nula", em tradução livre), que são edificações de alta eficiência energética, com geração distribuída associada, de fonte renovável e que alcançam um balanço anual energético próximo a zero. “O Nzeb é um processo, um movimento internacional. Não é só um projeto de eficiência energética e sustentabilidade. Vai dar uma visibilidade internacional para o projeto e para todos os envolvidos. A UNILA ganhou esse presente”, comenta a docente do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Kátia Punhagui. “Há edificações Nzeb que passam a ser pontos de visitação. A pessoa vai para a cidade só pra conhecer a edificação. Então acho que esse é um ganho não monetário muito importante.”

A ideia da equipe era fazer um projeto “diferente” para competir com outras instituições mais antigas e com maior infraestrutura. Por isso, algumas referências locais foram incorporadas. A começar pelo nome Ombo'éva, que em guarani quer dizer “Quem ensina”. “Nossa ideia inicial foi atrelar métodos construtivos inovadores, geração distribuída e também buscar algo diferente, porque somos uma universidade nova e sabíamos que iríamos concorrer com um pessoal bem consagrado. Foi uma surpresa também nisso, de estar à frente deles”, explica Oswaldo Ando Júnior.

O projeto está dividido em dois blocos. Um deles irá abrigar os equipamentos do laboratório e será construído com alta tecnologia para garantir eficiência energética e desempenho. No segundo bloco, onde estarão os banheiros e a área de descanso, serão utilizadas técnicas construtivas convencionais, porém, sustentáveis.

“O que talvez tenha me deixado mais feliz é que, de certo modo, o projeto arquitetônico é bem tradicional do ponto de vista do que todo arquiteto ou engenheiro civil deveria fazer. Esse foi o primeiro critério que a gente utilizou. Projetar a edificação com distribuição solar adequada”, comenta o arquiteto e docente do curso de Arquitetura e Urbanismo Egon Vettorazzi, explicando que foram utilizados os princípios básicos da arquitetura bioclimática. “Isso talvez tenha um peso muito grande, porque usar tecnologia é superimportante, mas partindo de uma boa arquitetura. Essa é a ideia do projeto arquitetônico”, completa.  Entre os elementos arquitetônicos estão o uso de telhado verde, que diminui a poluição sonora e garante conforto térmico; a iluminação solar tubular, uma alternativa mais eficiente às claraboias; brises horizontais e verticais em todas as janelas, para controle da luz solar; e uso de parede de alta absortância na fachada leste.

Marcelo Langner, arquiteto e mestrando em Energia e Sustentabilidade, contribuiu com o desenvolvimento do projeto arquitetônico, principalmente da fachada, e de estratégias que pudessem diminuir o consumo energético. “Fiquei feliz de poder contribuir um pouco e estar nesse meio de pesquisa, o que nos escritórios de arquitetura não é tão aberto porque tem muitas demandas comerciais. Então foi uma oportunidade muito boa.”

Cássio Gomes de Oliveira, engenheiro civil e mestrando em Engenharia Civil, chama a atenção para um dos objetivos da edificação, que é a redução do consumo de água. “O objetivo é levar o mais próximo de zero possível a relação entre a água consumida e o que é produzido”, diz. Para isso, o projeto prevê um sistema de tratamento dos efluentes de pias e ralos com a implantação de um Círculo de Bananeira – as raízes da bananeira realizam a filtragem da água por meio de evapotranspiração – e a coleta da água da chuva por meio de cisternas para o uso na jardinagem e limpeza de calçadas.

Em relação à geração de energia distribuída (produzida no local), a edificação irá utilizar um sistema fotovoltaico (painéis ou telhas). “Hoje, em termos de geração distribuída, não tem como o profissional que está à frente de um projeto não cogitar a possibilidade de planejar a recepção do sistema fotovoltaico, mesmo que o usuário não vá usá-lo no primeiro momento”, comenta Maurício Mafra da Silva, engenheiro eletricista e mestrando em Energia e Sustentabilidade.

“Nós buscamos soluções para eficiência energética e edificação sustentável: sistema fotovoltaico, sistemas inteligentes, automação, a questão térmica com telhado verde, iluminação solar tubular, iluminação inteligente, aproveitamento de água, estratégias passivas. Tentamos misturar todas essas coisas para que a edificação não fosse só focada em energia, mas sustentável também”, resume Kátia Punhagui.

Entre as tecnologias que serão utilizadas, algumas já estão disponíveis no mercado, como a telha fotovoltaica, e outras, consideradas inovadoras, serão testadas a partir do próprio projeto, na construção e no uso. A docente cita como exemplo o Cross Laminated Timber, ou laminado de madeira cruzada, sistema construtivo que será usado no bloco que irá abrigar os equipamentos do laboratório. “O Cross Laminated Timber é uma inovação, reduz resíduos, tem alta velocidade, melhora o conforto térmico”, explica.

O prédio vai abrigar um laboratório para pesquisas, mas a obra e a edificação em si também serão objetos de estudos. “Vamos aproveitar o processo de construção para tomar dados para as nossas pesquisas do mestrado e queremos dar sequência nisso. A gente acredita que a visibilidade desse prédio vai ser bastante importante para a UNILA e para nossos cursos de pós-graduação”, diz a pesquisadora.

De acordo com o edital Procel Edifica, após finalizada, a edificação deverá ser aberta à sociedade para visitação por, pelo menos, dois anos consecutivos. Além das visitas – que serão gratuitas –, estão previstas palestras, cursos, treinamentos e seminários para demonstração e disseminação das técnicas e tecnologias presentes na edificação.

Empenho

O empenho no desenvolvimento do projeto – finalizado em apenas dois meses – para submissão à chamada pública foi um dos pontos-chave para o resultado obtido. “Foi meio insano, era período de férias. Todo mundo se sacrificou um pouco. Foi uma construção sinérgica, e cada um contribuiu o quanto podia e com o que podia”, comenta Oswaldo Ando Júnior.

A docente Kátia Punhagui também destaca o envolvimento da equipe. “Teve participação de quem estava até fora do Brasil. Foi uma construção. Cada um dentro da sua especialidade. E o pessoal aceitou o desafio para fazer um projeto pesado em período de férias.”

Marcelo lembra que chegar a um resultado significativo em um período tão curto foi possível graças às diferentes especialidades dos integrantes do projeto. “Havia muitos profissionais envolvidos e foi sincrônico”, enfatiza. “Isso não é comum em projetos. Queria chamar a atenção para o fato de que houve uma boa liderança, que conseguiu gerenciar essa equipe multidisciplinar”, elogia.

“Fiquei muito feliz e honrado em participar dessa equipe e surpreso com a notícia. A gente conseguiu concorrer com várias universidades e colocamos a UNILA lá no topo. Isso é o mais importante de tudo”, completa Adriel Rodrigues da Silva, engenheiro civil e mestrando em Energia e Sustentabilidade.

Também participaram da equipe que desenvolveu o projeto a arquiteta e mestranda em Engenharia Civil Karine Hilgenberg Martins; o engenheiro eletricista e doutorando em Energia e Sustentabilidade Marcelo Miguel; a arquiteta Letiane Benincá; o estudante de Engenharia de Energia Gabriel Marins Lemos; o engenheiro eletricista e mestrando em Engenharia e Sustentabilidade Eder Andrade da Silva; e o engenheiro em automação Rafael Carlos Jung Sperotto.