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UNILA e PF desenvolvem pesquisas para rastreabilidade de drogas e medicamentos ilegais

O objetivo é criar um banco de dados que possa apontar a origem, porta de entrada e rotas de distribuição
publicado: 28/03/2023 14h00, última modificação: 28/03/2023 14h37

Partindo do princípio de que um composto químico pode ser rastreado, a Polícia Federal, em Foz do Iguaçu, e a UNILA iniciaram uma parceria para criar um banco de dados para identificar a porta de entrada, a origem e as rotas de distribuição de drogas e medicamentos ilegais que circulam pelo país, fornecendo informações para o combate ao tráfico.

“A Polícia Federal tem seu setor de inteligência e a academia tem inovações e conhecimentos que podem ser aplicados [em um trabalho] para a sociedade”, diz a docente da área de química Aline Toci, que coordena os trabalhos junto com o perito da Polícia Federal Fernando Freitas. A pesquisadora salienta que a Química não restringe-se mais a ensaios de laboratório e bancada e que diferentes técnicas e equipamentos de ponta, como a ressonância magnética nuclear, são utilizados em estudos e experimentos.

O primeiro produto a ser analisado foi a nandrolona, esteroide anabolizante injetável. Segundo Freitas, os anabolizantes encabeçam a lista de medicamentos ilegais apreendidos em Foz do Iguaçu, seguidos pelos remédios para emagrecimento e os para disfunção erétil. E, entre os anabolizantes, ainda de acordo com o perito, a maior quantidade é de nandrolona. Embora não tenha números exatos, Freitas diz que, de cada apreensão, em torno de 150 amostras de anabolizantes são direcionadas à perícia da Polícia Federal. Ele calcula uma média de dez apreensões por ano, o que daria um total de 1.500 amostras para análise. 

NANDROLONA
Resultado das amostras analisadas
70% dosagem incorreta
5% sem princípios ativos
5% com princípio ativo diferente
20% produto adequado

Os produtos analisados na pesquisa foram apreendidos entre 2019 e 2022. Foram feitas avaliações qualitativas e quantitativas dos produtos que descreviam a nandrolona no rótulo. De acordo com Aline, a maioria continha nandrolona, mas em 70% das amostras a concentração não condizia com o descrito nos frascos (veja quadro). “Isso representa um risco poque sabemos que esses fármacos têm que ser tomados em dosagens específicas, aumentando gradualmente. São medicamentos que estão sendo utilizados sem prescrição médica e sem controle e que têm muitos efeitos colaterais”, comenta.

Freitas salienta que, pela fronteira em Foz, entram grandes volumes de princípios ativos puros destinados aos grandes centros brasileiros onde serão transformados em medicamentos. “O trabalho, da forma como foi idealizado, vai permitir que a gente faça correlações entre diversas apreensões que ocorrem no território nacional. Vamos ter um mapa desse medicamento em termos de composição química, que pode ser usado para rastrear um medicamento que é apreendido em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro.”

Avaliar os anabolizantes e identificar sua origem são questões relacionadas não só à segurança, uma vez que envolvem uma rede de tráfico e, consequentemente, violência, mas também relacionadas à saúde pública. “É um problema de saúde gigantesco. Por isso, existe todo um investimento das forças de repressão para coibir esse tipo de comércio”, diz Fernando, lembrando que o produto com ingresso ilegal, tanto o anabolizante como o princípio ativo puro, não tem garantia de qualidade.

A pesquisa conduzida na UNILA para identificar a “impressão química” desses anabolizantes ilegais está apenas no início, mas a intenção é expandi-la. “A metodologia inicial aplicamos nas amostras de nandrolona e agora vamos continuar com outros anabolizantes. Conforme as apreensões vão chegando, vamos enriquecendo nosso banco de dados, nossas avaliações químicas. Vamos testar também outras metodologias, como a ressonância magnética nuclear. E uma vez estabelecida a metodologia, vamos aplicá-la a outras drogas”, explica Aline. A cocaína e a maconha apreendidas na região já estão na mira do projeto, completa Freitas.

Mais detalhes sobre o projeto e sobre os riscos do consumo de medicamentos ilegais estão disponíveis no episódio da série ¿Que Pasa?, produzida pela Secretaria de Comunicação (SECOM), com o objetivo de divulgar a produção científica da UNILA.