Pesquisa
UNILA abriga coleção de micro-organismos de interesse biotecnológico e ambiental
Cerca de 500 tipos de bactérias e fungos fazem parte da Coleção de Cultura de Micro-organismos de Interesse Biotecnológico e Ambiental (CCMIBA) da UNILA. A preservação e manutenção do acervo é o ponto inicial para o desenvolvimento de um leque enorme de pesquisas. De técnicas alternativas para degradar agrotóxicos na agricultura, ao desenvolvimento de biocimentos para a construção civil, novos fármacos para tratar o câncer e até experimentos para testar a qualidade do álcool usado no combate à Covid-19 são alguns dos estudos em andamento na UNILA e que utilizam, como matéria-prima ou em alguma etapa do projeto, fungos e bactérias. E, de acordo com a curadora da CCMIBA, a professora Rafaella Costa Bonugli Santos, o potencial para o desenvolvimento de novas pesquisas é ainda maior. “Fungos e bactérias são organismos que podem sobreviver e crescer em diferentes condições, eles podem, por exemplo, viver em ambientes sem oxigênio. Durante seu crescimento, eles produzem alguns compostos que podem ser usados pelo ser humano em diversas áreas, como para produzir alimentos, tratar doenças e até para despoluir um rio ou solo”, explica.
A Coleção surgiu oficialmente em 2020 com o objetivo de manter viáveis os micro-organismos coletados por docentes e estudantes da Universidade e de instituições parceiras. Os fungos e bactérias da CCMIBA têm diversas origens. Há um acervo grande de fungos isolados que foram encontrados em plantas, troncos e no solo do Parque Nacional do Iguaçu, mas há também micro-organismos marinhos, provenientes de indústria têxtil, de esgoto, coletados de rachaduras da Usina de Itaipu e até leveduras e bactérias da Antártida.
Os organismos microscópicos são mantidos em ultrafreezers, a uma temperatura de -80ºC. “A nossa coleção trabalha com organismos vivos, e utilizamos uma série de técnicas e produtos especiais para garantir que eles se mantenham com suas propriedades físico-químicas e sua morfologia preservadas”, salientou a estudante de Ciências Biológicas Quemili Simone Brand, bolsista da CCMIBA.
Com o ultrafreezer e os meios de cultura corretos, é possível manter os organismos viáveis por um período de seis meses. Depois disso, eles precisam ser reativados e voltar a ser congelados. “Esse é um processo contínuo, que demanda pessoal capacitado e investimentos em equipamentos e suprimentos. Esse processo garante que tenhamos organismos aptos para novas pesquisas, além de projetos de extensão e atividades de ensino desenvolvidos na Universidade”, diz Rafaella Santos. A docente, que é curadora da Coleção da UNILA, fez doutorado na Coleção Brasileira de Micro-organismos de Ambiente e Indústria (CBMAI) da Unicamp.
Atualmente, a equipe da Coleção trabalha na organização e catalogação de todo o material preservado. Alguns organismos precisam passar por análises genéticas para serem identificados. “Nosso trabalho vai desde a coleta do micro-organismo em campo até a extração do material genético em laboratório para fazer o sequenciamento e identificar a espécie. Pode parecer algo simples, mas é um processo que leva, no mínimo, seis meses de trabalho”, complementa Quemili. Os dados primários de todas as espécies identificadas irão integrar a Rede Paranaense de Coleções Biológicas (TaxOnline), que reúne coleções botânicas, microbiológicas e zoológicas de instituições de pesquisa do Paraná. A partir da TaxOnline, as informações também vão compor um banco de dados internacional, permitindo que sejam acessados por pesquisadores e pessoas interessadas em microbiologia do mundo inteiro.
Bactérias no combate à Covid-19
Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, quando produtos de proteção e higienização como o álcool em gel ficaram escassos no mercado, a UNILA foi responsável por produzir álcool glicerinado 80%, que foi distribuído em unidades de saúde e assistenciais de Foz do Iguaçu. A CCMIBA atuou nos testes de qualidade que garantiram a eficácia do produto.
A Coleção forneceu três bactérias – a Escherichia coli, a Pseudomonas aeruginosa e a Staphylococcus aureus – e montou o protocolo de testagem, seguindo as normas da Anvisa. Foram mais de 6 mil litros de álcool glicerinado produzido, divididos em 21 lotes, e todos os lotes passaram por testes de qualidade. “Tínhamos uma bolsista dedicada diariamente a fazer essa testagem. Foi um dos projetos com maior impacto social da Coleção até agora, refletindo a importância da universidade pública na região, que prontamente se pôs à disposição para ajudar a comunidade”, diz Rafaella.
Coleção está aberta para consultas e visitação
A Coleção de Cultura de Micro-organismos de Interesse Biotecnológico e Ambiental (CCMIBA) fornece culturas para diversas pesquisas da UNILA, na iniciação científica, em trabalhos de conclusão de curso, projetos de mestrado e de doutorado. A CCMIBA também atua em projetos de extensão e em atividades de ensino. Embora o acervo seja utilizado principalmente por docentes e estudantes dos cursos do Instituto Latino-Americano de Ciências da Vida e da Natureza – como Ciências Biológicas, Biotecnologia e Medicina –, ele está aberto para toda a comunidade universitária e para o público em geral. Consultas e visitas à coleção devem ser agendadas pelo e-mail ccmiba.unila@gmail.com. Somente serão realizadas visitas que tenham por finalidade o ensino, a educação ambiental, a pesquisa e o repasse de informações para a comunidade. Mais informações também podem ser acessadas no Instagram @ccmiba.
Além da docente Rafaella Santos e da bolsista Quemili Brand, fazem parte da equipe da Coleção o professor Michel Passarini e os alunos de Biotecnologia Júlia Cardoso, Gabriel Magalhães e David Marsiglia.