Institucional
SEUNI abre programação com debate sobre curricularização da extensão
O Seminário de Extensão da UNILA (SEUNI) faz parte da programação da Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE). Nesta edição, a abertura do SEUNI contou com um debate que vem ocorrendo em todas as instituições de ensino superior do Brasil, sobre a necessidade de inserir atividades extensionistas nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) da graduação e pós-graduação. Essa novidade gerou a criação de um termo que passou a ser conhecido como curricularização da extensão universitária.
Algumas instituições, como a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), estão num processo mais avançado de aplicação do novo desafio. Por isso, os responsáveis pelas áreas de Extensão dessas instituições foram convidados para debater o tema, expondo desafios e possibilidades que essas universidades estão assumindo. Dessa forma, o evento buscou promover um diálogo com a estratégia que a UNILA tem desenvolvido para atender às normativas lançadas pelo Plano Nacional da Educação (2014) e pelo Conselho Nacional de Educação (2018).
Inicialmente, a pró-reitora de Extensão da UNILA, Kelly Sossmeier, explicou como o trabalho tem sido realizado entre a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD). Ela também abordou os trâmites necessários nas instâncias internas de decisão, que geraram a Resolução 01/2021 da Comissão Superior de Ensino (COSUEN), a partir da qual foram elaborados dois documentos auxiliares: uma lista de perguntas e respostas para ajudar na elucidação de dúvidas da comunidade acadêmica a respeito da Resolução; e um Guia de Curricularização que contextualiza, com mais formalidade, a extensão nos currículos, trazendo textos sugestivos para os PPCs e exemplos de como operacionalizar e realizar as alterações necessárias.
Todos os documentos relativos ao tema estão disponíveis na página da PROEX, com o objetivo de possibilitar que a comunidade interna dê conta de assumir o compromisso de que em 2023 todos os 29 cursos de graduação estejam devidamente adequados às resoluções, ou seja, que todos os cursos estejam com o currículo atualizado, com pelo menos 10% de sua carga horária total destinada às atividades de extensão.
A normativa da UNILA permite a inserção da extensão por meio de disciplinas que dediquem carga horária a atividades típicas ou por meio de Atividades Curriculares de Extensão (Acex). Essa última constitui-se na participação de alunos em ações de extensão cadastradas na PROEX e que sejam posteriormente computadas, visando à integralização curricular dos estudantes. “O que temos recomendado é que isso seja feito de ambas as formas: com disciplinas que já são de caráter extensionista, e o restante da carga horária na forma de Acex”, diz a pró-reitora.
Kelly Sossmeier reforça que, independentemente de a prática de extensão aparecer no currículo na forma de disciplina ou de Acex, é necessário o envolvimento da comunidade e a participação ativa do aluno. “A prática somente será computada se o interessado for um membro da equipe executora do curso, se ele tiver se envolvido na organização, ministrado aula, interagido com a comunidade externa, e não só participado como ouvinte, sempre primando pela troca de saberes e por uma experiência realmente extensionista, e não exclusivamente formativa”, exemplifica.
Ela lembra que a inserção de uma disciplina específica é um caminho que deve ser avaliado, pois gera compromisso de oferta e estará presente no PPC. E ela defende que o caminho tem tudo para ser bem trilhado. “A UNILA é uma universidade intensamente extensionista, atua muito com a comunidade e tem capacidade de atuar ainda mais. Alguns cursos têm maior envolvimento com a extensão e irão operacionalizar esse processo com mais facilidade. Para outros cursos, talvez essa reformulação seja um pouco mais difícil, mas temos certeza de que todos irão conseguir”, finaliza.
"A universidade precisa ser extensionista"
Com a frase acima, o pró-reitor de Extensão e Cultura da UFU, Helder Silveira, iniciou sua apresentação, reforçando que, apesar da atual reformulação em projetos pedagógicos, este também é o momento de um novo projeto de universidades de todas as naturezas, públicas ou privadas. “O processo de curricularização da extensão é algo maior que o próprio debate sobre extensão, já que é preciso pensar que a sociedade que se desenha hoje passa por um processo de constituição a partir das universidades brasileiras, principalmente as públicas, de abertura de seus espaços para as nossas comunidades”, afirma.
Ele reforça que a extensão, se não associada devidamente ao ensino e à pesquisa, é apenas uma forma de assistência, e que o novo modelo em debate vai além, compreendendo uma dimensão formativa para que os estudantes percebam que esta não acontece apenas no ambiente universitário, mas em outros espaços, mais próximos à comunidade. “A extensão, inserindo-se no projeto pedagógico, entra numa dinâmica em que o docente tem profunda responsabilidade no processo de mediação, de orientação qualificada, de acompanhamento da autonomia dos nossos estudantes, de acompanhamento do protagonismo desses estudantes”, defende.
Por outro lado, ele vê a possibilidade de o estudante desenvolver, nessa atuação, conhecimentos, conteúdos e habilidades, relacionados a protagonismo, cidadania, interação, construção de diálogos, interdisciplinaridade, sensibilização social e desenvolvimento de um novo modo de olhar a sociedade.
Além de outras atividades às quais os estudantes já se dedicam, como estágios, atividades extracurriculares e trabalho de conclusão de curso, Helder diz que faltava uma dimensão transversal, presente em todas as outras, e que precisava de um espaço específico de atuação, da mesma forma que outras ações formativas ligadas à dimensão sociorreferencial. “Não estamos falando aqui que a universidade vai se aproximar da comunidade, já que entendemos que a universidade é a própria comunidade. Também não se trata de assistência social, mas de inserir o nosso estudante numa ação formativa que o capacite para uma formação cidadã, para ampliar o diálogo com outras comunidades”.
O coordenador de Extensão da UFAL, Cezar Nonato Bezerra Candeias, reforça que a curricularização da extensão leva a um novo paradigma da universidade e, por isso, este é considerado um processo de transição. “Precisamos ter isso claro para que possamos ter paciência, conosco inclusive, com a cultura universitária, já que há poucas décadas temos conseguido avançar na perspectiva da horizontalidade da extensão, com o ensino e a pesquisa. Estamos num processo de transição e de construção”, avalia.
A UNILA vem se espelhando muito na experiência da UFAL, que trabalha com discussões a respeito do tema desde 2014. Além disso, a UFAL já fundamenta a ideia de que a curricularização passe por um programa de extensão, que está sendo inserido no PPC e que é composto por dois projetos, a serem desenvolvidos em semestres distintos. Também há uma terceira atividade a ser escolhida pelo estudante e que pode ser um projeto, um curso ou um evento. “Todas essas atividades são distribuídas ao longo do curso, e a relação das atividades de extensão pode ser coordenada por um docente ou técnico. Nesse sentido, temos feito esse processo de forma a valorizar o trabalho dos técnicos da universidade, que têm um envolvimento histórico na extensão, e aqui com a participação ativa dos nossos estudantes”, afirma.
Ele também aponta alguns desafios, como o trabalho na educação a distância e em cursos noturnos, o diálogo com o estágio supervisionado e o TCC e também a aplicação da curricularização em cursos de pós-graduação, além da formação docente e a avaliação da aprendizagem na extensão.