Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Semana dedicada à formação pedagógica discute direitos humanos e inclusão
conteúdo

Processo Seletivo

Semana dedicada à formação pedagógica discute direitos humanos e inclusão

Debate foi conduzido por juiz federal e por cacique guarani, com a presença de estudantes indígena, refugiado e estrangeiro
publicado: 28/02/2019 18h00, última modificação: 28/02/2019 18h00
Exibir carrossel de imagens Mesa com os participantes da abertura: Edimar Nunes, Lucio Freitas, Gustavo Vieira, Ali Farhoudh, Nicolas Guzman

Mesa com os participantes da abertura: Edimar Nunes, Lucio Freitas, Gustavo Vieira, Ali Farhoudh, Nicolas Guzman

Direitos humanos e a inclusão no ensino superior foram os temas escolhidos para o 3º Seminário de Formação Pedagógica, destinado aos docentes da UNILA e iniciado nesta quinta-feira (28). As atividades prosseguem até amanhã (1º) com palestras e rodas de conversa.

Mesa com os participantes da abertura: Edimar Nunes, Lucio Freitas, Gustavo Vieira, Ali Farhoudh, Nicolas GuzmanNa abertura, alunos ingressantes por meio do processo seletivo internacional, do processo para povos indígenas aldeados e do processo de seleção para refugiados e portadores de visto humanitário em território brasileiro falaram sobre sua chegada à UNILA e suas expectativas em relação à graduação. “Esses processos seletivos são, de fato, um marco para nossa universidade. A presença [desses alunos] é de suma importância e muito significativa para nossa universidade, para nossa missão universitária”, avaliou o pró-reitor de Graduação, Lúcio Flávio Grós Freitas.

O Brasil é um país de liberdade e de paz”, disse Ali Farhoudh, sírio, que teve de deixar seu país por ter sido convocado a se alistar e lutar na guerra que devasta a Síria há oito anos. “Quero agradecer a Universidade que me deu a oportunidade de estudar aqui e seguir na vida”, disse.

Edimar Pereira Nunes    Ali Farhoudh   Nicolas Guzman

Nicolas Guzman, da República Dominicana, contou que, morando com a avó e um tio, não tinha recursos financeiros para estudar, e viu na oferta de vagas para estrangeiros a oportunidade que não teria em seu país. Para chegar ao Brasil, passou dois meses na busca de dinheiro e teve de contar com a mobilização nas mídias sociais e na imprensa dominicana para custear a passagem aérea. “Foi uma história muito emocionante, porque eu passei dois meses preocupado porque não tinha dinheiro para vir”, narrou. “Estou muito agradecido a Deus e também à UNILA porque passei meses buscando uma universidade no meu país e universidades estrangeiras, e nenhuma me ofereceu a oportunidade que me ofereceu a UNILA, de vir a esta nação e estudar gratuitamente.”

O terceiro representante dos calouros na mesa de abertura, Edimar Pereira Nunes, veio da Terra Indígena da Serra do Arapuá, em Carnaubeira da Penha (PE), onde vivem os Pankará. “Foi uma alegria imensa poder representar meu povo, não só o povo Pankará, mas os demais povos indígenas, tantos que sofreram e não tiveram as oportunidades que hoje estamos tendo”, disse. “Não é fácil, por estar a 3.200 quilômetros de casa, mas para a realização do meu sonho, não meço distância”. Ele disse que escolheu a UNILA pelo projeto de integração e pelos desafios naturais a uma universidade jovem. “Sei que não é fácil, mas lutaremos.”

Na cerimônia de abertura, o reitor da UNILA, Gustavo Oliveira Vieira, apresentou números que mostram a evolução da Universidade ao longo de seus nove anos, mas também as dificuldades que devem ser enfrentadas por toda a comunidade acadêmica na consolidação da instituição. “Ouvir esses relatos faz ver que todo o esforço que a gente empenha tem muito sentido.”

Vieira também falou das mudanças que facilitaram o processo seletivo internacional e a consequente ampliação de inscritos. “Trabalhamos para ampliar essa diversidade, que é a nossa riqueza, nosso patrimônio. E, para darmos um passo de coerência em relação à identidade da nossa Universidade, a inclusão dos povos originários foi fundamental”, constatou.

Direitos Humanos 

Celso Alves, Daniel Chiaretti e Gustavo Vieira

Após a abertura, o juiz federal da 4ª região Daniel Chiaretti e o cacique do Tekoha Ocoy, Celso Japoty Alves, dividiram uma mesa de debates para falar do tema “Direitos humanos e a promoção da inclusão no ensino superior: ações e reflexões”.

Chiaretti avalia que a Lei de Imigração, instituída em 2017, "mudou o paradigma do tratamento imigratório no Brasil”. Segundo ele, a nova lei passa a tratar o imigrante como alguém que está em situação de igualdade com os brasileiros e que tem uma série de direitos, entre eles o direito à educação. “A gente vem num crescente mundial de xenofobia, de resistência à imigração, e a Lei surge num cenário adverso, mas, justamente por isso, é muito importante para consolidar esse modelo de resguardo aos direitos humanos no Brasil”, avaliou.

Daniel ChiarettiEle citou alguns mitos relacionados à imigração, como a crença de que existem muitos imigrantes no Brasil. “Considero esse o maior mito que envolve as imigrações”. Chiaretti citou uma pesquisa feita pela Folha de São Paulo no ano passado e que mostra que a maioria dos brasileiros acredita que o número de imigrantes no Brasil esteja na faixa dos 30%. "O número de imigrantes no Brasil é inferior a 1% da população”, esclarece o juiz. Esse índice é menor aos registrados no Paraguai (2%) e Argentina (5%) e muito inferior ao dos Estados Unidos, onde o índice de imigrantes é de 12%. "O Brasil tem, sim, capacidade de receber [imigrantes], sem que isso cause qualquer tipo de impacto”, diz e completa: “Há três vezes mais brasileiros fora do Brasil”.

Para Chiaretti, o Brasil tem uma legislação muito boa. “Uma das mais avançadas do mundo do ponto de vista da imigração”, diz, reforçando que é necessário fazer com que essa legislação seja implantada de forma efetiva.

Sobre as críticas que se fazem aos imigrantes e à imigração, o juiz lembra que é preciso partir do pressuposto de que o Brasil é um país de imigrantes e que direitos humanos são uma questão legal prevista na Constituição brasileira e em tratados internacionais. “Direitos Humanos não é uma questão de opinião, é uma questão de lei.”

Ele acredita que a inclusão de imigrantes no ensino superior tem um impacto muito positivo. “A postura que a UNILA adotou é a mais inclusiva que já vi. Porque atende não só imigrantes com situação formal já consolidada – e que são poucos , mas sinaliza para aqueles que ainda estão no processo de regularização”. O juiz avalia que é preciso um esforço coletivo para garantir que a lei seja realmente efetivada. “Tenho certeza de que os ganhos serão extremamente positivos.”

Celso Japoty AlvesPara Celso Japoty Alves, cacique da comunidade Tekoha Ocoy, ter estudantes indígenas na UNILA é uma grande oportunidade, principalmente, para a defesa dos direitos dos povos originários. “A gente já vem há muito tempo lutando com as questões indígenas. Ficamos felizes porque nossos alunos estarão estudando junto com alunos estrangeiros. Acho que isso é um caminho para a gente, uma oportunidade para nossos alunos”, disse durante sua apresentação, na manhã desta quinta-feira. “Hoje não é mais como antigamente, e a gente precisa do estudo dos jovens para defender nossos direitos. A questão indígena sempre precisa de muita luta, muito esforço de liderança”, completou.

Ele criticou a falta de atualização, no ensino formal, das condições relacionadas aos povos originários e da falta de conhecimento geral sobre as comunidades indígenas. “Muita gente não conhece a realidade de hoje. É sempre a mesma coisa, as histórias que estão nos livros são as mesmas de antigamente”, analisou.

Ele destacou a importância do conhecimento na defesa nos direitos indígenas. “A gente tem de saber competir junto com o branco, saber os direitos, as leis, para a gente se defender. Antigamente, a gente sabe muito bem, a gente morria com facão, com arma, hoje morrer pode ser pela ponta de caneta.”

Evento

O 3º Seminário de Formação Pedagógica da UNILA prossegue nesta sexta-feira (1º) com debates e rodas de conversa. O evento é coordenado pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD). Veja a programação completa.