Institucional
Projeto incentiva a solução de conflitos por meio de práticas restaurativas na UNILA
Como resolver os conflitos que surgem no ambiente universitário, restaurando relações e fortalecendo o senso de comunidade e de pertencimento. Essa indagação foi fio condutor da construção do projeto Universidade Restaurativa, implantado neste ano na UNILA. “Este projeto nasceu de diálogos de equipes preocupadas em olhar para os problemas. A ideia é contribuir para a construção de uma cultura de paz, e não tem como pensar em cultura de paz se não começarmos pelo diálogo”, diz o servidor Fernando Haetinger Masera da Silva, integrante da equipe que propôs o projeto e que atuou na Ouvidoria e no Comitê de Ética da UNILA.
Foi a partir das percepções da Ouvidoria e de outros setores da Universidade – Comissão de Ética da UNILA, Ouvidoria, Corregedoria e dos setores de atendimento psicológico da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e do Departamento de Promoção e Vigilância à Saúde – que nasceu a ideia de propor o projeto, que compreende a realização de quatro encontros neste ano. O primeiro será realizado nesta quinta (24) e sexta-feira (25) e inclui ambientação em Círculo de Construção de Paz, roda de conversa e dois minicursos – as duas últimas atividades são abertas à participação de toda a comunidade. Os minicursos “Introdução à Educação Sistêmica” e “As constelações sistêmicas na resolução de conflitos” são gratuitos e exigem inscrição, que pode ser feita até as 23h59 desta terça-feira (22). As atividades – ambientação, rodas de conversa e minicursos, oficinas ou workshops – repetem-se nos próximos encontros, programados para agosto, setembro e outubro.
“Era preciso tomar uma atitude para acolher com mais ética esses conflitos e não tratá-los apenas de modo processual, mas de modo preventivo”, relata Fernando. “Nesse diálogo, fomos encontrando conexões, como é o caso da Universidade Federal do Pernambuco, onde existe um Espaço de Diálogo e Reparação, uma unidade associada à Comissão de Ética, que recebe demandas da Comissão, da Ouvidoria e da comunidade, para cuidar de conflitos antes de se tornarem processos. É um ambiente que privilegia o diálogo e que entende os conceitos de ética e justiça como valor e construção social.”
O Universidade Restaurativa prevê um ano de ambientação e diálogo nas temáticas restaurativas (comunicação não violenta, justiça restaurativa, práticas integrativas em saúde e educação sistêmica), com o objetivo de fundamentar um programa ou plano de gestão da ética.
No projeto, a ambientação em Círculo de Construção de Paz é destinada a pessoas que ocupam cargos de gestão em vários níveis, inclusive nas áreas acadêmicas. “Precisamos fortalecer esse grupo, contribuindo para a formação de lideranças e pensando que essas pessoas vão, de algum modo, ter de gerir conflitos nas suas equipes de trabalho.”
Fernando explica que o Círculo de Construção da Paz é um processo restaurativo embasado na linha dos processos circulares de Kay Pranis, assistente social dos Estados Unidos. “É uma tecnologia psicossocial que está sendo resgatada de usos ancestrais, das tribos originárias. Índios canadenses e dos Estados Unidos usavam essa metodologia como forma de diálogo horizontal, de igualdade na tribo e também para resolver conflitos”, comenta. Nesse modelo, somente tem a fala a pessoa que estiver de posse do objeto de fala. “O diálogo todo vai ocorrendo nesse ambiente de respeito. A pessoa se conecta com a necessidade e o sentimento do outro. E é aí que acontece o milagre que é a tal da compaixão”.
O projeto também inclui uma visita técnica à Universidade Federal do Pernambuco, mais especificamente para conhecer o mestrado em Direitos Humanos, que tem uma presença muito intensa das práticas restaurativas, e o Programa de Práticas Integrativas em Saúde, associado a um programa proposto pelo Sistema Único de Saúde. “É uma oportunidade de selecionar uma equipe aqui para firmar um protocolo de intenções para cooperação acadêmica nessa área.”
Além disso, a equipe do projeto pretende ofertar um curso de formação de facilitadores de Círculos de Construção de Paz não Conflitivos, a ser conduzido pela Escola de Magistratura da Associação de Juízes do Rio Grande do Sul, no final de novembro.