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Pesquisador fala sobre inovação e tecnologia em conferência de abertura da SIEPE

Rubén Dario Sinisterra apresentou dados que mostram o cenário atual do Brasil em pesquisa e desenvolvimento e apontou desafios para as universidades
publicado: 24/11/2021 12h00, última modificação: 24/11/2021 13h38

A pesquisa básica e o acúmulo de conhecimento gerado pelas universidades são a base para a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico. Partindo dessa premissa, o professor Rubén Dario Sinisterra (UFMG) realizou, nesta terça-feira (23), a conferência de abertura da Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE) da UNILA.

A SIEPE é um dos principais eventos do calendário anual da Universidade e agrega o 10º Encontro Anual de Iniciação Científica e 6º Encontro Anual de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (EICTI); o 8º Seminário de Extensão da UNILA (SEUNI); e o 2º Seminário de Atividades Formativas (SAFOR).

A conferência teve como tema “A transversalidade da ciência, tecnologia e inovação no ensino, pesquisa e extensão”, que também é tema da Semana.

Sinisterra tem ampla experiência nas áreas de transferência e inovação tecnológica, é assessor da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI-WIPO) e exerceu a presidência do Fórum Nacional de Gestores da Inovação. “Este é o primeiro elemento importante: como a inovação e a tecnologia surgem a partir do acúmulo de conhecimento científico e de pesquisa básica. Não há nenhum segredo nisso”, diz, ao comentar dados de prospectivas de áreas que comporiam uma revolução tecnológica, fruto de um estudo realizado por um grupo de pesquisa da George Washington University. Entre as áreas “portadoras de futuro” estão energia e ambiente, tecnologia da informação, e-commerce, manufatura e robótica, medicina e biogenética, transporte e espaço. “Essas áreas cada vez mais estão crescendo de forma vertiginosa. Há um avanço muito grande do conhecimento científico e da tecnologia”, diz o docente.

O estudo também cita e-commerce. No Brasil, comenta o docente, “essa é uma das áreas mais consolidadas; uma das áreas em que estamos fazendo de forma eficiente esse acúmulo de conhecimento com a geração de tecnologia”. Nanotecnologia, impressão 3D, medicina personalizada, órgãos artificiais, biologia sintética, carros elétricos e trens de alta velocidade, turismo espacial e comercial são outros exemplos de tecnologias já presentes ou com perspectivas de futuro. “Quando estamos na graduação ou na pós-graduação [olhando esse estudo], podemos ver uma perspectiva de quais são as áreas portadoras de futuro e nos vemos integrados numa dessas áreas, que são todas multidisciplinares”, diz.

Outro estudo apresentado na conferência, sobre a relevância da indústria química, “traz elementos centrais, megatendências globais e hierarquização: petróleo e gás, demografia, crescimento econômico, países e negócios, aspectos ambientais, guerra, terrorismo, pandemia”, pontua o professor. “Nunca imaginávamos que estaríamos vivendo ou iríamos viver uma pandemia, que já leva quase dois anos. A gente observa claramente que essas megatendências começam a se concretizar.”

Em sua análise, ele observa que essas bases – social, econômica, política, de energia e de mudanças climáticas – “são os aspectos centrais que permearão a nossa discussão e a nossa necessidade de soluções, inclusive de pesquisa, para o futuro”. Falando em projeções para o ano de 2050, o professor destaca que aspectos críticos contemporâneos, de complexidade extrema, exigem uma estratégia que “requer aspectos interdisciplinares, multidisciplinares e muita integração”. “Esses aspectos, na verdade sistemas, têm características dinâmicas, incertezas e necessidade de trabalho em rede. E aí vem, então, a multidisciplinaridade e a transversalidade.”

Inovação

Para o professor, para resolver problemas da área de inovação, é necessário que se tenha uma sólida base de conhecimento. “As universidades públicas brasileiras e os institutos de pesquisa são os que vão conseguir fazer [essa base] e formar recursos humanos e, a partir da interação desse conhecimento e da tecnologia gerada nas universidades, [fazer com que] empresas possam gerar e levar novos produtos e processos ao mercado”, salienta.

“Precisamos de todas as áreas, mas, obviamente, precisamos de uma base de conhecimento com químicos, físicos, biólogos, biotecnólogos, engenheiros. É um desafio a formação de recursos humanos para que a gente possa sustentar, também, um avanço um pouco mais equilibrado em que haja apropriação de conhecimento e geração de tecnologia.”

Segundo ele, essa base de conhecimento nasce na sociedade e, por isso, congrega aspectos culturais tradicionais e naturais, do ambiente e do caráter nacional, da história e das decisões políticas dos países. “Obviamente, aqui surgem as políticas públicas. E se não há políticas públicas para essa base de conhecimento, não teremos esse caminho de, a partir daí, gerar uma indústria forte e uma economia forte, que consigam alimentar o ciclo da inovação. Fica claro, então, que inovação se faz com pesquisa básica e educação de altíssimo nível.”

Ele lembrou que as universidades públicas brasileiras geram 95% do conhecimento, mas o Brasil ainda ocupa uma das últimas posições em um índice integral de economia, inovação e educação superior per capita e por país, divulgado em 2015. Para ele, um dos desafios é ampliar a base de formação de profissionais nas áreas tecnológicas, que ainda têm percentuais baixos. “Precisamos de todas as áreas, mas, obviamente, precisamos de uma base de conhecimento com químicos, físicos, biólogos, biotecnólogos, engenheiros. É um desafio a formação de recursos humanos para que a gente possa sustentar, também, um avanço um pouco mais equilibrado em que haja apropriação de conhecimento e geração de tecnologia.”

Outro índice que aponta o baixo aproveitamento do Brasil em pesquisa e desenvolvimento científico é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que entre outros pontos leva em consideração o número de pesquisadores por milhão de pessoas, de patentes concedidas por milhão, despesas em pesquisa e desenvolvimento, e direito de exploração de patentes. Nesse último item, por exemplo, o Brasil recebe US$ 3 per capita em royalties e os Estados Unidos recebem entre US$ 40 e US$50.

Outros estudos apresentados por Sinisterra mostram a necessidade de que as universidades, com a missão de formar recursos humanos de altíssimo nível, também ofereçam ajuda na elaboração de novos processos e novos produtos para o mercado. Também apontam o desafio de aproximação cada vez maior com a comunidade. “A universidade [está passando por] uma mudança paradigmática, que está ficando cada vez mais complexa, que exige compartilhamento e aproximação com a sociedade. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro. A sociedade exige maior participação da universidade e exige a geração de conhecimento de excelência.” O docente apontou, ainda, a necessidade de integração internacional, aprendizado a distância, internacionalização e mobilidade de professores e alunos, e da existência de campus fora da cidade onde está localizada a universidade.

Para realizar de forma sustentada e sustentável a interação entre universidade e empresa, o professor diz que é necessário entender que, quando “os três atores principais, que são as universidades, os centros de pesquisa e as empresas e políticas públicas (Estado), funcionam de forma harmônica, há um sistema nacional de inovação mais maduro”.

Para ele, não é um caminho fácil vincular o ensino, a interação universidade-empresa e levar o conhecimento gerado para a construção de novos processos e produtos. “É um caminho extremamente longo. A universidade tem a necessidade de se associar e formar espaços institucionais que permitam fazer isso. Ciência gera invenção, inovação e negócios, e esse círculo vira um círculo virtuoso”.

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