Institucional
Inédito, Censo da População em Situação de Rua de Foz do Iguaçu contou com participação da UNILA
Foi realizado em Foz do Iguaçu em 2025, pela primeira vez, um Censo da População em Situação de Rua. O trabalho foi coordenado pela Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu e contou com o apoio – entre outras instituições – da UNILA. O Censo realizou 685 abordagens, com 569 entrevistas realizadas com pessoas em situação de rua, durante o mês de agosto. O resultado do Censo deverá embasar o poder público municipal para a elaboração de políticas públicas mais efetivas voltadas ao atendimento desta população.
O professor Marcelino Teixeira Lisboa, que integrou o Grupo de Trabalho, foi convidado a compor a equipe por conta de sua especialidade em análise estatística voltada às ciências sociais. “Além disso, logo no início dos trabalhos, na fase ainda da elaboração da metodologia, teve a participação de vários estudantes da UNILA, que tratam de questões migratórias, da área da saúde”, citou. Assim, “a UNILA teve uma participação bastante substantiva, mas neste momento o trabalho está focado na análise dos números”, complementa.
De acordo com ele, a metodologia para a aplicação do Censo foi desenvolvida pelo GT, com base em trabalhos anteriores da Prefeitura, modelos e experiências prévias e aprimorando técnicas já cientificamente testadas. “A gente está usando técnicas bastante robustas, estatísticas, para traçar esse perfil.”
Conforme detalha o diretor de Vigilância Socioassistencial, da Prefeitura de Foz do Iguaçu, André dos Santos, o projeto foi executado por dois grupos: um que realizou o planejamento, o treinamento e a seleção das pessoas para a coleta de dados, e o outro que fez as entrevistas. Antes do Censo, ele explica, a estimativa do tamanho da população em situação de rua era baseada em outros dados de que a Prefeitura dispunha, como o Cadastro Único e dados de serviços públicos que atendiam essas pessoas, como o Centro Pop, a Casa de Passagem, e outros.
Na opinião dele, “É de suma importância nós fazermos o Censo, porque, assim, nós vamos ter esse levantamento mais fidedigno da realidade desse público. A partir disso, nós poderemos planejar ações que vão realmente ao encontro das necessidades dessa população”. Segundo Santos, uma das estratégias a serem adotadas com base nos dados do Censo é a elaboração do Plano Municipal de Atendimento a Pessoas em Situação de Rua, que delineará ações nas esferas da saúde, assistência social, emprego, habitação, e outras. O trabalho também resultará na publicação de um livro, que está em fase final de elaboração.
Perfil
A análise dos dados mostra um perfil marcado por homens adultos, heterossexuais, majoritariamente pretos e pardos, com baixa escolaridade, informa Marcelino Lisboa. “Mais da metade dessa população é de pessoas oriundas de outros lugares, ou seja, não são nascidos em Foz do Iguaçu. Em sua maioria, não têm intenção de retornar à sua cidade de origem, mas desejam sair da situação de rua, apontando moradia e uma fonte de renda como os principais fatores que podem levá-los a saírem dessa condição”, resume.
Lisboa analisa as peculiaridades do trabalho inédito no município. “Uma pesquisa dessas acaba desmistificando algumas coisas. Por exemplo, uma suposição de que a quantidade de pessoas estrangeiras em situação de rua aqui na região da fronteira poderia ser predominante. Verificamos que não, que a grande maioria é de brasileiros, e que os estrangeiros normalmente estão há pouco tempo na rua”, aponta.
Entre os estrangeiros identificados no Censo, o professor destaca que, além de paraguaios e argentinos, também notou-se a presença de venezuelanos. “Muitos vêm de São Paulo, ou via Paraguai. Por conta das condições do país nos últimos anos, esse fluxo migratório se reflete aqui também”, observa.
Trabalho integrado
Na visão do docente, esse trabalho integrado contribui para a transformação da realidade local. “Por muito tempo, as universidades foram vistas como um espaço que estava dentro de muros intransponíveis. Quem estava lá dentro também às vezes não fazia muita questão de conversar com quem estava fora. Mas as universidades vêm tirando alguns tijolos desse muro e conversando com a sociedade”.
Para ele, “a gente conseguiu mostrar como a UNILA pode contribuir para melhorar, nesse caso, a condição de um extrato muito específico da população, trazendo esse conhecimento científico. Então, foi um trabalho multitemático, multi-institucional, multidisciplinar, em que realmente todos contribuíram, mas ao mesmo tempo todos aprenderam”.
Além do professor Marcelino Lisboa, participaram os discentes Thais da Silva Custodio (Ciência Política e Sociologia), Jesus Jaime Rodriguez Catacora (Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família), Nikolas Henderson Vidal Miranda (Ciência Política e Sociologia), e os também representantes da Associação dos Migrantes, Indígenas e Refugiados de Foz do Iguaçu, Roldy Julien e Job Paul.
A assistente social do Centro de Apoio Técnico à Execução (CAEx), do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Francielle Toscan, que também integra o GT, ressalta que ainda há uma invisibilidade da população em situação de rua nos municípios. “O Censo é uma ferramenta para identificar qual é a realidade, quais são as necessidades dessa pessoa em situação de rua, traçar um perfil e, a partir disso, quais são as políticas que precisam ser implantadas no município. Se tem, se precisa melhorar, se não tem, implantar”, frisa.

