Pesquisa
Herbário Evaldo Buttura, da UNILA, completa 10 anos
Curadoras do herbário Evaldo Buttura, à esquerda a professora Laura Cristina Pires Lima, ao fundo a professora Giovana Secretti Vendruscolo (Foto: Moisés Bonfim/SECOM-UNILA)
Na década de 70, iniciou-se uma obra que transformaria para sempre a realidade da região Oeste do Paraná: a construção da Hidrelétrica de Itaipu. Com a construção da barragem, veio também a formação do Lago de Itaipu, que inundou 1.350 km² de 15 municípios do Paraná e um do Mato Grosso do Sul. Esse processo exigiu um trabalho intenso de catalogação e preservação da biodiversidade.
Um dos nomes importantes deste processo foi Evaldo Buttura, um agrônomo contratado, à época, para coletar e catalogar espécies botânicas da região de formação do Lago – muitas das quais viriam a desaparecer no processo de enchimento do reservatório da Usina. Em 2015, inicia-se a restauração do material coletado por Buttura e, com esse trabalho, a criação do Herbário que leva seu nome. “Começamos em 2015 com a restauração das coletas históricas que foram feitas pelo Butura no final da década de 70 e início da década de 80, antes da inundação. Então, aqui temos registros de áreas que não existem mais”, frisa a curadora do Herbário Evaldo Buttura, Laura Pires Lima. O Herbário, assim, é hoje uma salvaguarda histórica da flora que existia na região abrangida pelo Lago.
Aos poucos, o acervo cresceu, e atualmente o Herbário Evaldo Buttura (EVB) conta com mais de 7.400 amostras de plantas catalogadas. “Primeiro, fizemos esse processo de restauração do acervo do Buttura. Depois, vieram coletas de alunos de graduação, de iniciação científica, de pós-graduação. Então, hoje, muitas dessas plantas que temos aqui são oriundas de coletas em fragmentos urbanos de Foz do Iguaçu ou no Parque Nacional do Iguaçu. Todas vinculadas a projetos de pesquisa, ensino ou extensão realizadas aqui na UNILA”, pontua. Além das coletas próprias, também há parcerias com outros herbários, que intercambiam entre si as duplicatas dos materiais, para promover o crescimento da coleção.
Preservação e pesquisa
Laura explica que as espécies preservadas permitem realizar pesquisas com finalidades diversas. “A gente consegue estabelecer estudos etnobotânicos de espécies que têm potenciais medicinais, alimentícios; verificar registros de ameaçadas de extinção; realizar análise de DNA; fazer estudos ecológicos; estabelecer dados de distribuição geográfica das espécies”, enumera.
Toda essa disponibilidade de informações é possível através do minucioso trabalho de elaboração das exsicatas, que consiste na catalogação da planta seca em uma cartolina, onde ela é afixada e etiquetada com os dados obtidos da atividade de campo. Além da amostra física, os dados das etiquetas são digitalizados e as exsicatas são fotografadas e disponibilizadas em bancos de dados online, permitindo o acesso a pesquisadores de qualquer lugar do mundo. “Nossos dados estão disponíveis nas plataformas do Herbário Virtual Reflora, GBIF (Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade), e no Species Link, sendo nessa última os dados já obtiveram mais de 150 milhões de visualizações", observa Laura.
Na UNILA, diversos cursos de graduação e de pós-graduação costumam utilizar o acervo do Herbário. Assim, o Herbário é um instrumento que atende ao tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. “Sempre que tem alguma pesquisa que envolve plantas, é preciso um material-testemunho, para que depois seja possível saber de que planta foi feita a análise química. E o Herbário é uma instituição que consegue guardar material-testemunho de qualquer planta utilizada”, explica Giovana Vendruscolo.
Comunidade
Embora o Herbário EVB fique sediado, atualmente, dentro do Itaipu Parquetec, as coordenadoras contam que buscam realizar atividades externas à Universidade, voltadas à comunidade, sempre que possível. Entre essas atividades estão exposições itinerantes, visitas a escolas, elaboração de fanzines e eventos de extensão – como o Unilúdica, que foi realizado recentemente no Mercado Público Barrageiro. Além disso, é frequente a visita de pesquisadores com interesse específico nas amostras disponíveis no Herbário.
Giovana ressalta que especialmente as crianças se encantam muito com as plantas e as sementes. “As pessoas se comportam diferente diante das sementes, por exemplo. As crianças adoram mexer”, relata. Para elas, esta é uma porta de entrada fundamental para o conhecimento sobre as plantas. “Já tivemos a oportunidade de trabalhar também com a terceira idade. Foi uma experiência incrível”, lembra Laura.
Balanço e futuro
As professoras Laura e Giovana, curadoras desse acervo tão precioso, ressaltam que esses dez anos de história contaram com a colaboração de muitas pessoas, especialmente estudantes que por ali passaram como bolsistas e estagiários. E para os próximos anos, elas esperam poder ampliar ainda mais as atividades, as parcerias e os espaços do Herbário. “Termos um local próprio, maior, para poder receber as pessoas, seria um sonho”, destaca Laura. “Mais que ter esses exemplares, queremos continuar formando as pessoas”, acrescenta.
Acesse mais fotos do Herbário, no Flickr da UNILA. (Créditos: Moisés Bonfim/SECOM-UNILA)






