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Pesquisador fala sobre as influências da Segunda Guerra Mundial em Foz do Iguaçu

Micael Alvino da Silva conta como alemães e italianos que moravam na Fronteira foram vigiados, presos e afastados da cidade
publicado: 02/05/2022 16h30, última modificação: 13/07/2023 16h39

Na década de 1940, Foz do Iguaçu contava cerca de 1.500 habitantes e, mesmo “escondida” em meio à floresta, a cidade, por se situar em região de fronteira, enfrentou as desconfianças nascidas com a Segunda Guerra Mundial. Alemães, principalmente, e italianos que aqui moravam foram processados, presos e afastados da cidade. As histórias desses moradores são contadas pelo historiador e professor Micael Alvino da Silva no livro “A Segunda Guerra Mundial e a Tríplice Fronteira – A vigilância aos ‘súditos do eixo’ alemães e italianos”. Ele também fala sobre o assunto no programa ¿Qué Pasa?.

 

Quando a guerra começou, em 1939, já fazia mais de 100 anos que os primeiros imigrantes alemães e italianos desembarcaram no Brasil, estabelecendo-se, inicialmente, na região Sul. Esses imigrantes começaram a chegar a Foz do Iguaçu na década de 1920. “Na verdade, não é imigração. Aconteceu muita migração de pessoas que eram descendentes de alemães, os chamados teuto-brasileiros, muitos sequer falavam português porque haviam nascido e crescido nas colônias no Sul do Brasil e, ali, o espaço começou a ficar escasso”, explica Micael. Além do oeste do Paraná, esses migrantes também se deslocaram para o oeste de Santa Catarina e Missiones, na Argentina. “Na década de 1940, havia um núcleo urbano pequeno em Foz do Iguaçu, de 1.500 pessoas mais ou menos. E um terço disso, aproximadamente, eram alemães”, aponta.

A partir de então, diz o pesquisador, houve um “movimento de retirada dos súditos do eixo”, coordenado pela Polícia Civil do Paraná. “Todas as pessoas que se enquadrassem na categoria de súditos do eixo [Alemanha, Itália e Japão] deveriam estar a uma distância segura da Fronteira. Todas essas pessoas passaram a ser vistas como perigo em potencial durante a guerra”, comenta Micael. “E essas pessoas foram obrigadas, de um dia para o outro, em outubro de 1942, a entrar em um caminhão, uma carroça, dependendo das condições e ir para Guarapuava, porque ali seria a distância segura. Isso foi um processo muito traumático.”

Paralelamente a esse deslocamento forçado, também houve muita vigilância a imigrantes alemães ou descendentes. Um desses casos envolveu o padre Manuel Koenner. Em sua casa foram encontrados materiais – entre eles, armas – deixados, em 1937, por um grupo de austríacos, liderados pelo arquiduque Karl Albrecht, ou Albrecht de Habsburgo. Esse grupo, que incluía médico e advogados, estudava a região para a criação de uma futura colônia. “O padre foi preso acusado de ter material de guerra dentro da igreja”, conta o pesquisador. “A gente precisa entender o contexto. Para fazer uma missão, no meio da floresta tropical, na América do Sul, naturalmente, tem de haver material de laboratório, armas, uma série de coisas", pontua. Depois de três anos de investigações, o padre foi inocentado.

Embora o padre tenha sido inocentado da acusação de espionagem e colaboração com o Eixo, Micael ressalva que existia espionagem nazista na América Latina. “Os investigadores, as agências de inteligência têm farta documentação e comprovação de que houve espionagem real”, diz. “Os alemães contavam com espiões profissionais, treinados, mas também agiam por meio da estrutura do estado – por exemplo, adidos que atuavam junto a consulados nessa missão de obter informações – e havia as redes difusas de pessoas comuns que eram acionadas de alguma forma”, completa. Um exemplo é o agricultor Emil Mohrhoff, residente em Sol de Maio – encoberta posteriormente pelo Lago de Itaipu. Emil era o chamado “homem de confiança”, que auxiliava outros imigrantes, atuando junto ao consulado, em assuntos diversos. Em 1939, ele recebeu um ofício perguntando qual era a empresa que estava construindo a estrada ligando Curitiba a Foz do Iguaçu. “Aparentemente, isso é desconexo, mas para a espionagem tudo faz parte de um mosaico. Pode ser que alguém, por alguma razão, precisasse daquela informação. Mas não há registro de que Emil tenha respondido." Micael argumenta que o fato de o agricultor ter mantido o ofício, mostra que ele não era espião. "Qualquer espião, minimamente treinado, teria consumido com o material. O mais próximo de espionagem que nós tivemos foi o caso dele."

Saiba mais:

O livro “A Segunda Guerra Mundial e a Tríplice Fronteira – A vigilância aos 'súditos do eixo' alemães e italianos” está em formato PDF e pode ser baixado gratuitamente na página da EDUNILA