Institucional
Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência: os desafios da UNILA
A UNILA tem, desde 2014, um setor voltado ao atendimento das pessoas com deficiência. Hoje, a Universidade conta com 60 estudantes de graduação com alguma deficiência (física, auditiva, visual ou intelectual) e que são acompanhados desde seu ingresso por uma equipe multidisciplinar. Há também pessoas com deficiência trabalhando na UNILA (na parte administrativa e na docência). “O nosso maior desafio é a permanência do estudante com deficiência na Instituição. A nossa preocupação hoje não é a quantidade de estudantes com deficiência que temos. A nossa preocupação é garantir a permanência desses estudantes”, diz Tahiana Borba Coelho, chefe da Divisão de Apoio à Acessibilidade e Inclusão da Pessoa com Deficiência da UNILA (DAAIPcD).
"A pessoa tem de ser vista e tem de ser lembrada. Ela tem de saber que o espaço é dela assim como é de todos"
Para cumprir o desafio de garantir a permanência é preciso garantir a acessibilidade para todos, diz ela. “Assim, o prédio e a sala de aula têm de ser mais acessíveis, as pessoas têm de estar mais ligadas nas questões da pessoa com deficiência. A pessoa tem de ser vista e tem de ser lembrada. Ela tem de saber que o espaço é dela assim como é de todos. Porque somos uma instituição de ensino, a pessoa está ali para aprender. Então, a gente tem que fazer a nossa parte”, pontua.
Tahiana faz parte da Divisão – que já foi serviço e núcleo – desde 2014, quando ingressou na UNILA. Nesses sete anos, foram registrados muitos avanços, como a ampliação do número de servidores no atendimento e a seleção de alunos monitores que fazem a tutoria dos colegas com deficiência. Mas, para ela, ainda é necessário mais atenção e cuidado nas relações com esses estudantes. “O que é perceptível, para quem trabalha e para quem é pessoa com deficiência, é que a deficiência é vista a partir do momento que se tem alguém da família com deficiência, a partir do momento que se começa a conviver com alguém com deficiência. É muito difícil as pessoas se preocuparem, mesmo dentro da Universidade”, comenta.
Ela cita o exemplo de um estudante com mobilidade reduzida que enfrentou vários desafios para poder estudar e que acabou por trancar a matrícula porque não conseguiu se relacionar com a turma. “Ele demorou muitos anos para tomar a decisão de entrar numa graduação. Ele dizia que estava sendo a melhor experiência da vida dele, que estava realizando um sonho. E o principal problema para ele não foi o transporte [o tempo de deslocamento era grande], não foram outras barreiras físicas, foi que os colegas de sala de aula o excluíram pela deficiência, não faziam questão de ter uma aproximação”, conta. “Quando ele disse que iria trancar a matrícula, pensamos ‘estamos fazendo tudo errado’, porque a gente fica olhando as coisas boas, mas tem as coisas ruins que acontecem. Não foi por questão de mobilidade, foi porque ele não tinha os colegas dele próximos, porque sentia muita exclusão”, completa. “Então, para nós, a segregação é também um grande desafio.”
“A gente vai abrindo esses espaços. É falando, é discutindo, deixando nossa sala sempre aberta, recebendo as pessoas"
Entre as ações em que a Divisão vem trabalhando para envolver a comunidade universitária no assunto e tentar reverter atitudes como a segregação está a realização de oficinas, debates, palestras e rodas de conversa. “A gente vai abrindo esses espaços”, comenta. Embora a participação seja pequena, a equipe da Divisão acredita que esse seja o caminho. “É assim mesmo. É falando, discutindo, deixando nossa sala no Jardim Universitário sempre aberta, recebendo as pessoas”, diz.
O servidor Roy Eddie Marquardt Filho é uma pessoa com deficiência e, há um ano, está trabalhando na Divisão. Quando entrou na UNILA, em 2014, a existência de um setor para o atendimento a pessoas com deficiência chamou a sua atenção. “Porque como pessoa com deficiência foi algo novo. Tenho 30 anos, sou de uma geração que ainda não discutia essas questões de forma institucional como vem acontecendo nas universidades”, comenta. Formado em Direito mais recentemente, Roy diz que aliou o fato de ser servidor público com sua formação na área do direito à educação quando decidiu atuar na Divisão. “Eu consegui vislumbrar a possibilidade de poder atuar ajudando pessoas que são os meus pares, pessoas com deficiência”, comenta.
Nesse ano de trabalho, atuando em várias frentes, mas principalmente em atividades voltadas para a acessibilidade informacional (com sistemas de informação e comunicação internos como o SIG, o site, o Inscreva e outros), o que mais chamou sua atenção como desafio foi dar visibilidade para a temática e para a luta pela educação inclusiva, acessibilidade e práticas pedagógicas inclusivas. “A gente vem conseguindo debater práticas metodológicas inclusivas e oferecer recursos de acessibilidade. Essa é uma conquista muito importante. Porque se conseguirmos promover de fato um ensino inclusivo e acessível, as pessoas com deficiência terão condições de se inserir no mercado de trabalho, ter sua vida de forma digna, com conforto. Ao mesmo tempo, estamos contribuindo para a formação cidadã, de pessoas com deficiência e de pessoas que não têm deficiência”, comenta.
A equipe da DAAIPcD sabe que o trabalho que desenvolve é exigente e constante. “A gente sempre fala que esse é um trabalho da vida. A gente sabe que não é um mundo perfeito. Isso é algo que temos muito na consciência, até para evitar frustrações. No dia a dia a gente vai construindo”, diz Tahiana. Para ela, a motivação para o trabalho vem quando se olha para o início das atividades do setor e se percebe o quanto já foi realizado.
Entre os destaques, ela cita o desenvolvimento do protocolo de atendimento, que estabelece todas as ações que devem ser realizadas a partir do ingresso do estudante com deficiência na Universidade. O estudante é recebido pelo pedagogo ou psicólogo e um técnico em assuntos educacionais, que irão coletar seus dados, incluindo o laudo médico. Esses dados são acrescidos da informação sobre qual a melhor maneira ou o melhor método a ser utilizado para que ele tenha sua acessibilidade garantida. Em seguida, o protocolo é encaminhado à coordenação do curso e aos professores, que terão as informações necessárias para atender o estudante. “Assim, melhoramos a acessibilidade, mesmo que não envolva questões financeiras, em situações pontuais, na rotina mesmo. Fazendo essa mudança, a gente já consegue melhorar a vida desses estudantes.” Ela cita como exemplo uma aula para um estudante surdo. “Mesmo que tenham um intérprete à disposição, muitos conseguem fazer leitura labial. Se o professor souber disso e falar devagar, já estará ajudando muito aquele estudante”, argumenta.
O Brasil tem 17,3 milhões de pessoas com deficiência, segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019, pelo IBGE. “Onde estas pessoas estão? Antes, muitos não saíam de casa. Eram escondidos pelas famílias ou por proteção contra o preconceito. Hoje, as pessoas com deficiência estão tendo voz, estão brigando por seus espaços. É assim que tem de ser. Por isso eu digo que é uma luta da vida inteira. Sempre vai ter coisas pra fazer e pra mudar.”