Institucional
Dia do Orgulho é marcado por ativismo e representatividade dentro e fora da UNILA
Levanta a mão quem acordou hoje assumindo o compromisso de existir e resistir no grande desafio que é viver o orgulho de ser quem é! E que seja assim sempre – não só hoje, mas em especial neste dia –, para contagiar todo o seu entorno sobre a importância de ser feliz. Se orgulho é a palavra-chave, ativismo é o movimento de resistência para alcançar conquistas coletivas.
Para abordar o tema do Dia Internacional do Orgulho neste ano, algumas histórias vão tratar de representação estudantil em evento de lideranças políticas em prol da diversidade, de um projeto de extensão sobre acolhimento de estudantes trans e, ainda, da consolidação da Política de Ações Afirmativas da UNILA, que ratifica a importância e a existência do público que é representado por uma sigla que foi recentemente reformulada para dar visibilidade a novos grupos: LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não binários e outras identidades e orientações).
E ainda tem o convite para a participação de estudantes em audiência pública municipal que vai debater o respeito à diversidade, as políticas públicas de defesa dos direitos desta população e o combate à homofobia. A audiência ocorre hoje (28), às 18h30, em evento promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade, da Prefeitura de Foz do Iguaçu (mais informações ao final).
Experiências de ativismo na fronteira
Na onda do ativismo, encontramos o estudante paraguaio Matías Mendieta Duarte, do curso de Antropologia – Diversidade Cultural Latino-Americana, que conta um pouco da sua experiência de envolvimento com o tema. Seu espírito de liderança o levou, em 2015, a participar do movimento secundarista, no interior de seu país. De presidente do centro estudantil de sua escola, passou a representar o Departamento em que vivia em um congresso nacional e, a partir daí, teve os primeiros contatos com o movimento LGBTQ.
“Eu já estava ‘saindo do closet’, falando com meus pais sobre esse processo. E vindo de uma região rural, entendia que o contexto era bem diferente. Minha experiência no campo e na cidade eram distintas: os olhares, as falas, os risos aconteciam muito mais ali do que na cidade, que era mais tranquilo, mais normal”, conta ele. Matías decidiu ir morar em Assunção para tentar ingressar em uma universidade e seguir os estudos, porém, não logrou êxito, visto a dificuldade de trabalhar e pagar estudos em uma instituição particular. Recebeu, então, convite dos tios para se mudar para a Argentina. Neste momento de decisões, porém, foi diagnosticado como HIV positivo. Assim, a mudança passou a ser uma escolha estratégica: ir para um país com acesso à universidade pública e, também, a equipamentos de saúde mais acessíveis para dar início ao acompanhamento médico.
“Foi quando iniciei meu ativismo de forma muito mais intensa em questões LGBTQ e sobre pessoas com HIV, porque ali o movimento era mais forte, tinha muito mais articulação entre as organizações. E quando iniciei o trabalho, para mim foi uma abertura de cabeça, de emoções, de ideias. Vivia numa diversidade cultural muito grande, com muitos estrangeiros, refugiados, gente de muitos pontos do país, um espaço maravilhoso para se nutrir de tantas experiências”, conta ele. E dois anos depois, em 2019, Matías retorna ao Paraguai já pensando na criação de uma rede de adolescentes e jovens que vivem com HIV, no modelo que via acontecer em outros países.
Foi também fazer um trabalho voluntário na Bolívia por quatro meses e, ao retornar ao Paraguai, decidiu se inscrever na UNILA. O ano já era 2020 e, com a pandemia, viu-se impossibilitado de cruzar a fronteira para retornar ao seu país e, assim, passou todo esse período no Brasil, o que considerou ser uma experiência marcante e que vai levar para toda a sua vida.
No ano passado, ele foi convidado para participar de uma Assembleia Latino-Americana de Adolescentes e Jovens com HIV, em Mar del Plata, Argentina. A partir dali, aproximou-se da Rede Latino-Americana, sendo ele coordenador regional. E então foi escolhido para representar a região do Cone Sul, junto com uma companheira chilena, para participar do VI Encuentro de Liderazgos Políticos LGBTI de las Américas y el Caribe, que vai acontecer no mês de julho, no México. E com essa tarefa, ele resolveu que deveria levar “uma fala coletiva que represente o espaço onde estamos”. Segundo ele, a UNILA tem uma população latino-americana bem representativa e, por isso, “trabalhamos uma Carta Aberta que nos represente coletivamente”, conta.
Em função disso, programou uma série de conferências para discutir temas variados que envolve o universo LGBTQIAPN+, entre os meses de abril e maio, abrindo discussões sobre o que é ser um estudante migrante, sobre questões raciais, o HIV, o papel de liderança e a participação da juventude. Com base no que foi tratado nas conferências, será feita, agora, a consolidação de uma Carta Aberta de Posicionamento da População LGBT da UNILA, documento que será colocado em breve para consulta pública e que futuramente será apresentado na Assembleia no México.
“Me descobri trans dentro da Universidade”
Assim descreve a sua experiência a estudante Maitê Pastorini, do curso de História - Licenciatura, que também ingressou na UNILA no início da pandemia. “Comecei a militância no mesmo momento em que passei a me identificar como trans, e isso aconteceu dentro da Universidade”, conta ela. Junto a outros amigos, criou a Frente Trans Unileira (FTU), que iniciou atividades no ano passado como o projeto de extensão Desenvolvendo Estratégias para o Acolhimento e a Inclusão da População Trans em Foz do Iguaçu, com objetivo de promover o acolhimento por parte dos estudantes veteranos às pessoas trans recém-chegadas à Universidade, para compartilhar ideias, vivências, cultura e também para produção de conhecimento. “Nós compartilhamos entre o grupo nossas pesquisas, trabalhos, artigos que produzimos dentro desse percurso acadêmico, que tem a ver com a temática de gênero e sexualidade”, relata.
Ela diz que a pauta para produção de pesquisa está engatinhando, mas que será bastante enriquecedor seguir por esse caminho. Por enquanto, estão trabalhando a ideia de abrir atividades do FTU para a comunidade externa, além da UNILA, percebendo que são raros os coletivos sobre o tema que interagem na cidade, lembrando que a Casa de Malú é uma Organização Não Governamental, e não um coletivo.
O orientador do projeto, Felipe Cordeiro, diz ser um orgulho participar da iniciativa, levando em conta ser um professor LGBTQ e estar com estudantes trans pensando a UNILA e a relação com a a cidade. “Combinamos o protagonismo da Frente Trans, a experiência no acolhimento já promovidos pelo Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História (ILAACH) e os estudos em Interseccionalidades e Direitos Humanos para identificar as principais dificuldades enfrentadas pela comunidade trans na universidade e na cidade para construir estratégias para facilitar o acesso aos serviços públicos e aos direitos fundamentais dessa população”, afirma.
Entre as atividades do projeto estão a criação de um perfil no Instagram, o mapeamento de pessoas trans na Universidade, a realização de rodas de conversa no ambiente universitário e espaços culturais “LGBT friendly” na cidade, assim como atividades como a exibição de filmes como Bicha Travesti, ocorrida na semana passada.
Outro projeto bem representativo foi a elaboração de um Guia de Retificação de Nome e Gênero para pessoas que vivem na cidade, contendo orientações e passo a passo para fazer as retificações necessárias em documentos oficiais e, também, como garantir a gratuidade desse processo, já que pode custar em torno de 300 reais. Ela lembra que o crachá da UNILA já está dentro dos padrões, com o “nome morto” constando na face traseira e não na dianteira, abaixo do novo nome, como já foi antes.
Questões como essa são parte do que está previsto na recente Política de Ações Afirmativas da UNILA, aprovada pelo CONSUN. A resolução estabelece o reconhecimento da participação de pessoas LGBTQIAPN+ e prevê a criação de mecanismos institucionais para enfrentar preconceitos e incentivar formas de empoderamento dessa parcela da comunidade acadêmica. Alguns Programas de Pós-Graduação, por exemplo, já reservam vagas destinadas para pessoas trans em seus processos seletivos.
Comitê Municipal LGBTQIAPN+
Tanto Matías quanto Maitê são integrantes do Diretório Estudantil Latino-Americano (DELA) e estendem convite a toda a comunidade LGBTQIAPN+ para participar de Audiência Pública que será realizada nesta noite (28), no escritório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Subseção Foz do Iguaçu. A audiência pública é uma das primeiras realizações do Comitê Municipal de Políticas LGBTQIAPN+, criado em fevereiro deste ano. De acordo com o ativista e estudante do curso de Mediação Cultural – Letras e Artes, Diego Carvalho, o evento dá continuidade aos debates sobre as políticas públicas existentes e necessárias, além de lançar um mapeamento de diversidade de gênero da população de Foz do Iguaçu. “A ideia é conhecer a ‘nossa comunidade’, onde ela reside, como é a luta das pessoas na cidade”, conta.
Ele reforça que a audiência reúne temas como educação, segurança pública, os ativistas e o legislativo da cidade, para debater políticas e empoderar a juventude e a comunidade LGBTQ. “Para que nos escutem, para que a gente dialogue e para a gente continuar a construir uma cidade livre do preconceito, da violência e que seja, realmente, diversificada”, diz ele. E também conscientizar a população sobre a importância do combate à LGBTfobia, para a construção de uma sociedade livre de preconceitos. E que seja igualitária, independente da orientação sexual, identidade de gênero e sexo.
A programação inclui apresentação oficial do Comitê Municipal, lançamento do mapeamento da população LGBTQIAPN+ de Foz do Iguaçu, mesas de expositores sobre a temática dos direitos para essa população, debates e apresentações culturais. Se liga que vai rolar ônibus saindo do Jardim Universitário às 18h, com parada no Campus Integração e no Terminal de Transporte Urbano. O retorno está programado para as 21h20. O local da audiência fica na Rua José Menezes, 40, Jardim Guarapuava.