Institucional
UNILA sedia 2º Simpósio Internacional sobre Rotas de Integração Sul-Americana
Abertura do evento foi realizada no Campus Integração, com a presença de autoridades nacionais e internacionais
Teve início nessa quarta-feira (8), no Campus Integração, o 2º Simpósio Internacional sobre Rotas de Integração Sul-Americana (SIRISA), evento que debate os caminhos da integração regional em suas dimensões econômica, social e ambiental. As atividades prosseguem até sábado (11).
O Simpósio aborda o projeto “Rotas de Integração Sul-Americana”, do governo federal, que pretende reduzir custos logísticos, ampliar o comércio regional e impulsionar o desenvolvimento de cidades brasileiras localizadas em áreas de fronteira. A iniciativa organiza, em cinco grandes eixos, obras de infraestrutura rodoviária, ferroviária, hidroviária, portuária, aeroportuária e digital, com articulação entre estados brasileiros, países vizinhos e organismos multilaterais.
Entre esses eixos, a Rota 4 – Bioceânica de Capricórnio passa por Foz do Iguaçu e conecta o Brasil ao Paraguai, Argentina e Chile. A proposta é criar um corredor eficiente para escoar produtos em direção ao Oceano Pacífico, aproximando os mercados brasileiros da Ásia.
Simpósio
A reitora Diana Araujo Pereira abriu o simpósio destacando que “esse evento demonstra para a nossa comunidade a relevância deste projeto, de uma universidade com o perfil da integração latino-americana”. Para a reitora, o papel da UNILA é abrir suas portas para autoridades dos mais diversos setores, “para que a universidade vá se tornando cada vez mais esse espaço de convergência dos interesses pelo desenvolvimento local”. Ela completou ressaltando que a educação superior deve estar vinculada aos projetos de Estado. “Não é possível pensar num projeto como esse, que vai ter impactos sociais e ambientais importantíssimos, sem a presença das universidades, da ciência, da cultura, da tecnologia, que nós criamos dentro das nossas universidades”.
O presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, fez um breve apanhado do histórico da criação das fundações de apoio científico e tecnológico, e ressaltou as possibilidades de integração entre as cidades que formam, como ele classificou, a “metrópole expandida” da tríplice fronteira – formada pelas cidades de Ciudad del Este (Paraguai), Puerto Iguazú (Argentina) e Foz do Iguaçu (Brasil). Para ele, existem diversas necessidades e possibilidades de ampliação das rotas sul-americanas, e neste contexto a Fundação Araucária busca auxiliar nessa integração através da ciência e tecnologia.
A representante da Universidade Nacional de Assunção (UNA) e da Escola Diplomática do Paraguai, Inés Martínez Valinotti, ressaltou que o tema do simpósio é de importância central para as sociedades sul-americanas, tanto do ponto de vista social quanto do econômico. “Felicito a UNILA por esta iniciativa”, destacou.
O presidente do Conselho Municipal de Transporte e Logística, Celso Gallegario, destacou a importância do olhar para os caminhoneiros no planejamento das rotas de integração. Num continente em que a maioria dos transportes de carga é feita via rodovias, ele ressalta que “precisamos dar atenção à infraestrutura. Precisamos dos pontos de parada e descanso, pois estamos nos esquecendo da saúde desses trabalhadores”, defendeu. Para ele, é preciso pensar na integração econômica sem deixar de lado o aspecto humano. “Não podemos esquecer de quem mais contribui, que é o nosso motorista que conduz os caminhões”, frisou.
Rotas Sul-Americanas
A representante da Subsecretaria de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento e Orçamento, Sandra Maria de Carvalho Amaral, apresentou, em detalhes, o projeto das Rotas de Integração Sul-Americana. Ela ressaltou que o trabalho, embora trate de integração física, também precisa levar em conta a cultura e a diversidade dos países sul-americanos. “Não se trata apenas do incremento ao comércio, mas se trata disso também. Não se trata só do passar de um lado ao outro, mas se trata disso também. Então é um projeto bastante ambicioso”, destacou.
Ela fez um apanhado das etapas já percorridas pelo projeto até agora. E relembrou que a integração latino-americana é um preceito constitucional, disposto no artigo 4º da Constituição Federal de 1988. Mas, apesar de a integração sul-americana já ser discutida desde o século 19, foi em maio de 2023 que o atual projeto tomou corpo, a partir da retomada de iniciativas e trabalhos anteriores e da ampliação dessas ideias, no que ficou conhecido como o Consenso de Brasília.
Segundo Sandra, o trabalho envolveu um amplo processo de escuta, no qual foram levantados pontos relativos ao comércio, alfândegas, segurança migrações, entre outros. As rotas foram definidas com base em reuniões com os estados brasileiros e também com os demais países sul-americanos, levando em conta, ainda, questões como convenções e acordos internacionais.
O projeto vai contar com recursos da ordem de 10 bilhões de dólares, sendo US$ 3 bilhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e mais US$ 7 bilhões provenientes pelos demais bancos regionais de desenvolvimento – Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e Fonplata. Futuramente, o projeto pode ser incrementado, a partir de novas fontes de financiamento que já sinalizaram interesse em contribuir.

Os cinco eixos, que contemplam toda a América do Sul e se complementam e interligam entre si, são:
- Rota 1 – Ilha das Guianas, que conecta os estados do Norte (Roraima, Amazonas, Pará e Amapá) à Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Venezuela;
- Rota 2 – Amazônica, ligando o Amazonas à Colômbia, Peru e Equador;
- Rota 3 – Quadrante Rondon, que envolve Acre, Rondônia e Mato Grosso em direção ao Peru, Bolívia e Chile;
- Rota 4 – Bioceânica de Capricórnio, passando por Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, com acesso ao Paraguai, Argentina e Chile, e que inclui Foz do Iguaçu como ponto estratégico;
- Rota 5 – Bioceânica do Sul, que articula Santa Catarina e Rio Grande do Sul com o Uruguai, Argentina e Chile.
Cada eixo reúne obras de transporte e logística para aproximar o Brasil de seus vizinhos e facilitar a saída de mercadorias para o Pacífico.
Na região de Foz (Rota 4 – Bioceânica de Capricórnio), duas obras ganham destaque: a Perimetral Leste, que fará a ligação da BR-277 com a nova Ponte da Integração Brasil–Paraguai, e a duplicação da BR-469 (Rodovia das Cataratas). A Perimetral, com cerca de 15 quilômetros de extensão e seis viadutos, já atingiu 75% de execução, enquanto a duplicação da BR-469 está em andamento. Ambas devem desafogar o tráfego urbano, facilitar a passagem de cargas e melhorar a mobilidade local.
Outra estrutura estratégica é a própria Ponte da Integração, sobre o Rio Paraná, que conecta Foz do Iguaçu à cidade paraguaia de Presidente Franco. A obra deve redistribuir o fluxo hoje concentrado na Ponte da Amizade, integrando-se ao corredor logístico que segue pelo Paraguai em direção ao Chile.
O projeto prevê ainda adequações em aduanas e sistemas de controle fronteiriço, essenciais para garantir rapidez e segurança no transporte internacional de mercadorias. A expectativa é que, com a conclusão das obras, Foz do Iguaçu fortaleça seu papel de cidade-chave na logística regional, somando à vocação turística uma função estratégica no comércio exterior.
Conforme ressaltou Sandra, “são propostas multimodais. São rodovias, hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos, e também envolve linhas de transmissão e de comunicação”. Foram identificadas 190 iniciativas do novo PAC que compõem concessões, estudos, planos, obras civis, e que estão contidas nesses traçados. “Temos acompanhado essas iniciativas, algumas delas já estão concluídas. Muitas em execução, outras tantas em ação preparatória”, relatou.
Para Sandra Amaral, um projeto desta magnitude não pode ser de um governo, mas sim uma política de Estado. “A gente sabe que integração regional não se faz no curto prazo, nem no médio prazo. É uma atividade de longo prazo, perene, então ela precisa estar enraizada com uma política pública de Estado”, frisou.
Comércio intrarregional
Um dos pontos centrais da proposta é fortalecer o comércio intrarregional. De acordo com os dados do Ministério do Planejamento, de tudo o que é comercializado na América do Sul, somente 15% fica no continente – em contraponto à Europa, por exemplo, que pratica 62% de seu comércio entre si. “Além disso, tem um outro aspecto muito importante que é a característica desse comércio: o que nós exportamos para os nossos parceiros de continente são produtos de maior valor agregado, são produtos da indústria de transformação. E o que exportamos para outros mercados fora do nosso continente são os commodities, são produtos primários. Então, se quisermos também sairmos deste lugar, precisamos reforçar, sim, o nosso comércio intrarregional”, acrescentou.
Outra motivação para o projeto é que, atualmente, o principal parceiro comercial brasileiro é a China. “O principal parceiro com o qual comercializamos se encontra no continente asiático, está voltado ao Oceano Pacífico. Isso coloca essa perspectiva da saída para o Oceano Pacífico como uma situação relevante e importante para encurtar os caminhos, encurtar os custos logísticos, e termos um custo do Brasil diminuído para podermos tirar o melhor proveito dessas relações comerciais”, aponta.
Os impactos da implantação do projeto podem ser significativos: geração de empregos diretos e indiretos, valorização de áreas urbanas, maior fluxo de visitantes e dinamização de cadeias produtivas locais. Mas também há desafios, como a necessidade de coordenação entre diferentes órgãos brasileiros e estrangeiros, licenciamento ambiental e manutenção das obras no longo prazo, concluiu.
Brasil: Uma história calcada na diplomacia
A última fala da solenidade de abertura ficou por conta do embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, que fez um apanhado histórico da exploração de rotas na América do Sul desde a época da colonização. Para ele, a identidade brasileira é “calcada no entendimento, no diálogo, na paz e no Direito”.

- Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima falou sobre a tradição diplomática brasileira e a integração regional
O embaixador contextualizou a formação do território brasileiro para citar dois valores importantes: integridade e integração. “Por que a integridade era importante? Porque acabou se conseguindo, em 1750, algo de uma dimensão extraordinária. Passou-se a ter um território que deveria ser o quinto maior território do mundo. Então um grande desafio era preservar a integridade do Brasil. E o outro desafio a integração: como integrar esse território”. Ele ponderou: “quando o Brasil olhava pra dentro de si, o que via? Uma nação politicamente organizada? Um Estado? Não. O Brasil via muitas nações. Muitas nações negras, de diferentes línguas, muitas nações indígenas, de diferentes línguas e também povos, os portugueses, os brasileiros descendentes. Essa foi a situação”, resumiu.
Para o embaixador, historicamente o Brasil possui um pensamento diplomático. “Rio Branco é o grande patrono da diplomacia brasileira, quem negociou as nossas fronteiras, quem estabeleceu esse marco de paz que nós construímos do direito, que nós construímos da nossa história. Podemos sair daqui de cabeça erguida pelo passado que vivemos, na relação respeitosa com todos os nossos vizinhos, com a aplicação do Direito”, avaliou. “O paradigma de Rio Branco era fazer da geografia a melhor política e a melhor economia”, complementou.
Na concepção dele, nas relações internacionais, é primordial que haja confiança entre as partes. “O Mercosul é o símbolo da confiança restaurada, de uma nova lógica que se estabelece, em relação ao que nós queremos, em relação a nós mesmos, ao Estado, ao povo. É símbolo de uma identidade regional, não só do Brasil, mas da Argentina, do Paraguai, do Uruguai, de países que abriram mão das suas dúvidas e passaram a convergir em um ambiente aberto de confiança sobre a democracia. Sem isso você não faz integração.”, completou.
Também fizeram uma breve fala o diretor de Educação da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI) Brasil, Santiago Plata, e a diretora Acadêmica do Programa Integração e Desenvolvimento da OEI, Luciana Tito, que apresentaram o curso "Programa Mercosul Integração e Desenvolvimento", da OEI.
O evento
As atividades do 2º SIRISA prosseguem até sábado, na UNILA. Toda a programação está sendo transmitida pelo YouTube.
Para saber mais, acesse: https://portal.unila.edu.br/eventos/2o-sirisa
Fotos: Moisés Bonfim/SECOM-UNILA
Saiba mais sobre o projeto Rotas da Integração Sul-Americana:
Assista à solenidade de abertura do 2º SIRISA na íntegra:





