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Três novas espécies de esperanças são descobertas no Parque Nacional do Iguaçu

Descrição das novas espécies é um dos resultados de pesquisa realizada por aluno do Mestrado em Biodiversidade Neotropical da UNILA
publicado: 20/08/2019 16h10, última modificação: 30/08/2019 11h38

Uma publicação na revista internacional Zootaxa documenta a descoberta de três novas espécies do inseto conhecido como esperança (família Tettigoniidae), no Parque Nacional do Iguaçu (PNI). A descrição das espécies é o resultado da pesquisa do biólogo Marcos Fianco, mestre em Biodiversidade Neotropical pela UNILA. Durante as pesquisas para a dissertação de mestrado, Fianco se propôs a fazer um inventário de todas as espécies de esperanças que habitam no Parque e descrever os cantos de cada uma delas. No total, foram encontradas 83 espécies, entre elas, mais de dez ainda desconhecidas pela ciência. “O resultado revelou o PNI como o detentor da segunda maior fauna local da América do Sul para o grupo, e isso reforça ainda mais a importância do Parque para a preservação ambiental”, salienta Fianco.

Com a publicação, três novas espécies já são reconhecidas oficialmente pela Ciência. Mas, em breve, após a publicação de outros artigos, outras espécies da região, descobertas pelo pesquisador e seus orientadores, também serão apresentadas.

O nome das espécies recém-descobertas homenageiam a cultura indígena local. A Xenicola taroba, lembra o guerreiro Tarobá, da lenda das Cataratas. A Xenicola xukrixi foi batizada assim por ser uma espécie de pernas longas. Xukrixi significa aranha pequena em kaingang. E a Anisophya una, única espécie de coloração preta do seu gênero, tem em seu nome a palavra una, que significa preto em guarani e única em latim.

 Xenicola tarobaAnisophya una

O canto das esperanças

Para conseguir fazer o inventário faunístico das esperanças, o pesquisador passou, durante um ano, quase 40 dias morando no Parque Nacional do Iguaçu. O levantamento foi feito em várias áreas do Parque, nos municípios de Foz do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Céu Azul e Santa Tereza do Oeste.

A descrição das espécies é o resultado da pesquisa do biólogo Marcos Fianco, mestre em Biodiversidade Neotropical“A cada expedição de campo, eu ficava de dois a cinco dias alojado no PNI. As coletas eram feitas principalmente à noite, com o auxílio de um puçá, um tipo de armadilha feita com redes”, explica Marcos Fianco, que recebeu bolsa da Capes para realizar a pesquisa. Depois da coleta, os insetos foram levados para os laboratórios da UNILA, onde o mestrando gravou o canto e analisou a morfologia das esperanças. Hoje, a coleção de esperanças coletadas está em caixas entomológicas no acervo do Laboratório de Biodiversidade da UNILA e será compartilhada com outras coleções científicas, como a da UFPR e a do Museu Nacional.

Durante a pesquisa, Fianco gravou mais de 150 horas de cantos de distintas espécies de esperanças, que foram descritos, de forma técnica, na dissertação. Ele explica que o canto é, na verdade, um som produzido pelos machos ao friccionar as asas, com o objetivo de atrair parceiras. “O canto é uma das características que diferenciam as espécies do inseto. A Xenicola xukrixi, por exemplo, estridula (canta) a uma frequência de 73 kilohertz (kHz), altíssima para o grupo e mais de três vezes superior à acuidade do ouvido humano. Usamos um gravador específico que consegue detectar sons ultrassônicos”, ressalta.

A importância do levantamento faunístico

A pesquisa serve de pontapé inicial para que novos estudos sobre as esperanças sejam desenvolvidos. “Esta é A coleção de esperanças da UNILA será compartilhada com outras coleções científicas, como a da UFPR e do Museu Nacionalconsiderada uma pesquisa alfa. Então ela pode levar a novas pesquisas nas diversas áreas do conhecimento. E isso é muito positivo, porque hoje, no Brasil, não há pesquisadores que estudem especificamente as esperanças. Temos alguns especialistas em ortópteros, mas focados em grilos e gafanhotos. Então, o campo de pesquisa ainda é muito grande”, afirma o mestre em Biodiversidade. Natural do município de Pato Branco, Fianco defendeu a dissertação na UNILA no final do mês de julho. A descrição científica das novas espécies foi realizada junto com o pesquisador Holger Braun, da Divisão de Entomologia do Museu de La Plata (Argentina) e especialista em esperanças.

O professor do mestrado e orientador do trabalho, Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, lembra que as pesquisas que descrevem a biodiversidade são uma etapa fundamental para ampliar o conhecimento e destacar a importância das áreas naturais. “Esta pesquisa só reforça o quanto o Parque é absurdamente rico e diverso. É uma área essencial para Pesquisa revelou que o Parque é detentor da segunda maior fauna local da América do Sul para o grupomanter a biodiversidade da região e da Floresta Atlântica de interior. Nos surpreendemos em descobrir a quantidade de espécies de esperanças que temos no Parque. Uma informação que ainda era desconhecida, já que nunca tinha sido realizado um levantamento desse tipo”, disse.

O docente lembra que o mestrado em Biodiversidade Neotropical está desenvolvendo pesquisas sobre vários outros grupos, como algas, sapos, abelhas e moscas. “Uma das coisas com que mais podemos contribuir é fornecer essas informações básicas sobre a biodiversidade da região. A qualidade da informação na biologia está relacionada à identificação bem feita das espécias. A partir desses dados, conseguimos trabalhar várias perguntas ecológicas e evolutivas”.

Esperanças e grilos: qual a diferença?

Por conta do tamanho e do formato, muitas vezes as esperanças são confundidas com os grilos, animais que também fazem parte da ordem dos ortópteros. Os dois insetos têm um importante papel na cadeia alimentar, servindo de alimentação para diversas espécies de animais, como morcegos e macacos. Marcos Fianco explica que a principal diferença entre os dois está na cor e no formato das asas. “Os grilos, em geral, são marrons e têm o dorso ventralmente achatado. Já as esperanças têm as asas em formato de folhas e, na maioria das vezes, são verdes”, comenta. Porém, Fianco esclarece que a cor verde nem sempre é uma regra. Prova disso são as três novas espécies descobertas em sua pesquisa, de coloração preta e marrom.

Já o formato de folha é uma estratégia de camuflagem usada, principalmente, como forma de proteção contra seus predadores. “A variedade é muito grande. Existem esperanças que se assemelham a folhas secas, outras que se parecem a folhas manchadas. Isso faz com que, na natureza, seja muito difícil localizá-las”, observa Luiz Roberto Faria Júnior. 

  • Clique aqui e veja algumas fotos da coleção de esperanças do Laboratório de Biodiversidade da UNILA.

Ao contrário dos grilos, as asas das esperanças imitam as folhas

Esperanças têm um importante papel na cadeia alimentar, servindo de alimentação para diversas espécies de animais