Institucional
Soberania, direitos humanos e ambiente pautam início da Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos
“Registra-nos: somos árabes, somos todas e todos palestinas e palestinos”; “Registra-nos, somos haitianos. Somos todas e todos haitianas e haitianos”. Frases como estas, em solidariedade aos povos vítimas de conflitos e ao mesmo tempo de enaltecimento da luta dos oprimidos, deram o tom da Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos, iniciada nesta quinta-feira (22), no Centro de Convenções de Foz do Iguaçu, e que tem a UNILA como uma das apoiadoras. Ditas durante a Mística, cerimônia em que os participantes levam ferramentas usadas no cultivo da terra, alimentos ou usam adereços como mordaças, representando a opressão feminina, ou o lenço árabe, em apoio à Palestina, as frases sintetizam as discussões e demonstram a diversidade de temas debatidos no encontro, como direitos humanos, meio ambiente, questões trabalhistas e a união dos povos.
Além de conferências e mesas de trabalho, o evento chama a atenção também em razão da diversidade dos próprios participantes, que incluem membros de movimentos populares, estudantes, intelectuais, pesquisadores e líderes políticos da América Latina e do Caribe, além de pessoas vindas de países como Bélgica, Canadá e EUA.
Uma das delegações estrangeiras mais numerosas foi a que trouxe cerca de 100 afiliados de agremiações ligadas à Coordenação Nacional de Trabalhadores da Indústria (CNT) da Argentina. Além de numerosa, a comitiva, com representantes de várias províncias do país, também chamou a atenção pelo entusiasmo com que os trabalhadores chegaram à Jornada: cantando e entoando palavras de ordem: “Para nós, é muito importante a unidade da América Latina contra os governos neoliberais e contra tudo o que tem sido praticado na América Latina”, disse Julio Castro, um dos sindicalistas.
Segundo ele, atualmente seu país é o “principal laboratório [de práticas neoliberais] e depois desta ‘prova’ poderá se expandir a todo o continente”. Entre as medidas citadas por ele como passíveis de serem seguidas por governos de outros países, após a Argentina, está a retirada dos direitos trabalhistas e a adoção de medidas impostas por empresas transnacionais, “que querem governar a América Latina, levar nossas riquezas e deixar os trabalhadores cada dia mais pobres, que pensem somente em comer e que não possam ver o saque ao seu redor”.
Membro da Coordenação Nacional do MST pelo Paraná, Roberto Baggio também vê na Jornada um instrumento para mudar o modelo atual. “O que a gente vive hoje é a hegemonia desse modelo capitalista que gera fome, destruição ambiental, ditaduras e guerra”, resume. Para Baggio, trata-se de um regime de destruição que não resolverá o problema da maioria dos povos do mundo. “Por isso aqui, junto com a UNILA, com o conjunto das organizações latino-americanas, com os povos latinos e caribenhos, estamos dialogando a necessidade de construir um projeto de integração latino e caribenho que supere a dinâmica do capitalismo e da exploração”, complementa.
Meio Ambiente
Em relação ao uso das riquezas naturais, a Jornada apresenta soluções não apenas nas conferências e mesas de discussão, mas em todo o evento, como nos estandes em que agricultores comercializam produtos orgânicos e na Tenda da Biodiversidade, projeto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que busca conscientizar quanto à importância das agroflorestas. Montada no interior do Centro de Convenções, a tenda, feita com bambus e, se estivesse ao ar livre, abastecida por energia solar, é uma área em que as pessoas repassam orientações voltadas a cuidar de um bem comum a todos, a natureza, e tudo o que está ligado ao bem-viver.
“É um espaço em que a gente pode integrar saúde com sustentabilidade. E dentro da sustentabilidade, temos a geração de energia, através dos painéis fotovoltaicos, e temos também as estruturas de bambu, que é uma possibilidade das nossas engenharias agrícolas alternativas para a gente poder produzir”, explica Camila Modena, do MST/PR. Para esta estrutura, além de plantas medicinais, foram levadas também mudas de árvores nativas para serem distribuídas.
A intenção do MST é, por meio da Tenda, divulgar o plano Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, campanha nacional que busca orientar sobre questões relacionadas à saúde, sobre as possibilidades da construção alternativa, e quanto às sementes agroecológicas da Bionatur, no Rio Grande do Sul, que produz, beneficia e comercializa essas sementes de espécies varietais e crioulas, sem agrotóxicos e tendo como regra o compromisso social. “Então tudo o que está aqui vai ser doado, para que a gente possa possibilitar este avanço da nossa campanha”, comenta Camila.
Relógio Humano
Diferentemente de espaços semelhantes, em que são desenvolvidas ações voltadas ao meio ambiente e à saúde por meio das plantas, a Tenda da Biodiversidade apresenta uma estrutura que une o funcionamento do corpo humano durante as 24 horas do dia e o uso das ervas medicinais. Chamada de Relógio do Corpo Humano na medicina chinesa, a estrutura montada no solo mostra os horários em que determinados órgãos do corpo devem receber atenção, como a administração dessas ervas, ou até mesmo o período em que se deve evitar forçá-los, e mantê-los em “descanso”. “A cada duas horas tem um órgão ou sistema em seu maior pico de energia. Por exemplo, da uma da manhã às 3h da manhã, a gente tem o fígado trabalhando. É uma forma didática de a gente mostrar o uso das [ervas] medicinais para o nosso próprio corpo e inclusive no momento mais propício”, encerra.
Assista ao vídeo com entrevistas e imagens do primeiro dia da Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos: