Sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis são tema de congresso

O Brasil registrou, no ano passado, 11.971 casos de sífilis congênita – transmitida da mãe para o bebê. Dez anos antes, os casos representavam pouco menos da metade disso: 5.745. O avanço da doença, que teve seu pico em 2017 (quase 25 mil casos), preocupa médicos e autoridades de saúde. “Estamos negligenciando uma doença que a gente pode prevenir. Ou os gestores de saúde estão adotando condutas erradas ou as equipes de saúde não estão realmente se esforçando para fazer o diagnóstico”, argumenta a médica e professora da UNILA Wilma Nancy Campos Arze. “A sífilis congênita é indicador de um pré-natal bem-feito. Onde não há sífilis congênita, o pré-natal está funcionando muito bem”, completa.

Dados que mostram 100% do atendimento pré-natal em um município e aumento da sífilis congênita ao mesmo tempo são o sinal de que algo não correu como o esperado. “Como é que mulheres que fazem o pré-natal ainda têm bebês com sífilis?”, questiona a médica. No pré-natal, é obrigatório haver teste para sífilis e, em caso positivo, também é obrigatório o tratamento da mãe. “Existe uma falha em algum momento: ou não foi detectada [a doença], ou foi detectada e não foi curada, ou não foi acompanhada”, deduz. “A gente se assusta com isso.”

O diagnóstico da doença é possível a partir de um exame – o VDRL – que custa cerca de R$ 10, e o tratamento é feito com benzetacil (R$ 2,50 por ampola). “O investimento para tratar é pouco. O que a gente não está conseguindo é se engajar [na luta contra a doença]”, avalia. Segundo ela, em alguns municípios foram criados comitês de vigilância da sífilis congênita, que se reúnem para analisar e checar os dados, visitar pacientes, investigar.

Wilma Arze destaca o pré-natal masculino como um exemplo de ação que pode dar bons resultados. O parceiro da gestante é incentivado a não só acompanhar as consultas, mas também a realizar exames para detecção de doenças e infecções sexualmente transmissíveis, bem como a realizar exames preventivos (diabetes, colesterol, tipagem sanguínea, etc). Ele também recebe uma carteirinha específica. “Não adianta nada a mulher fazer o tratamento se o marido não faz”, argumenta a médica, que acompanha o pré-natal masculino na rede pública de São Miguel do Iguaçu. “É uma boa estratégia. Os homens saem [da unidade de saúde] orgulhosos com a carteirinha.”

Congresso

Estudos sobre a sífilis congênita e a adquirida estarão em debate no 12º Congresso da Sociedade Brasileira de DST, 8º Congresso Brasileiro de AIDS e 3º Congresso Latino-Americano de IST/HIV/AIDS, de 22 a 25 de setembro, no Hotel Bourbon Cataratas.

A palestra de abertura, com o tema “Transmissão vertical da sífilis: responsabilidades e (re)ação”, será realizada, às 19h, pelo médico Mauro Romero Leal Passos, um dos mais renomados em sua área. O evento deve reunir cerca de 1.300 médicos e profissionais da saúde. Confira a programação completa.

As atividades pré-congresso têm início ainda no sábado, com palestras na aldeia indígena Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, e no Centro da Juventude do Jardim Naipi (Rua Noel Rosa, 378).

No Ocoy, além de palestras, serão oferecidos testes rápidos para sífilis, HIV, hepatites B e C; e realizada uma feira de saúde a cargo de estudantes do curso de Medicina da UNILA, com orientações sobre planejamento familiar, prevenção de doenças, prevenção ao suicídio e bullying, entre outras atividades, que terão apoio de professores de guarani. No Centro da Juventude, também haverá palestras, rodas de conversas e outras atividades voltadas para adolescentes. “Uma das particularidades do congresso é que a gente sempre tenta falar com a população das cidades onde é realizado. Não adianta a gente debater entre quem estuda se a gente não chega a falar com a população”, diz a médica.

Serviço:

12º Congresso da Sociedade Brasileira de DST, 8º Congresso Brasileiro de AIDS e 3º Congresso Latino-Americano de IST/HIV/AIDS
Data: 22 a 25 de setembro
Local: Hotel Bourbon Cataratas
Pré-congresso: 21 de setembro
Locais: Aldeia Ocoy e Centro da Juventude do Jardim Naipi