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Semana da Consciência Negra: uma década de debates sobre questões étnico-raciais

Um dos resultados das lutas da população negra de Foz do Iguaçu é a criação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial
publicado: 19/11/2020 18h30, última modificação: 19/11/2020 18h44
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Angela Maria de Souza, uma das coordenadoras da Semana: o caminho ainda é longo

O trabalho de uma década no debate de questões étnico-raciais e na luta da população negra em Foz do Iguaçu e região é tema da mesa de abertura da 10ª Semana da Consciência Negra da UNILA, que começa nesta sexta-feira (20) – quando também é comemorado o Dia da Consciência Negra – e segue até o dia 27.

Neste ano, as atividades da Semana serão realizadas em parceria com o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Foz do Iguaçu e o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFPR-Foz do Iguaçu.

Para pontuar as conquistas alcançadas em dez anos de atividades, a professora Angela Maria de Souza, uma das coordenadoras da Semana, cita dois espaços “fundamentais para esse percurso”: o Núcleo de Estudos Afro-Latino-Americanos (NEALA), da UNILA, que desenvolve várias pesquisas sobre o tema e foi formado em 2013; e o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), criado em 2019 e resultado de um trabalho conjunto da comunidade local com a UNILA e outras instituições. “Em Foz do Iguaçu, 36% da população se autodeclara preta e parda, ou seja, população negra. E essa população emergiu de forma muito significativa exatamente na construção das pré-conferências da igualdade racial”, aponta Angela. As pré-conferências foram encontros para a preparação da Conferência Municipal da Igualdade Racial, evento no qual foi criado o Compir. Foram realizados mais de 30 encontros, em vários locais da cidade. “As pré-conferências puderam nos sinalizar uma demanda represada, uma demanda que não tinha muito por onde caminhar. Trouxeram pautas que são ainda muito pouco atendidas pelo poder público”, relata.

Angela Maria de Souza
Angela Maria de Souza, uma das coordenadoras da Semana: o caminho ainda é longo

A criação do Conselho, em 2019, veio para reunir as demandas e buscar soluções. “A partir da Semana da Consciência Negra e de vários outros eventos que foram realizados, pudemos intensificar esse debate racial, na cidade e na região, e propor políticas que possam ser efetivadas. E o Conselho é uma dos principais porque reúne as pautas das populações”, afirma Angela, lembrando que o conselho não representa somente a população negra, mas também a comunidade islâmica, indígena, entre outras. “Foi uma luta conjunta que trouxe outros atores públicos. Existe um discurso sobre diversidade, mas na prática, em relação a políticas públicas, por exemplo, essa diversidade é bastante limitada. E é ainda mais limitada quando se pensa em população negra. Essas foram questões amplamente discutidas nas pré-conferências e na conferência”, relata Angela.

Um dos frutos da primeira Semana da Consciência Negra, realizada em 2011, foi a criação do curso de Educação para as Relações Étnico-Raciais, destinado à implementação das Leis 10.639 e 11.645 no currículo escolar. O curso, que é voltado à formação de professores do ensino fundamental e médio, foi criado a partir da demanda da comunidade. “Já havia na cidade toda uma demanda, toda uma população que queria trabalhar, pensar, construir a partir dessas questões. E, com a vinda da UNILA, casam-se os interesses de trabalho conjunto”, conta a docente.

Neste ano, o curso, que inicialmente seria presencial e foi transformado em curso on-line em razão da pandemia, recebeu 800 inscrições. Número que surpreendeu os organizadores. “Eram dez dias de inscrições. No segundo dia, tínhamos mais de 800 inscrições. Foi uma surpresa, mas que também sinaliza a questão de pensar como a educação é fundamental para esse debate”, comenta.

Para Angela, mesmo com os muitos avanços registrados nestes dez anos, “o caminho ainda é longo”. “Muitos professores trabalham esses conteúdos em seus espaços de educação. É possível ver o resultado, mas ao mesmo tempo é um trabalho que ainda precisa de uma longa caminhada”, afirma. Um dos obstáculos a serem vencidos é a resistência à implementação dos estudos étnico-raciais nas escolas. “Um dos problemas principais é a negação do racismo”.

Vencer essas barreiras requer estímulos. A professora Angela diz que, em contraponto à resistência dos adultos, vem a compreensão dos estudantes. “Quando a gente chega numa sala de aula, e as crianças e os adolescentes trazem seus exemplos, suas situações, dá uma energia muito grande porque eles compreendem o que muitos adultos não conseguem, que é pensar nesse processo. Eles conseguem fazer um movimento que para os adultos é mais difícil, que é rever seus posicionamentos.”

A Semana

A mesa de abertura da 10ª Semana da Consciência Negra terá como uma das participantes a Yalorixá Marina Tuniré, do Afoxé Ogúm Fúnmilayó. O grupo, formado por mulheres, é parceiro da UNILA no debate das questões étnico-raciais desde 2011. “Elas têm um trabalho na cidade extremamente importante, mas pouco visibilizado”, afirma Angela. Outra participante da mesa e que também tem uma forte atuação na cidade é a professora da rede municipal de ensino e representante do Compir, Ilsieiry Galvão.

A professora Angela também destaca na programação os debates sobre a população quilombola, com representantes das comunidades Paiol de Telha, da cidade de Reserva do Iguaçu, Centro-Sul do Paraná; e Apepu, de São Miguel do Iguaçu.

A Semana termina com debates sobre a diáspora afro-latino-americana, com participação de docentes do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA), da UNILA; da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; e da Universidad de Cauca, na Colômbia.

A 10ª Semana da Consciência Negra é um evento gratuito e on-line. As inscrições devem ser feitas por meio de formulário eletrônico e haverá emissão de certificado aos inscritos.

Confira a programação completa:

20 de novembro
19h - Mesa: “10 anos de Semana da Consciência Negra: diálogo com o NEABI e o COMPIR”
Participantes:
Angela Maria de Souza (NEALA – UNILA),
Diego Santos (NEABI – IFPR/Foz do Iguaçu),
Yalorixá Marina Tuniré (Afoxé Ogúm Fúnmilayó),
Ilsieiry Galvão (Secretaria Municipal de Educação), representante do COMPIR/Foz do Iguaçu
Mediação: Waldemir Rosa (UNILA)

23 de novembro
17h - Mesa: “População Quilombola no Paraná: Paiol de Telha e Apepu”
Participantes: 
Djankaw Matheus Marques – Comunidade Quilombola Paiol de Telha; 
Ana Maria dos Santos Cruz  - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – (CONAQ) e Comunidade Quilombola Paiol de Telha; 
Maria Serrate dos Santos - Horta da Dona Alaíde/Vila C e Comunidade Apepu; 
Gislaine Aparecida Correia Rodrigues – Comunidade de Apepu; 
Maira de Souza Moreira -assessora da Terra de Direitos 
Mediação: Waldemir Rosa (UNILA)

26 de novembro
18h30- Mesa: “Diálogos afrodiaspóricos na América Latina”
Participantes:
representantes da Associação de Investigadores Afro-Latino-Americanos e do Caribe (AINALC) e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA).
Maria José de Jesus Alves Cordeiro (AINALC-UEMS),
José Antonio Caicedo Ortiz (Universidad de Cauca),
Elizabeth Lucía Castillo Rincón (PPGIELA-UNILA)
Waldemir Rosa (UNILA).
Mediação: professora Angela Maria de Souza (PPGIELA-UNILA)
Abertura: professora Diana Araújo Pereira (PPGIELA-UNILA)

27 de novembro – 15h
Sarau “Vozes Negras”
Mediação: Verônica Acuña

- Para mais informações, acompanhe a página do evento no Facebook ou entre em contato pelo e-mail erer2020unila@gmail.com.