Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Reflexão sobre modalidades de ensino abre atividades do Ciclo de Vivências Formativas
conteúdo

Institucional

Reflexão sobre modalidades de ensino abre atividades do Ciclo de Vivências Formativas

Atividade faz parte da preparação da comunidade acadêmica para o ensino remoto emergencial adotado pela UNILA
publicado: 25/08/2020 10h50, última modificação: 26/08/2020 17h43
Ilka Serra, coordenadora do Núcleo de Tecnologias para Educação da UEMA - (Foto: Rafael Carvalho/UEMA)

Ilka Serra, coordenadora do Núcleo de Tecnologias para Educação da UEMA - (Foto: Rafael Carvalho/UEMA)

Uma live sobre as diferenças entre ensino remoto, educação a distância e educação híbrida e o uso de plataformas digitais inaugurou o 1º Ciclo de Vivências Formativas, atividade de preparação para o ensino remoto emergencial, adotado para este semestre na UNILA (veja programação completa). O tema foi apresentado pela professora e coordenadora geral do Núcleo de Tecnologias para Educação, da Universidade Estadual do Maranhão, Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra.

Ela começou a apresentação falando da necessidade de conhecer os conceitos de educação a distância, ensino remoto e educação híbrida. “Os professores precisam estar muito cientes desses conceitos. São terminologias que muitas vezes nos afastam demais e polarizam muito a educação”, disse.

Para a professora, a pandemia de Covid-19, mais do que trazer mudanças, veio mostrar mudanças que já estavam acontecendo e mostrar a necessidade de a educação se adaptar aos novos cenários e também à internet, como um instrumento para distribuir informação, gerar conhecimento e conexão em rede. “É fundamental entender que não é só disponibilizar conteúdo, mas fazer com que esse conteúdo gere conhecimento para o aluno”, destaca.

Ilka Serra
Ilka Serra, coordenadora do Núcleo de Tecnologias para Educação da UEMA - (Foto: Rafael Carvalho/UEMA)

A polarização entre educação presencial e educação a distância, segundo ela, fez com que as ferramentas tecnológicas na área educacional fossem vistas com preconceito. Um estado que a pandemia vem mudando. “Nós usávamos o aparato tecnológico disponível na internet para tudo, para toda a atividade humana, mas quando era para a educação existia essa barreira, essa resistência.”

Ela questionou o termo distanciamento social, que vem sendo aplicado desde o início da pandemia. “Estamos ouvindo tanto falar de distanciamento social, de aulas não presenciais. Será que são termos, realmente, bem colocados? A pergunta é: nós estamos vivendo um distanciamento social ou um distanciamento físico? Eu acredito que nós estamos vivendo um distanciamento somente físico. Nós nunca estivemos tão socialmente ligados e conectados como hoje”, pondera.

Para conduzir as reflexões sobre a diferenciação entre as modalidades de ensino, a professora utilizou o conceito de distância transacional, proposto por Michael Grahame Moore, que trata da relação professor-aluno na educação, quando esses estão separados no espaço e/ou no tempo. “A distância transacional varia de acordo com o nível de envolvimento proporcionado pelo curso, independentemente da modalidade.”

 “Aula não é um espaço determinado fixo, mas tempo e espaço contínuos de aprendizagem. O importante é aprender e não impor um padrão único sobre onde e como ensinar. "

Ilka Serra argumenta que presença e ausência são conceitos subjetivos ao analisar a forma de ensinar. “O mínimo de distância transacional tem a ver com o máximo de interação que você tem com seu aluno. Você pode estar dentro de uma sala de aula e o aluno estar tão distante que você nem consegue perceber quão distante esse aluno está.”

Ela destacou, também, que o termo educação a distância é visto como pejorativo porque “perpetuou a ideia de que a educação que não acontece fisicamente é uma educação limitada”. Para ela, a educação em sala de aula, muitas vezes, leva à exaustão de professores e alunos. “O professor estava na sala de aula e o aluno conectado com outro mundo que não aquele. Estávamos vivendo um distanciamento transacional muito grande no que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem”, compara. Para ela, a pandemia, que colocou milhões de estudantes e milhares de professores fora das salas de aula, se tornou um momento para a reflexão sobre o futuro da educação.

Modalidades de ensino

Ela explica que somente dois tipos de modalidades de educação são reconhecidos pelo Ministério da Educação: a educação a distância e a educação presencial. “O ensino remoto é o ensino que está sendo possível fazer agora. É uma medida extraordinária que foi aprovada pelo MEC em virtude de uma pandemia, para assegurar ao aluno o menor prejuízo em relação aos conteúdos. O ensino remoto é uma forma adaptada do ensino presencial para o ensino on-line.”

O ensino remoto não precisa ser, segundo ela, necessariamente, subsidiado pelas tecnologias. “Muitas escolas de educação básica estão utilizando outras estratégias para além da tecnologia.” Embora parta do pressuposto do distanciamento geográfico, o ensino remoto, diz a pesquisadora, não impede a interação e não se diferencia, em termos metodológicos, do ensino presencial, a não ser pelo uso de diferentes ferramentas. “O distanciamento transacional é muito menor devido a essa interação”.

A educação a distância, de acordo com os conceitos apresentados por ela, é um processo de ensino-aprendizagem mediado pela tecnologia e que faz com que o aluno, independentemente do tempo e do espaço, possa se tornar agente de sua aprendizagem, a partir do uso de metodologias ativas, materiais diferenciados e meios de comunicação que permitam a interatividade e o trabalho cooperativo.

Para ser um curso a distância, é preciso um projeto pedagógico específico. “Ensino remoto é uma medida extraordinária. O aluno continua sendo um aluno do curso presencial. O curso não é autorizado para ser transformado de presencial para a distância”, compara.

“Falar em democratizar o acesso ao ensino superior ou à educação básica, hoje, primordialmente, tem a ver com falar também sobre inclusão digital."

Um dos grandes diferenciais entre ensino remoto e educação a distância, apontado por Ilka Serra, está relacionado ao espaço e ao tempo das aulas. “No ensino remoto, pelo menos, pelo que está sendo proposto pela maioria das universidades e escolas de educação básica, o professor e o aluno estão conectados ao mesmo tempo, nos dias e horários das aulas presenciais”, comenta, argumentando que a educação a distância tem grande flexibilidade, “considerando que alunos e professores participam de um processo educacional em tempos distintos”, permitido pelo uso de ferramentas como videoaula, chat, podcast, entre outras.

Para a professora Ilka Serra, as reflexões e as mudanças na forma de ensino que estão sendo apresentadas podem ajudar a entender o “que possivelmente venha a ser a educação no ensino superior no Brasil, no pós-pandemia”. “Estamos falando muito sobre educação híbrida. Existem características que aproximam a educação a distância e o ensino remoto proposto hoje para a educação presencial. Essas diferenças em algum momento se entrelaçam. E é exatamente esse elo que vai ser importante para definirmos modelos de educação ou um modelo de educação no pós-pandemia [que é a educação híbrida]”.

Ela ressalta que, num modelo híbrido, “não existe algo que é mais importante ou mais qualitativo do que o outro”. “Mais do que a integração de modalidades, ou seja, mais do que misturar o presencial e o a distância, a educação híbrida deve ser entendida como uma estratégia dinâmica, que envolve diferentes abordagens e modelos pedagógicos, diferentes tecnologias e espaços de aprendizagem”.

Ela acredita que a educação híbrida será capaz de engajar o aluno, de melhorar a produção colaborativa e a construção do aprendizado e lembra que as ferramentas digitais e os ambientes virtuais são imprescindíveis para a interação e a mediação, permitindo a diminuição da distância transacional.

“A tendência hoje para uma educação flexível é exatamente esse futuro fora da sala de aula tradicional, e a pandemia trouxe isso escancarado para percebermos exatamente isso: não preciso de uma sala de aula, de um banco, mas preciso de algo que possa conectar, que possa fazer uma interação, uma diminuição dessa distância transacional aluno e professor”, diz. “Aula não é um espaço determinado fixo, mas tempo e espaço contínuos de aprendizagem. O importante é aprender e não impor um padrão único sobre onde e como ensinar. Existem inúmeras pedagogias que precisam convergir para um único objetivo. Nós, professores, precisamos entender que o objetivo maior hoje de fazer educação é inserir o aluno nesse processo educacional onde ele não está mais fora do processo, como alguém que pode construir, alguém que pode ser um protagonista do processo de ensino e aprendizagem”, reflete. A pandemia, para ela, veio mostrar o “quão enriquecedora” tem sido a utilização das diversas ferramentas digitais dentro do processo de ensino.

Sobre a dificuldade de acesso digital, a professora diz que “a pandemia veio mostrar o quanto estávamos excluindo digitalmente os nossos alunos”. Para ela, o acesso digital é uma questão de política pública e, sozinha, a universidade não vai conseguir vencer essa barreira. “É um problema que precisa ser encarado como uma política pública de necessidade de incluir digitalmente todos os nossos alunos, seja da educação básica, seja do ensino superior”, afirma. “Falar em democratizar o acesso ao ensino superior ou à educação básica, hoje, primordialmente, tem a ver com falar também sobre inclusão digital. São duas coisas que não podem ser separadas. Muitos desses alunos não têm cultura digital e podem ficar à margem do ensino remoto.”