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Tecnologia e Inovação

Projetos da comunidade acadêmica da UNILA trabalham com inovação tecnológica e iniciativas de empreendedorismo

Esses projetos são frutos de pesquisas científicas e de demandas por soluções de problemas em campos diversos
publicado: 16/10/2020 08h01, última modificação: 20/10/2020 12h37

Nas universidades públicas há um terreno fértil para o desenvolvimento de ideias inovadoras a partir de pesquisas científicas, experimentos e também de um olhar atento às demandas sociais, a fim de resolver problemas específicos, em campos diversos. A UNILA desenvolve algumas iniciativas que propõem esse viés, com estudos que visam à inovação tecnológica e social. Como resultado de algumas dessas pesquisas, surgem também projetos de empreendedorismo, que trazem aproximações entre a área acadêmica e alguns setores do mercado.

E foi a partir de uma demanda do mercado que nasceu, na UNILA, o projeto de um sistema de controle de temperatura, que busca otimizar os processos de abastecimento, transporte e armazenamento de gás natural e biometano. “Vamos oferecer uma solução que vai fazer com que se tenha uma utilização plena do equipamento, sem uma perda de tempo. Nossa solução avança um pouco ao reduzir a temperatura a níveis tão baixos quanto o equipamento permita”, explica Fabrizzio Gaspar, mentor do projeto.

O controle da temperatura para um nível mais baixo possibilita abastecimento e transferência dos combustíveis com maior velocidade e quantidade. O sistema proposto também pode favorecer um preço mais acessível na cadeia dos combustíveis. Uma das explicações para isso está no fato de que se, por um lado, gasta-se mais energia para resfriar o gás, por outro lado, o gasto energético pode ser compensado utilizando, por exemplo, compressores de menor pressão, o que pode tornar o processo mais barato.

"Outra vantagem [no sistema de controle de temperatura] é que o custo de equipamentos similares importados é muito elevado e não resfria tanto quanto o nosso equipamento pretende esfriar”, explica Gaspar, que realiza esse projeto com os discentes de graduação da UNILA Raheel Shahbaz, paquistanês do curso de Engenharia de Materiais; e José Palma, guatemalteco do curso de Engenharia de Energia.

Dentre 14 projetos, essa iniciativa foi uma das cinco aprovadas para a terceira etapa no “Desafio Empreendedorismo e Inovação”, promovido este ano pela UNILA, dentro do Programa de Iniciação ao Empreendedorismo, realizado em parceria com o Sebrae e com apoio da Fundação Araucária. Para a defesa do projeto, os estudantes estão construindo um protótipo e convidaram, inclusive, representantes da Associação Brasileira de Distribuidoras de Gás. O projeto é, também, um recorte da pesquisa de Fabrizzio, que é estudante da primeira turma do doutorado em Energia e Sustentabilidade da UNILA. Sua tese, sob orientação da professora Janine Botton, consiste em uma análise do funcionamento de motores de combustão interna a partir da utilização de misturas gasosas de biometano e hidrogênio.

“Estamos trabalhando alinhados às políticas nacionais, com ferramentas que promovam a universalização e interiorização do gás natural. Nessa condição, esperamos que a sociedade tenha acesso ao energético abundante, ambientalmente correto e barato, ajudando a gerar emprego e renda local, com tecnologias desenvolvidas no ambiente da universidade”, avalia Gaspar. O doutorando lembra que carrega o sonho de integração logística e energética na América Latina já na época da fundação da UNILA, de onde, em janeiro de 2010, saiu oficialmente uma caravana coordenada por ele, que percorreu a América do Sul colhendo vivências integracionistas.

 
Tecnologia em prol da saúde

Outro projeto aprovado no “Desafio Empreendedorismo e Inovação” consiste em um sistema de descontaminação do ambiente, com base no efeito luminescente causado pelo espectro ultravioleta UV-C. A equipe do projeto está na fase de desenvolvimento de um protótipo e de estudo de aplicabilidades. Os integrantes do grupo pesquisam um sistema de higienização que “possa ter um mesmo objetivo – de eliminar fungos, bactérias e vírus – em situações diferentes – em uma superfície ou através do ar, por exemplo”, explica Maurício Mafra, mestrando do curso de Energia e Sustentabilidade e integrante do projeto, que tem a mentoria do professor Oswaldo Ando Junior. 

Para a higienização, o projeto também estuda o uso da luz de LED conversível para UV. “É uma luz que você consegue configurar para emitir em frequência UV, também. Já existe essa tecnologia, mas é bem pouco difundida no Brasil”, avalia Igor Barbosa, estudante de Engenharia Química da UNILA. A pesquisa, como relata o discente, também recai sobre os dispositivos de segurança, como uso de sensores de presença ou acesso remoto, uma vez que a exposição à luz ultravioleta usada para descontaminação, a UV-C, pode ser prejudicial à saúde. Para Maurício e Igor, esse projeto tem sido um caminho de aprendizados e de um novo olhar sobre o campo da inovação e do empreendedorismo.

 

 

 

 

 

 

 


"A gente espera que essas pesquisas possam contribuir para a sociedade, a partir de uma instituição que é pública [UNILA], que tem o objetivo de dar algum retorno por meio da inovação e do empreendedorismo”, avalia Maurício, que relata ter desenvolvido um olhar mais atento às soluções de engenharia que possam ser empreendidas. "Nesse projeto, tenho aprendido sobre organização de equipe, gerenciamento de projeto, sobre visão de mercado, marketing, desenho de protótipo e apresentação de produto”, relata Igor Barbosa, que, assim como todos os participantes do “Desafio Empreendedorismo e Inovação”, tem recebido capacitações nessas áreas. Ainda segundo Igor, seu contato com a inovação começou na iniciação científica, quando teve oportunidade de realizar projetos de foguetes na UNILA. "Foi quando eu aprendi a mexer em impressoras 3D, desenho de projeto e modelagem de peças. É uma área bem nova pra mim, higienização de ambientes. Tenho aprendido bastante coisa, e tem sido bem proveitosa a experiência", avalia o discente. 

Mulheres empreendedoras na inovação

O território da inovação também tem sido construído por mulheres empreendedoras. Três estudantes de Engenharia Química da UNILA conquistaram esses espaços por meio de pesquisas desenvolvidas na Universidade, que resultaram no projeto de embalagens sustentáveis, feitas a partir de um polímero biodegradável constituído de resíduos agrícolas. Esse produto foi pensado como alternativa ao plástico convencional – material  que pode demorar centenas de anos para se decompor na natureza. Essa preocupação ambiental está presente nas estudantes desde o começo do projeto, cuja ideia inicial era a construção de impressoras 3D a partir de materiais reciclados, em conjunto com meninas de escolas públicas de Foz do Iguaçu.

“Pesquisando a fundo sobre o reaproveitamento de materiais, o problema do uso extensivo e do descarte incorreto do plástico nos chamou muita atenção, o que nos incentivou a buscar alguma forma de mitigar esse problema”, conta a estudante Gabriele Bueno. A partir desse interesse, as estudantes inscreveram a ideia no “Sinapse da Inovação do Paraná” e passaram por todas as etapas até a formalização efetiva da empresa, denominada Fiber Bio. A empresa também conta com a participação do professor da UNILA Aref Kzam, da área de Engenharia Civil e orientador do projeto de pesquisa; e da professora de Química e Engenharia Química Caroline Gonçalves, que já estudava na UNILA a possibilidade de utilizar resíduos de celulose e arroz para produção de plásticos biodegradáveis.



 

 

 

 

 




As estudantes contam que esperam, com esse projeto, contribuir para mudar o ciclo de desperdício desde a criação do plástico convencional. “Além disso, queremos incentivar outras pessoas a um consumo mais consciente e dar mais visibilidade à causa sustentável e ao protagonismo da mulher na ciência e nos negócios”, afirma Gabriele. A discente Mariana Siqueira, outra integrante do projeto, também avalia a importância do tema da mulher no empreendedorismo para a equipe. “Um dos valores muito fortes para a Fiber Bio é esta igualdade de gênero. Acredito que ainda há preconceitos enraizados na estrutura deste ambiente, mas é possível dizer que muitas coisas têm mudado. Já há uma abertura muito maior e menos pejorativa do que antes. Posso acrescentar, também, que o desafio fica ainda maior por ser mulher e jovem, algo bem diferente neste nicho”, coloca.

A empresa ainda está em fase inicial e em processo de pré-incubação, mas a startup está tomando forma, com novos aprendizados sobre empreendedorismo. Paralelo a isso, as estudantes iniciam o desenvolvimento de um projeto-piloto, com duração prevista para três meses, em conjunto com as empresas-âncora (Voith e Klabin) do desafio Startups Connected da Câmara Brasil-Alemanha, de São Paulo. No mês de setembro, Mariana representou a equipe – formada, ainda, pela discente Isadora Zamataro –, em um pitch de negócios no 8º Congresso de Inovação Brasil-Alemanha. A estudante relata que, dentre os representantes das oito startups vencedoras dos desafios, havia apenas ela e mais uma pesquisadora do sexo feminino. “Ao final até nos cumprimentamos, dizendo que estava feliz por ter uma companheira feminina carregando esta representatividade junto”, conta.

Inovação e patentes

Na UNILA, algumas pesquisas que trabalham com inovação apresentam a perspectiva de patente – caso em que é reconhecido direito de propriedade sobre uma invenção. Entre elas, estão algumas pesquisas desenvolvidas pelo docente de Biotecnologia Kelvinson Viana, que também coordena o Núcleo de Inovação Tecnológica da UNILA (NIT). Dentre elas, duas patentes de testes de diagnósticos da Covid-19 foram depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em uma parceria da UNILA com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Outro estudo, na área de Ciências Agrárias, consiste em uma vacina direcionada à aquicultura, com testes em larga escala no lago de Itaipu, feitos em parceria com uma associação de pescadores de Foz do Iguaçu. O trabalho é continuação de uma dissertação de mestrado da aluna Açucena Rivas, que fez a pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Biociências da UNILA. O NIT-UNILA fez o depósito dessa patente no final de 2019.

Segundo o professor Kelvinson Viana, os resultados de inovação tecnológica são frutos de pesquisas aplicadas, com maiores perspectivas de gerar um produto ou processo que possa chegar ao mercado. “Isso precisa ser analisado com cuidado, porque na academia a gente não tem que trabalhar visando ao mercado, mas com a curiosidade científica, com o livre pensamento. Se algo tiver imediatamente aplicabilidade financeira, tudo bem, mas se não tiver, deve ser trabalhado da mesma forma, com a mesma empolgação e com a mesma seriedade de gestão, senão a Universidade perde seu sentido de existir”, afirma.  

Nesse contexto, ainda segundo o docente, as políticas de inovação e empreendedorismo são fundamentais no ambiente acadêmico, uma vez que “auxiliam, estimulam e fomentam alunos, que têm este perfil, a iniciarem suas ideias pensando em começar um negócio após a graduação, de maneira mais segura, com uma visão mais ampla de mercado e com possibilidades de aplicar os conhecimentos adquiridos na Universidade”, avalia Viana. Nesse sentido, a UNILA tem ofertado algumas ações de capacitação e incentivo, com parceria e apoio de instituições como o Sebrae e a Fundação Araucária. “As ações em andamento têm o sentido de trazer à tona essa cultura empreendedora e de inovação à Universidade”, afirma Daniel Teotonio do Nascimento, chefe da Divisão de Inovação Tecnológica e Fundação de Apoio da UNILA. Ele pontua, também, que empresas em busca de soluções podem realizar um cadastro com suas demandas, por meio de um formulário on-line no sistema Inscreva, da UNILA, descrevendo o problema e os objetivos da parceria. Essa iniciativa faz parte de um programa de integração entre Universidade e empresa.


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