Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Pesquisador fala sobre a comunidade árabe na Tríplice Fronteira
conteúdo

Institucional

Pesquisador fala sobre a comunidade árabe na Tríplice Fronteira

Neste episódio da série ¿Qué Pasa?, Juan Agullo Fernandez analisa a migração árabe e as influências e contribuições dessa comunidade
publicado: 30/07/2021 14h01, última modificação: 30/07/2021 17h49

Um dos elementos que marcam a região da Tríplice Fronteira é a grande presença de imigrantes árabes. O programa ¿Qué Pasá?, produzido pela SECOM, convidou o cientista social e professor da UNILA Juan Agullo Fernandez para falar sobre as origens dessa migração, a força, as relações, as influências e as contribuições da comunidade árabe da fronteira. O episódio completo está disponível no canal da UNILA no YouTube.

Agullo explica que a migração árabe teve início no século 19, mas se aprofundou após a queda do Império Otomano, ao fim da Primeira Guerra Mundial. Na América Latina, as maiores comunidades árabes são encontradas no Brasil, Argentina e Chile.

Como aconteceu com a maioria dos imigrantes, europeus ou não, foi a busca por trabalho e melhores condições de vida que trouxe os árabes para a América Latina. Para a Tríplice Fronteira, essa imigração teve início ainda nos anos 1950, no momento em que o Estado brasileiro, destaca Agullo, passou a valorizar a região com a melhoria da infraestrutura de transporte. “Isso proporciona viabilidade econômica para a Tríplice Fronteira, mas também a torna atraente”, analisa.

A comunidade árabe em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este é formada basicamente por sírios, palestinos e, em sua maioria, libaneses. “Os libaneses têm experiências em fronteiras porque identificam essas regiões como proveitosas em termos comerciais.” Essa comunidade vai ganhando volume nos anos 1980 e 1990, com o início da construção da Itaipu e em consequência também da guerra civil que provocou a saída dos libaneses de seu país.

Integração

O pesquisador destaca o caráter multicultural da América Latina e, principalmente, do Brasil, como um fator facilitador da integração das comunidades árabes com as populações locais. “A América Latina é uma das regiões mais multiculturais do mundo. Esse é um dos grandes valores dessa região.” Nem mesmo a religião, que é um fator mais sensível, provoca desarmonia nas relações sociais, diz ele.

“É preciso levar em conta que [a migração árabe] é uma diáspora, um conceito importante. As diásporas geralmente tendem a manter a identidade nacional, cultural ou religiosa e estabelecer conexões com as comunidades ou países de origem. Só que, ao longo do tempo, isso foi mudando”, comenta. Essa mudança se deu pela presença de comunidades já estabelecidas, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, que passaram a ser a referência para aqueles que se estabeleceram em pontos mais distantes do país, como a Tríplice Fronteira.

Identidade árabe

Para ele, comunidade “não é o termo exato” para falar dos árabes da região. “Eu usaria o plural ‘comunidades’. O que tem é uma identidade árabe muito forte, em geral, na América Latina toda, e que, como acontece geralmente com os árabes, é uma identidade cultural, que tem vínculo com a língua, e religiosa, com vínculo com a religião islâmica. Falamos de comunidades porque não tem uma homogeneidade.”

Questionado sobre as contribuições que os imigrantes árabes trouxeram à região, Agullo disse que esta é uma “pergunta fácil e difícil” ao mesmo tempo. Os elementos culturais, como a culinária, por exemplo, são mais fáceis de serem percebidos, mas estão limitados a contextos locais e mais difusos em cidades maiores, como São Paulo. “Às vezes, tem muito mais importância a força que essas comunidades têm conseguido graças a uma identidade diferenciada como grupo e como grupo de pressão, grupo comercial, que tem conexões com outras regiões do mundo, do que essas pequenas contribuições.”

Em Foz do Iguaçu, diz o pesquisador, o tamanho da comunidade árabe – a segunda maior do Brasil – faz com que a contribuição cultural seja maior. “Nós estamos acostumados com coisas que não são assim tão comuns”, comenta.