Pesquisa
Pesquisa investiga fatores maternos e ambientais associados a anomalias congênitas em Foz do Iguaçu
Uma pesquisa realizada no mestrado em Biociências da UNILA buscou identificar fatores sociodemográficos e ambientais associados a anomalias congênitas em Foz do Iguaçu. No período estudado (2012-2017), foram identificados 230 casos de anomalias congênitas, com taxa média de anomalia de 9,91 a cada mil nascidos vivos no município. O estudo foi conduzido pela estudante Suzana de Souza, egressa do curso de Saúde Coletiva da UNILA, e sob orientação do professor Cezar Rangel Pestana.
“A pesquisa aponta que os fatores associados às anomalias foram o início do pré-natal após o primeiro trimestre, parto cesárea, recém-nascido prematuro, recém-nascido do sexo masculino, baixo peso e com baixo escore de *Apgar no primeiro minuto. O sistema mais prevalentemente afetado foi o musculoesquelético, e as anomalias congênitas mais prevalentes foram fenda labial e/ou palatina e gastrosquise”, aponta Suzana Souza, sobre os dados da pesquisa.
Um dos recortes desse estudo investigou uma possibilidade de associação espacial entre fatores socioambientais e gastrosquise. Dentre esses fatores estão a taxa de parturientes adolescentes; parturientes acima de 35 anos, com início tardio do pré-natal; população sem renda e com alta renda; e residência próxima às linhas de transmissão de energia elétrica. A taxa de parturientes adolescentes, segundo os estudos, por enquanto é o único fator que se pode associar a uma potencial causalidade entre fatores socioambientais e a gastrosquise.
Anomalia rara
A gastrosquise é uma anomalia congênita, caracterizada pelo fechamento anormal da parede abdominal, com externalização das estruturas intra-abdominais. Souza explica que, embora seja ainda uma anomalia rara, ela vem crescendo em âmbito mundial nos últimos 50 anos. Em Foz do Iguaçu, a taxa de prevalência dessa anomalia tem sido de 6.93 a cada 10 mil nascimentos – número maior que a média de outros estudos encontrados na literatura sobre o tema, que é de 3 a cada 10 mil nascimentos.
O estudo investigou recém-nascidos com gastrosquise, no período de 2012 a 2017, e sua distribuição espacial no município. Para essa pesquisa, foi realizado um estudo ecológico com análise espacial, utilizando técnicas de georreferenciamento e estatística espacial. Ou seja, a unidade de observação foi um grupo populacional, e não um indivíduo em si. Além disso, foram aplicados modelos de regressão logística simples e múltipla – técnicas estatísticas que verificam as chances de um determinado evento ocorrer em relação a outros.
Segundo a pesquisadora, “não foram encontradas associações espaciais entre a taxa de gastrosquise e a residência materna próxima às linhas de transmissão de energia. Entretanto, setores censitários com maiores taxas da referida anomalia apresentaram uma chance maior de estarem próximos à região onde se encontram as linhas (norte da cidade)”, explica Suzana de Souza.
A pesquisadora salienta que esse tipo de estudo não permite inferir a causalidade entre campos eletromagnéticos e casos de gastrosquise. “Mas os nossos resultados podem servir de base para uma nova investigação mais aprofundada sobre essa relação. Além disso, a observação espacial dos casos de distribuição de gastrosquise pode contribuir para a gestão da atenção à saúde de gestantes e recém-nascidos em áreas mais suscetíveis”, aponta.
No estudo, para a prevenção de anomalias congênitas, Souza aponta para a importância de ações com foco no planejamento familiar e na busca ativa da gestante para o início precoce do pré-natal. Indica, ainda, a relevância da promoção de ações “com foco em atividades de promoção e educação em saúde, que orientem os futuros pais para adoção de um estilo de vida mais saudável, a ingestão de suplementos vitamínicos e a identificação e manejo de fatores de risco para anomalias congênitas”, conclui.
- Artigo publicado sobre a pesquisa na revista Plos One.
- *Leia mais em: Estudo investiga fatores associados à mortalidade neonatal em Foz do Iguaçu