Institucional
Parlamento Juvenil do Mercosul propõe inclusão digital para ampliar integração

- Parlamentares juvenis durante votação de propostas Foto: Silvio Vera

A inclusão digital é uma condição essencial para ampliar a participação cidadã, favorecer a integração regional e reduzir as desigualdades sociais e educacionais no âmbito do Mercosul. Essa preocupação está evidenciada na declaração final do Parlamento Juvenil do Mercosul, que está em sua 7ª edição e reuniu 50 estudantes do Brasil, Uruguai e Argentina na UNILA, nesta semana.
O documento, elaborado e assinado exclusivamente pelos jovens parlamentares, baseia-se nas discussões em torno do tema “Mercosul Digital: Juventudes e a Inteligência Artificial” e foi dividido em cinco eixos: participação cidadã; integração regional; educação inclusiva; juventudes e trabalho; e direitos humanos. Participaram do evento 27 estudantes de ensino médio de escolas públicas do Brasil, 19 estudantes uruguaios e 5 estudantes argentinos, estes na qualidade de observadores. Ao todo, o encontro contou com 46 alunos de países-membros do Mercosul.
A presidência do Parlamento foi dividida pelo brasileiro Adrian Ferreira da Conceição e pelo uruguaio Agosto Manuel Sorozabal Cabrera. “Para mim, é uma grande honra participar deste intercâmbio cultural, intelectual e educacional tão importante para as nossas nações e para o Mercosul”, comenta. Para ele, ser um jovem parlamentar promove o desenvolvimento pessoal “mas também é muito importante para todo o Mercosul, para as nações e para os jovens da região”, avalia.
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Entre as ações propostas na declaração final, destaca-se a criação de uma plataforma digital para que jovens dos países do bloco possam apresentar problemas e propor soluções. “A plataforma contaria com acompanhamento pedagógico e estudantes eleitos para orientar e viabilizar, junto ao Ministério da Educação, a execução dos projetos e soluções apresentados”, diz trecho do documento. Eles propõem também a criação de um centro de consultas para avaliar os resultados.
Para a integração regional, os parlamentares consideram fundamental incluir a educação tecnológica como disciplina obrigatória em todas as instituições de ensino, respeitando as especificidades de cada sistema educacional. Outra proposta é a criação de Olimpíadas estudantis “com o objetivo de promover a integração entre jovens, estimular a cooperação regional e criar um espaço de desenvolvimento tecnológico e científico”.
No eixo relacionado ao trabalho, os jovens parlamentares afirmam que as tecnologias educacionais “podem superar barreiras territoriais e ampliar as oportunidades de formação”. Eles propõem ainda a flexibilização de horários e critérios para estágios remunerados, “ampliando seu alcance e beneficiando um maior número de jovens, além de gerar mais estágios orientados dentro de suas áreas de interesse”.
Em relação à educação inclusiva, uma das propostas é criar mecanismos que permitam ao Parlamento Juvenil supervisionar a aplicação de políticas de inclusão, “garantindo que nenhum estudante fique para trás”. Eles recomendam o acesso a sites de ensino sem custo, o ensino de línguas e o incentivo ao multilinguismo, a criação de uma biblioteca virtual acessível, entre outras ações.
Ainda entre as propostas, os estudantes sugerem a criação de uma Inteligência Artificial (IA) treinada com dados culturais, históricos e linguísticos, provenientes de um banco de dados do Mercosul. “O objetivo é garantir uma integração adequada entre os países-membros, assegurando que todos tenham acesso às mesmas informações de forma padronizada e confiável.” Os jovens também defendem que os Direitos Humanos sejam tratados como tema transversal nas disciplinas escolares.

A sessão plenária do Parlamento Juvenil do Mercosul foi realizada nesta quinta-feira (14), quando a declaração final foi aprovada pelos participantes. O documento será encaminhado aos ministros da Educação do Mercosul e apresentado ao Parlamento do Mercosul, que tem sede em Montevidéu.
O Parlamento Juvenil do Mercosul é uma iniciativa do Setor Educacional do Mercosul e proporciona um espaço de encontro e diálogo, incentivando o protagonismo juvenil na apresentação de propostas sobre temáticas de interesse comum. A etapa internacional do PJM foi organizada pelo Ministério da Educação, em parceria com a UNILA, o Instituto Federal de Brasília (IFB), o Instituto Federal do Paraná (IFPR), a OEI, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a Itaipu Binacional, a Prefeitura de Foz do Iguaçu e o Parque Nacional do Iguaçu.
Participação

Moradora do interior do Piauí, Ana Vitória Soares Gonçalves conta que viveu uma trajetória marcada por muito envolvimento nas atividades do Parlamento, desde a etapa nacional, e muita ansiedade. “A gente ficou, assim, com o coração na mão. Mas, ao mesmo tempo, a gente estava tão feliz por ver até onde a educação pode nos levar, foi transformador”, conta. De uma família pobre, com pais não alfabetizados, Ana Vitória viveu essa transformação ao longo de seu percurso. “Estar aqui era inimaginável para mim, para a minha realidade. Foi muito, muito, muito mais do que eu sonhei.”
Para ela, ver as diferentes realidades do Brasil e, agora, também a de países vizinhos foi essencial para esse crescimento pessoal e como cidadã. “Isso é essencial para podermos, dentro da sociedade, agir de uma forma mais empática, mais sociável e que traga harmonia para a nossa pátria, que é justamente o que o Brasil precisa bastante.”
Esse longo caminho até Foz do Iguaçu também se repetiu para Agosto Sorozabal, que, durante os vários meses da etapa uruguaia, conheceu e ajudou a construir muitas propostas. “Criamos vários perfis de políticas públicas e elaboramos um documento que refletia todas as políticas públicas ou todas as decisões que queríamos implementar, que queríamos tornar realidade”, relata, explicando que a grande maioria dos colégios de ensino médio de seu país teve participação nessas decisões e políticas.
Ele destaca que esse documento foi votado em assembleia pelo Parlamento do Uruguai e apresentado no PJM. “É muito importante que os jovens da nossa idade conheçam o valor da democracia e do voto, o valor do debate e da troca saudável de ideias. Acho que também é fundamental para a democracia de todo o nosso bloco. Portanto, não se trata apenas de vir aqui para representar e apresentar ideias, mas de toda a jornada que percorremos.”

- Maya Franco: maior compreensão das questões da juventude Foto: Silvio Vera/MEC
Para Maya Franco a experiência no PJM foi muito diferente do que vivencia na sua comunidade, principalmente, na escola. “As necessidades são completamente diferentes, mas há uma coisa que consideramos: a necessidade de participar, de dar a nossa opinião, de debater”, pontua. “Acho que posso tentar aplicar esse tipo de abordagem para gerar debates, para gerar a compreensão do que realmente precisamos, do que nos beneficiará, porque, às vezes, pensamos em nossos próprios interesses e não no interesse geral.”
Conhecer as diferenças entre os países, as características de cada governo, com suas vantagens e desvantagens, foi fundamental para sua percepção de que é preciso continuar a promover a integração do bloco. “Quando nos tornarmos líderes políticos, poderemos trabalhar em conjunto para evitar os problemas que temos hoje.”
“O parlamento nos dá uma melhor compreensão das questões da juventude e nos faz perceber o quão importante e poderoso é para os jovens se unirem para lutar pelo que querem. Dessa forma, diplomaticamente”, avalia Maya .
Ana Vitória também considera importante o fato de ter conseguido conhecer as diferentes culturas e realidades. “Eu realmente não tinha contato com nada do exterior. Saber que a gente está aqui tão pertinho e, ao mesmo tempo, tão longe foi importante. Irei estudar bastante a cultura da América Latina”, entusiasma-se. “E vou levar todas essas ideias, todas as propostas que a gente vem construindo aqui para a minha escola e para a minha região, para a gente conseguir moldar a nossa pátria.”
Integração pela educação
Realizar o Parlamento Juvenil do Mercosul na UNILA faz parte da construção de uma estratégia de aproximação da Universidade com o bloco por meio da educação, como explica a pró-reitora de Relações Institucionais e Internacionais, Suellen Péres de Oliveira. “É a realização de um sonho. O Parlamento Juvenil é a alma do setor educativo do Mercosul”, diz ela, explicando que um dos primeiros movimentos para essa aproximação foi a inclusão da UNILA no papel de observadora nas reuniões de ministros de Educação do Mercosul. O PJM “é um momento de muita aprendizagem”, pontua a pró-reitora, porque, ao desenvolverem seus projetos, os estudantes de cada país do bloco estão pesquisando temas relacionados ao Mercosul, em vários eixos. “Esse projeto é muito importante para o Mercosul porque está formando jovens e professores ao mesmo tempo”, aponta. Para ela, a rotatividade dos países na organização do Parlamento amplia ainda mais o conhecimento sobre o bloco. “É, na minha opinião, uma decisão muito sábia para democratizar o Mercosul”, analisa. O PJM é realizado a cada dois anos no país que estiver na presidência do Mercosul.
O Parlamento Juvenil também é “uma injeção de esperança”, acredita Suellen. “Esperança de que a gente pode superar as diferenças de língua, de cultura, de comportamento, políticas, mas nunca deixar de nos encontrar, nunca perder esse espírito de alegria de estar juntos, e em um encontro focado na essência da política, que é o gosto por debater os problemas, fazer propostas e intervir.” Para a reitora da UNILA, Diana Araujo Pereira, o encontro será um marco na vida dos jovens parlamentares. “Eles estão discutindo assuntos muito importantes e isso marca a vida desses jovens, é o antes e o depois. Nós falamos tanto do futuro, mas é preciso pensar no presente. Essa é uma geração que está se formando para a atuação política na América Latina. E a UNILA está fazendo parte disso”, comemora. LegadoA escolha de Foz do Iguaçu para sediar a primeira edição do Parlamento Juvenil do Mercosul no Brasil partiu, inicialmente, do fato de a cidade estar localizada na Tríplice Fronteira e contar com uma Universidade focada na integração. “É um ato de irmandade e o Ministério da Educação investiu para que essa etapa fosse aqui porque entende que a questão da integração é significativa para a política de governo”, pontua Auriana Diniz, gerente de projeto na Secretaria Executiva do Ministério da Educação. Ela destacou outro ponto nos debates feitos pelos jovens parlamentares: as mudanças climáticas. “Nós estamos às portas da COP-30, e esse tema da preservação ambiental é muito importante dentro da política brasileira. E queremos o protagonismo dos jovens para pensar todos esses pontos em uma perspectiva tanto de presente como de futuro, de preservação do planeta e de preservação dos nossos laços na América Latina.” O protagonismo juvenil também é um dos principais pontos de destaque para Yann Evanovick, coordenador-geral de Política Educacional para a Juventude do Ministério da Educação. “Nós queremos que cada vez mais eles possam assumir, de fato, o protagonismo daquilo que pensam. O evento tem uma programação na qual eles têm lugar de fala. É um espaço de afirmação da autonomia da juventude”, diz. Yann destaca também o fato de a etapa brasileira ter estabelecido critérios étnico-raciais e de paridade de gênero. “Queríamos uma presença que contemplasse a diversidade tão complexa que nós temos no Brasil e no nosso continente.” Como legado, ele espera mais do que o objetivo principal do evento, que é o de intensificar a participação cidadã dos jovens parlamentares. “Se eu pudesse pensar o que poderia ser o maior legado, eu diria que é amor e esperança. Amor e esperança pelo Brasil, pelo Uruguai, pelo Paraguai, pela Argentina, mas também por esse sentimento de América Latina.” |



