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Coleção de livros apresenta a vida dos girinos para crianças

Pesquisador da UNILA é coautor de dois volumes da coleção; livros podem ser baixados gratuitamente, e versão impressa será distribuída em escolas
publicado: 14/05/2019 00h00, última modificação: 14/05/2019 17h10
Exibir carrossel de imagens Livro "Girinos comilões: conhecendo os girinos do Pantanal e do Chaco"

Livro "Girinos comilões: conhecendo os girinos do Pantanal e do Chaco"

“Um grupo de cientistas que pesquisa anfíbios estava muito curioso para entender mais sobre os girinos. Eles já tinham percebido que os girinos de sapos, rãs e pererecas são muito diferentes, mas faltava compreender o porquê da diversidade de formas, cores e comportamento dos girinos.”

capa do Livro: "De girino a adulto: muita história para contar"O trecho do livro “De girino a adulto: muita história para contar” descreve como foi o início do projeto Girinos do Brasil, pesquisa que integra o Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade do Brasil (Sisbiota) e é desenvolvida por 22 pesquisadores de 17 universidades brasileiras, entre elas a UNILA. O livro faz parte de uma coleção destinada a crianças, que nasceu com a pesquisa e que apresenta para a meninada o universo muito particular desses seres minúsculos que habitam corpos d'água de norte a sul do Brasil.

A coleção tem um total de seis livros que estão em fase de impressão, mas que já podem ser baixados em formato eletrônico (clique nas imagens - ao lado e abaixo - para obter os livros). As edições impressas serão distribuídas para bibliotecas de escolas públicas.

No projeto Girinos do Brasil, desenvolvido de 2011 a 2013, foram coletados girinos de mais de 300 espécies de anuros (sapos, rãs e pererecas), encontrados em cinco dos seis biomas brasileiros – Amazônia, Pantanal e Chaco, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado.

Um dos pesquisadores que fizeram parte do trabalho é o professor da UNILA Michel Varajão Garey. Ele é coautor de dois livros da coleção: “De girino a adulto: muita história para contar” e “Girino de todo jeito: conhecendo os girinos da Mata Atlântica”. “Quando estávamos pensando no projeto, chegamos à conclusão de que seria importante incluir uma vertente de popularização da ciência. Escolhemos fazer livros infantis por uma questão de formação, de educação ambiental, e para mostrar a importância dos anfíbios e dos girinos”, explica Michel.

Capa do livro "Girinos de todo jeito: conhecendo os girinos da Mata Atlântica"                capa do livro "Salvando a pele: conhecendo os girinos do Cerrado"    Livro "Girinos comilões: conhecendo os girinos do Pantanal e do Chaco"

O primeiro livro descreve como foi realizada a pesquisa, além de explicar a metamorfose desde a eclosão do ovo, o desenvolvimento do girino e a transformação para a fase adulta. A partir daí, cada livro da coleção é destinado a um dos biomas e a um aspecto dos girinos, por isso a leitura não depende de uma sequência.

Os livros tentam explicar, também, uma preocupação dos cientistas: por que os anfíbios estão em declínio populacional no mundo. “Muitas espécies de anfíbios estão desaparecendo no mundo. São vários fatores. Doenças – principalmente uma provocada por um fungo que tem causado declínio nessas populações –, mas também perda de habitat, causada pelo desmatamento e pela fragmentação [quando a área natural é recortada por uma estrada, por exemplo, e os anfíbios ficam isolados de outros]. As mudanças climáticas interferem, e outro fator importante é a poluição”, enumera Michel.

Capa do livro "Histórias de vida: conhecendo os girinos da caatinga"Outra finalidade dos livros é preencher uma lacuna no aprendizado sobre anfíbios, que na maioria das vezes é restrito à fase adulta. “Como acontece a metamorfose, como é a questão da dieta, o que comem, o comportamento, onde vivem, como a gente sabe que um girino é de uma espécie e não de outra. A ideia foi essa: ampliar, mostrar para crianças como é que a gente faz para saber que os girinos não são todos iguais”, aponta o pesquisador. “A ideia é, também, cultivar o interesse pela ciência, pelo ambiente, pelos anfíbios. Mostrar que os anfíbios são um grupo que merece atenção, que são importantes para o funcionamento dos ecossistemas, para o controle de pragas e de vetores de doenças”, diz, lembrando que, no Brasil, existem mais de mil espécies de anfíbios.

Um dos maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores foi transformar a linguagem científica em uma linguagem acessível para crianças. Michel conta que houve um grande esforço, mas que o olhar de uma pesquisadora foi fundamental. “Aí entra o papel-chave da Flávia”, reconhece, referindo-se a Flávia Pereira Lima. Ela é docente da Universidade Federal de Goiás (UFG), dedica-se à popularização da ciência e foi a responsável pela transformação dos textos que estão nos livros da coleção. “A gente elaborou a história e quem pegou e transformou-a numa linguagem acessível para o público do livro foi a Flávia.”

Livros "Diferentes formas de nascer: conhecendo os girinos da Amazônia"Para o professor, a experiência de produzir livros de ciências para crianças foi marcante. “Foi um dos principais trabalhos que eu fiz, pela relevância que tem. Foi muito motivador”, avalia Michel. “A gente, poucas vezes, consegue transpor os muros da universidade, levar o conhecimento para todo mundo, e um livro desses tem um impacto muito grande.”

Segundo o pesquisador, o projeto Girinos do Brasil, além da coleção de livros infantis, gerou mais de uma dezena de trabalhos publicados em periódicos nacionais e internacionais. A base de dados é bastante extensa e muitas análises ainda serão feitas nos próximos anos. “Foi tudo padronizado para que a gente pudesse ter resultados comparáveis em diferentes regiões. Um dos maiores problemas que a gente tem em estudos dessa escala é a questão da comparação”, explica. Além disso, o projeto gerou desdobramentos, como a coleta de espécies em áreas urbanas e rurais de Foz do Iguaçu, incluindo o Parque Nacional do Iguaçu. Os dados vão integrar a base nacional do projeto Sisbiota: Girinos do Brasil. O próximo objetivo dos pesquisadores será publicar um livro, nesta mesma linha, porém voltado ao público acadêmico.