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Livro analisa relações entre Portugal, Brasil e África nos anos 1930

A obra está disponível gratuitamente em formato digital no site da Editora da UNILA
publicado: 27/05/2025 08h00, última modificação: 27/05/2025 17h15

As complexas relações entre Portugal, Brasil e África, a partir da perspectiva de intelectuais lusitanos exilados, são tema do livro "Um projeto panlusitano no Atlântico Sul: as relações luso-afro-brasileiras nos anos de 1930", recém-lançado pela Editora da UNILA (EDUNILA). A obra está disponível gratuitamente em formato digital no site da Editora.

Na obra, o historiador e docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marcello Felisberto Morais de Assunção, analisa as relações luso-afro-brasileiras a partir das publicações do Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro ao longo da década de 1930. Em um contexto de intensas disputas em torno das noções de raça, mestiçagem e nação, os intelectuais lusitanos exilados no Brasil, que utilizavam o Boletim para expor suas ideias, atuaram como uma “espécie de mediadores dos debates atlânticos”, os quais abordavam a recolocação “da figura do mestiço e do legado africano como vetor positivo para as chamadas nacionalidades pan-lusitanas” – ex-colônias, colônias e a metrópole lusitana.

“A concepção de raça e do próprio colonialismo esboçada por esses intelectuais lusitanos republicanos exilados no Brasil (em diálogo com figuras como Gilberto Freyre, Arthur Ramos, Édison Carneiro no Brasil, e os cabo-verdianos da Claridade) era algo sui generis diante da hegemonia do social-darwinismo da gestão colonial centralista do Estado imperial luso-africano português”, escreve o autor. Para ele, esses intelectuais anteciparam os pressupostos reformistas da gestão colonial e do ideário luso-tropical, que seria central para o colonialismo do pós-guerra.

Marcello Assunção, que também é professor adjunto de Educação e Relações Étnico-Raciais e autor de livros sobre pensamento afro-diaspórico e pensamento social negro brasileiro, utilizou como foto principal os 20 volumes do Boletim. “Estudar uma corrente do colonialismo português como a Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro é perscrutar como em uma história nem tão distante, uma intelligentsia dita ‘progressista’ e ‘democrática’ (como muitas vezes a rememoração histórica tende a construir), reiterou as práticas de um dos capítulos mais tenebrosos da história da humanidade: o colonialismo”, escreve ele. As páginas do Boletim, reflete o autor, são um espaço “privilegiado para apreender a complexidade do discurso colonialista para além de uma visão mecanicista da sua mera reprodução externa nas colônias (Angola, Moçambique, etc) e ex-colônias (Brasil)”.

Com 365 páginas, o livro está divido em cinco capítulos que abordam o contexto dos debates sobre o Império e o colonialismo; a formação de uma política imperial; o engajamento “imperial” nas produções periódicas; as diferentes fases do Boletim; o fenômeno do pan-nacionalismo; a dimensão “republicana” do colonialismo no boletim; e a ideia de “vocação imperial” dos republicanos do boletim no seio de sua historiografia e etnologia.