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Vida Universitária

Las Unileras: Mulheres reais na Universidade

Na Universidade, mulheres conquistam novos espaços enquanto continuam lutando por mais igualdade e representatividade
publicado: 08/03/2020 09h15, última modificação: 08/03/2020 09h15

Quem é a mulher unilera? Neste 8 março, Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Comunicação Social e o Comitê Executivo pela Equidade de Gênero e Diversidade propuseram-se a tentar responder essa pergunta. Procuramos oito mulheres, representantes das categorias que fazem parte da comunidade acadêmica - alunas, professoras, técnica-administrativas e terceirizadas. Como já esperávamos, as mulheres na UNILA são muito diversas. Levam consigo diferentes origens, culturas, opiniões e histórias de vida. Mas todas elas parecem ter algo em comum. Ao mesmo tempo em que conquistam espaços, elas continuam lutando por uma Universidade e uma sociedade mais inclusiva e igualitária. 

Conheçam Las Unileras

Deocilda Procópio Bello


Uma mulher na Segurança da UNILA 

Deocilda Procópio Bello trabalha como vigia da Unidade Jardim Universitário desde o início deste ano. “Era minha vontade trabalhar na área da segurança, desde muito nova. Mas, só pude fazer o curso e me dedicar a isso depois que meus filhos cresceram”, conta. Ela ressalta que sempre gostou de trabalhar com o público e que está achando muito interessante a experiência que está tendo na UNILA. “Aqui, tem a questão da convivência com pessoas de vários países que está sendo muito legal. É maravilhoso, principalmente pelo contato com os alunos”.

Para Deocilda, o tratamento ainda não é o mesmo a homens e mulheres que atuam na área da segurança. “Já evoluímos bastante, pois antes não existia mulher nesse tipo de serviço. Mas ainda há muito machismo. Na UNILA é muito tranquilo, mas em outros lugares - como em eventos, por exemplo - percebo que não existe o mesmo respeito com homens e mulheres. Porém, penso que agindo com respeito e educação é possível ‘quebrar’ quem tenta se impor fisicamente. Acredito que estamos no caminho para que, no futuro, seja natural as mulheres trabalharem em qualquer tipo de profissão”, avalia. 

 Clarissa Buss

Construindo uma Universidade

A arquiteta e urbanista Clarissa Buss morava em Medianeira quando foi aprovada no concurso da UNILA, em 2014. Nos primeiros anos, pegava estrada todos os dias para trabalhar. “Com o tempo, a rotina tornou-se maçante e a vontade de residir em Foz do Iguaçu e estar mais próxima do meu trabalho e colegas aumentou. Em 2017, finalmente me tornei iguaçuense”, conta. Ela explica que o dia a dia na Secretaria de Implantação do Campus (SECIC) é movido por desafios. “Trabalhamos com demandas diversas, desde layouts até projetos complexos, almejando o tão sonhado campus próprio. Desenvolvemos detalhamentos de mobiliários, especificamos produtos, fiscalizamos obras, lidamos com fornecedores e trabalhadores da construção civil, atendemos docentes e discentes, buscamos as aprovações dos projetos junto aos órgãos externos e também auxiliamos no planejamento da infraestrutura da Universidade”.

Clarissa revela que se sente privilegiada por trabalhar com o que realmente gosta. “Como profissional, tenho a honra de ter ao meu lado outras quatro competentes arquitetas e uma engenheira civil, com quem posso compartilhar os desafios da nossa atividade. Falando por todas nós, digo que a construção civil é um setor que ainda é, majoritariamente, formado por homens e que, ainda hoje, apresenta preconceito e resistência para a inserção de mulheres em todos os campos de atuação. Contudo, nos últimos anos, o interesse das mulheres pelo setor vem aumentando, e elas estão ingressando mais nos cursos superiores e técnicos da área. Acredito que esse crescimento é, também, reflexo de uma sociedade que não aceita mais imposições machistas no cotidiano, tampouco na prática profissional. Nosso trabalho se soma ao de muitos outros na construção civil, e o setor só tem a ganhar com a participação das mulheres”, ressalta.

 Alessandra Mawu Defendi Oliveira

O desafio da inclusão da mulher trans 

Ao entrar na UNILA, em 2019, Alessandra Mawu Defendi Oliveira transformou a oportunidade de ingressar no ensino superior em um compromisso: o de ressignificar a presença da mulher transexual na Universidade. Conforme dados da Andifes, atualmente estudantes transexuais representam cerca de 0,1% do total de alunos das instituições federais de ensino superior. “A maioria das mulheres trans não sabe ler e escrever, o que limita o acesso ao ensino formal e as possibilidades de trabalho. Isso é algo emblemático que me faz refletir como eu, estando na Universidade, consigo ajudar essas mulheres. Acho importante que as pessoas me vejam no ônibus a caminho da UNILA, me vejam circulando pelo campus ou pegando livros na biblioteca, para que saibam que a mulher trans pode estudar, pode ocupar esses espaços. A prostituição e marginalidade não devem ser as únicas alterativas”, salienta a iguaçuense, de 18 anos, que faz parte da Associação de Travestis e Transexuais de Foz do Iguaçu, a Casa de Malhú.

Como futura antropóloga, Alessandra diz ter o desafio de tentar incluir as pessoas trans nas discussões sobre a diversidade cultural latino-americana. “Uma autora chamada Coral Herrera Gómez mostrou que 150 grupos ameríndios têm a presença de pessoas trans em suas conjunturas culturais. Infelizmente, dentro do currículo acadêmico, as mulheres trans ainda não são colocadas como produtoras de história, produtoras de narrativas. A gente costuma estudar, maioritariamente, pessoas que estão incluídas dentro de uma cisnormatividade. O desafio, agora, é começar a produzir conhecimento sobre e a partir das mulheres trans que, historicamente, são ignoradas”, explica a estudante, que está no terceiro semestre do curso de Antropologia – Diversidade Cultural Latino-Americana. Na UNILA, Alessandra já realizou pesquisas sobre as visões de gênero dos Amarete, na Bolívia, as muxes mexicanas e as mulheres trans indígenas no marco do conflito armado colombiano. Agora, ela prepara um capítulo de um livro escrito “a quatro mãos” com Megg Rayara, a primeira travesti negra a conquistar o título de doutora no Brasil e uma de suas maiores inspirações na vida acadêmica.

Julia Alves

Por mais mulheres nos espaços de decisão 

Todos os dias, quando entra em sala de aula, a professora de Espanhol Júlia Alves leva parte de sua experiência de vida e visão de mundo para compartilhar com seus alunos. Mulher negra, nascida na periferia de São Paulo, a primeira de sua família a completar o ensino superior, Júlia acredita que sua história lhe permite ter um olhar diferenciado na docência, o que é sua principal contribuição na UNILA. “Por ter estudado toda a minha vida em escola pública, ter vindo de uma periferia de uma grande cidade e também ter uma experiência anterior no magistério, acredito ter uma outra concepção sobre o que deve ser uma educação pública de qualidade, humanizadora e com ensino crítico. Sinto que meus estudantes, sobretudo os de baixa renda advindos de periferias, assim como eu, não só se sentem acolhidos como também se sentem representados ao me ver ali. Além disso, levo discussões que podem impactar positivamente na formação de todos os alunos, como reflexões sobre as relações étnico-raciais, gênero e diversidade. Embora eu dê aula de Espanhol, prezo pelo o debate e parto da perspectiva da interdisciplinaridade no Ciclo Comum de Estudos”, explicou Júlia, que já atuou em todos os níveis de ensino: creche, educação infantil, ensino médio, Educação de Jovens e Adultos, até chegar no ensino superior.

Como mulher, Júlia sente falta de ver mais mulheres nos espaços de decisão da Universidade. Para ela, a presença das mulheres é fundamental para a compreensão de outras situações específicas de outras mulheres, como é o caso da maternidade. “A Universidade não é diferente de outros espaços da sociedade em que nós, mulheres, temos que estar constantemente em movimento de luta por igualdade de direitos. Mesmo aqui, estamos suscetíveis às piadas machistas, ao assédio, à falta de prestígio de algumas pesquisas e outras situações. A ocupação de espaços de liderança é fundamental para que, por exemplo, se mude a relação com as professoras, as técnicas e as discentes que são mães e que, muitas vezes, não têm suas vivências levadas em consideração no desenvolvimento do trabalho e das atividades acadêmicas. Somente mulheres conseguem compreender situações específicas de outras mulheres”.

 Roseane de Souza

Em luta por uma universidade de todos

“Tudo é diferente para uma trabalhadora mãe, pois somos afetadas de forma mais intensa pelas relações de trabalho”. A frase é da assistente social Roseane de Souza. Atuando desde 2014 na Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, Roseane enfrenta o dilema de conciliar a rotina de servidora pública com as responsabilidades da maternidade e a necessidade de ter um tempo para si. Realidade que é a mesma de muitas mulheres, dentro e fora da Universidade. “Ninguém tem que dizer para uma trabalhadora mãe trabalhar mais. Já nos cobramos o tempo todo em sermos boas trabalhadoras e, ao mesmo tempo, boas mães. Essa é uma relação perversa imposta às mulheres pela sociedade patriarcal”, colocou Roseane, que é mãe de Maria Vitória, de 12 anos, e Ana Alice, 10 anos.

Por viver essa realidade diariamente em sua rotina pessoal e profissional, Roseane acredita que, como mulher e mãe, sua principal contribuição para a UNILA é a de defender que a Universidade seja um espaço para todos. “A Universidade deve ser um espaço, de fato, público, feito e frequentado por pessoas que vivem o nosso cotidiano, a nossa realidade, as nossas dificuldades, voltado para a diversidade e o combate às desigualdades. Como mãe e mulher, este espaço deve ser defendido e construído para nossos filhos”.
           

Zavel Ambosio Quispe

Rede de apoio é fundamental

Em fevereiro de 2018, Zavel Ambosio Quispe deixou sua cidade natal, Huancayo, no Peru, para estudar Saúde Coletiva na UNILA. Como toda aluna internacional, ela trazia consigo a ansiedade e a curiosidade sobre como seria sua adaptação ao novo país, a nova língua e a uma cultura diferente. Mas Zavel tinha ainda outras dúvidas. Deficiente auditiva, sua principal preocupação era se seria aceita e se conseguiria acompanhar as aulas. Sua dúvida não era à toa, já que essa era sua segunda tentativa de cursar o ensino superior. “En el año 2016 ingresé a una universidad pública en Perú, con el curso de Enfermería. Tuve muchas dificultades. Por ser una persona con deficiencias auditivas no tuve el apoyo ni la paciencia por parte de mis colegas y profesores”, lembra Zavel.

Na UNILA, a história foi diferente. Zavel diz ser muito grata ao suporte dos professores, dos colegas, dos servidores do Núcleo de Acessibilidade e, principalmente, da aluna de Ciências Biológicas Diana Bogado Molinas, que atua como sua monitora. Para ela, esse apoio foi fundamental para enfrentar os desafios, que são muitos e são diários. “Yo acepté la decisión de cambiar mi vida, mi visión, mis pensamientos, a pesar de la preocupación de mis padres. Aún tengo dificultades para aprender el portugués y para adaptarme aquí en Foz. Aunque eso me está tomando mucho tiempo, sé que puedo. Mi mayor desafío como mujer y alumna de la UNILA es no rendirme y espero, en el futuro, como profesional, poder contribuir para mejorar la sociedad con esa visión”.

 Marizete Schmidt

 

Orgulho de colaborar com a educação pública

“Gosto muito das pessoas, das amizades que fiz aqui. Dou bastante atenção aos alunos, porque sei que muitos estão longe da família. Como mãe, penso muito nisso, pois minha filha também estuda na UNILA. Por isso, busco dar esse apoio aos estudantes”. É assim que Marizete Schmidt, auxiliar de serviços gerais, resume os quase sete anos de trabalho na Instituição. “Tenho muito orgulho de trabalhar numa universidade e, de alguma forma, colaborar com a educação pública”, complementa.

Ana Paula, filha de Marizete, irá se formar em Letras - Espanhol e Português como Línguas Estrangeiras, neste ano. “Para mim é uma glória minha filha poder estudar. Ela está gostando muito do curso e pretende trabalhar como professora. Procuro dar apoio a ela de todas as formas que posso. Tanto ela quanto eu somos divorciadas, e isso é algo que tiramos de letra. Felizmente, nós, mulheres, estamos mais empoderadas, estamos tendo mais opções de escolha”, salienta Marizete.

 Carmen Gamarra

 

Mulheres ainda enfrentam dificuldades na vida acadêmica

Carmen Gamarra foi a primeira docente do curso de Saúde Coletiva da UNILA.  Até 2017, ela participou de todos os momentos importantes do curso, como a estruturação do Projeto Político Pedagógico, a participação do Núcleo Docente Estruturante. Desde 2014, tem participação no colegiado e está na coordenação e acompanhamento dos estágios. “He estado acompañando a cada uno de los estudiantes graduados del curso. Pero considero particularmente importante mi contribución para crear y fortalecer el vínculo entre el curso con la región - escuelas, unidades de salud, secretaría de salud, departamento regional de salud del estado) - a través de actividades de pasantía, investigación, extensión y prácticas interdisciplinares”, coloca Carmen.

A professora diz sentir seu trabalho reconhecido na UNILA por colegas e alunos. Contudo, ela reconhece as dificuldades que as mulheres enfrentam na vida acadêmica. “La docente trabaja duro en la universidad y todavía tiene que pensar en las tareas domésticas. Veo que los hombres ocupan su tiempo libre para actualizarse con artículos y nuevas investigaciones. Por otro lado, las mujeres terminan ocupando su tiempo libre en actividades domésticas. Incluso con una sociedad que lucha por la igualdad, es muy difícil para las mujeres deshacerse de estos trabajos ”.

 

E tem mais

Aproveite o mês de março para inteirar-se sobre o que está sendo produzido por mulheres na academia. Em homenagem às mulheres cientistas, a SECOM criou, no canal da UNILA no YouTube, a playlist Las Unileras. São 20 capítulos da websérie Charlas, com entrevistas com mulheres pesquisadoras que atuam em várias áreas do conhecimento.