Extensão
Encontros de Ori une cultura, cinema e ancestralidade em parceria com a UNILA
Ato de resistência e de valorização das comunidades tradicionais, o Encontros de Ori chegou a sua terceira edição consolidando sua proposta de potencializar saberes, lutar contra o racismo e os preconceitos e valorizar culturas. Conhecido por promover oficinas, debates, exposições e outras atividades com este fim, o evento aumentou seu escopo em 2025, por meio da 1ª Mostra de Cinema. Em apenas dois dias, além da programação comum aos anos anteriores, foram exibidos mais de 20 filmes produzidos em vários Estados do país. Voltado às questões afro-indígenas, o evento contou com a participação de servidores, discentes e egressos da UNILA, cujo apoio institucional fortaleceu as atividades.
Criado em 2017, o Encontros de Ori – Povos e Comunidades Tradicionais e Memória Ancestral, como o nome indica, promove uma aproximação com a diversidade, por meio da valorização dos povos tradicionais. Como explica Izabela Fernandes de Souza, idealizadora e coordenadora do projeto, o momento visa a potencializar saberes, lutar contra o racismo e contra os preconceitos e valorizar “essas culturas, que são diversas, e suas práticas, que ensinam muito sobre modos diferentes de cuidar e de lidar com o tempo, com o espaço e com as pessoas”, contextualiza.
Com essa perspectiva, o segundo encontro foi organizado em 2021, ano em que foram obtidos recursos do Fundo de Cultura de Foz do Iguaçu. Nessas duas primeiras edições, apesar de o cinema estar em discussão, não houve mostras voltadas à exibição das produções. Foram organizadas exposições fotográficas, oficinas de formação sobre o contexto de povos tradicionais e sobre a cultura popular, especialmente em relação ao contexto de fronteira. Ampliada, por meio de aportes não apenas do Fundo, mas também da Lei Paulo Gustavo (LC nº 195/2022), a edição de 2025 somou a Mostra às atividades já existentes.
“Essa edição do Encontros de Ori é a oportunidade que temos de unir reflexão, debates, formação com o espaço do cinema enquanto mostra também e lugar de afeto. De sermos afetados por essas obras que tematizam e passam por esses conteúdos”.

- Apoios fortaleceram evento e permitiram sua ampliação
Para parte voltada ao cinema, ao todo 37 produções se inscreveram – sendo dois longas-metragens. Dessas, 20 foram selecionadas e exibidas em vários espaços de Foz do Iguaçu. Dessas obras, três receberam um prêmio de R$ 1 mil: “Nhemongarai”, de Jorge Morinico e Hopi Chapman; “Urubá”, de Rodrigo Sena; e “Pedagogias da navalha”, de Colle Christine, Alma Flora e Tiana dos Santos.
Nesta edição, além da inserção da Mostra de Cinema, o Encontros de Ori teve suas atividades levadas para outros espaços, visando uma maior audiência. A primeira ação neste sentido se deu no Festival de Culturas da UNILA (FeCult), no início de setembro, por meio de uma parceria com a PROEX. Essa mesma união possibilitou a exibição no Colégio Flávio Warken (Vila C) e no Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Foz do Iguaçu.
UNILA
Egressa da UNILA, Izabela avalia que o apoio da Universidade tem sido fundamental na trajetória do projeto e na sua expansão. A instituição tem sido parceira, sobretudo por meio das conexões com a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX). “Nós estamos lidando com uma iniciativa que dialoga com povos tradicionais. Nós temos toda uma especificidade dessa territorialidade e esse aporte da UNILA viabiliza o ingresso de pessoas, a divulgação e abrangência da nossa atividade”, pondera. Para ela, isso comprova o potencial da Universidade em fomentar saberes.
![]() |
![]() |
Um desses fomentos pôde ser observado durante a programação do Encontros de Ori, em que a participação de discentes foi facilitada pela concessão de transporte até o Ilê Alaketu Ijobá Asé Baru. No local, os alunos – muitos deles de outros países – foram acolhidos pela organização, que ofereceu explicações sobre o significado e a simbologia de espaços semelhantes, não apenas para as religiões de matriz africana, mas também para outras questões ligadas à negritude.
A presença da Universidade esteve em destaque ainda nas mesas de abertura e de encerramento da ação. Na primeira noite, Patrícia Pinheiro, docente de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar, dividiu a discussão sobre “Povos Tradicionais em Contexto de Fronteira – Cinema e Territórios da Memória”, com o babalorixá, coreógrafo e designer de Dança Pedro Almeida, mestre em Estudos Latino-Americanos pela UNILA. “Falamos aqui sobre a importância de um conhecimento que vem do terreiro. Acho que essa é a grande questão: que esse conhecimento seja valorizado, e passe por diferentes expressões culturais, a dança, a música, o cinema”, resumiu Patrícia.
Graduada em Ciências Sociais e pós-doutora em Antropologia, Patrícia vê em iniciativas como o Encontros de Ori e a Mostra de Cinema uma forma de levar a sociedade a compreender melhor os ritos afro-brasileiros. “É também uma maneira de a gente romper o preconceito e o racismo, de conhecer e valorizar [outras culturas]”.
Na mesa de encerramento, a participação da UNILA se deu por meio do Gerson Galo Ledezma, coordenador do Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA). Tendo como tema “Narrativas ancestrais: confluências e saberes tradicionais em cena”, o docente dividiu os debates com a ialorixá Edna de Baru. “Aqui, estamos falando justamente de ancestralidade”, resumiu a religiosa.
Segundo Edna, ao se falar de ori – que, entre outros, significa cabeça –, fala-se em ancestralidade. Com essa perspectiva, receber um evento como o Encontro é uma oportunidade de promover uma inter-relação de saberes e a renovação com os ancestrais. “Trazendo cada vez mais vivências, saberes, entendimentos e, ao mesmo tempo, agrupando outros oris”, contextualiza.
Retroalimentação
Representando a Reitoria, a secretária de Ações Afirmativas e Equidade, Senilde Alcantara Guanaes, diz ver eventos que unem a UNILA a espaços de resistência e de saberes ancestrais como “pontos de confluência entre a Universidade e a comunidade”. Essa particularidade se configura, de acordo com ela, em uma “retroalimentação”: “Todas as vezes em que a Universidade está nesses encontros, ‘ela aprende’. Leva esse conhecimento para dentro da Universidade”, ilustra. Esse aprendizado, conforme a secretária, faz com que a instituição “cresça, se expanda, e que as comunidades participem cada vez mais do processo de conhecimento científico acadêmico”, encerrou. Professor de História do IFPR, Leonir Colombo também avalia positivamente a relação entre as instituições de ensino e as comunidades tradicionais. Integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) do instituto, Colombo possibilitou a exibição de um curta-metragem em sua sala de aula, dentro da Mostra Itinerante. Conforme ele, o cinema é um mecanismo importante para despertar nos alunos a vontade de se aprofundar nos temas relativos à questão afro-indígena, dentro da proposta do NEABI de combate à discriminação. “É um instrumento para debater sobre o preconceito, o racismo, sobre as raízes do preconceito no Brasil. O cinema é fundamental como um mecanismo pedagógico”.
Imagens: Moisés Bonfim/Rodrigo Birck
Fotos: Divulgação



