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Curta realizado por estudantes de cinema é premiado no Festival de Gramado

O filme recebeu o prêmio de melhor curta-metragem universitário, escolhido por concurso interativo
publicado: 16/09/2021 17h00, última modificação: 20/09/2021 13h54

fotografia de uma mulher negra olhando para a frente e com várias mãos brancas sobre seu rosto

"Cor de Pele", filme produzido e realizado por alunos do curso de Cinema e Audiovisual, ganhou o prêmio de Melhor Curta-Metragem Universitário, escolhido por concurso interativo, no 49º Festival de Cinema de Gramado.

Dirigido por Larissa Barbosa, que conclui o curso no próximo semestre, o filme usa a poesia para fazer uma crítica ao racismo e à opressão. O filme foi produzido para uma disciplina do curso de Cinema e Audiovisual, e a ideia do grupo que realizou o curta era desenvolver uma temática relacionada à poesia. “Sempre gostei de escrever, estava bem inserida no universo do slam de poesia [batalhas de poesia] na época, havia uma efervescência política com a morte da Marielle Franco – a frase inicial do curta é a voz dela –, e eu acabei presenciando uma situação de machismo. Fiquei pensando nessas coisas todas e comecei a escrever o curta”, conta.

Apesar de a ideia ter nascido a partir de um episódio de machismo, a questão do racismo está muito presente no filme. “Essas interseccionalidades existem, e eu não podia fugir ao fato de ser uma mulher negra. E eu queria mostrar como isso impacta a nossa vida. Tem muito da minha vivência, da história da minha família, das minhas avós”, comenta Larissa.

O próprio título do filme faz uma crítica ao racismo. “Há a questão do apagamento que é feito até nos termos da língua portuguesa. Lápis cor de pele, meia-calça cor de pele, band-aid cor de pele. Como se existisse um único tom de pele. Então o filme fala desse apagamento simbólico e real também, de silenciar, como é o caso da Marielle”, aponta.

fotografia de um homem com o rosto coberto por uma espécie de véu, com três flores grandes do mesmo tecido e uma mulher negra, olhando para a frente, repousa a cabeça em seu ombro esquerdo

O filme participou de vários festivais e mostras de cinema, começando pelo Festival 3 Margens, realizado nas cidades fronteiriças de Brasil, Argentina e Paraguai. "Cor de Pele" recebeu os prêmios de melhor filme, pelo júri popular, e de melhor primeiro filme de diretor. “Foi bem emocionante. A gente não esperava e a equipe toda estava presente – a gente ainda não estava vivendo o caos da pandemia”, conta Larissa, que teve como parceiros na realização do filme Isabela Israel, Santiago Mendez, Ana Clara Martins, Rynnard Dias, Dalila Prado e Lorena Scarpel.

Em 2020, o filme participou do Festival Internacional Olhar de Cinema, em Curitiba; da mostra Ecofalante de Cinema, em São Paulo; e do Assimetria - Festival Universitário de Cinema e Audiovisual, realizado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde recebeu o prêmio de melhor roteiro experimental, entre outros.

Para Larissa, os festivais conferem maior visibilidade para filmes e profissionais do cinema, principalmente diante da dificuldade de distribuição que existe no Brasil. “Infelizmente, não temos uma distribuição forte no Brasil, até por falta de políticas públicas e de leis de proteção à produção audiovisual. E os festivais acabam sendo um caminho para que diretores iniciantes, principalmente, consigam ter uma oportunidade de serem vistos e reconhecidos”, destaca.

No caso de "Cor de Pele", é preciso acrescentar o fato de a produção ser feita no interior do país. “O interior de forma geral tem filmes incríveis, mas as verbas vão todas para as capitais. O que é péssimo porque acaba acontecendo também um êxodo cultural muito grande. As cidades perdem grandes referências artísticas e potências que poderiam trazer novas perspectivas”, avalia.