Vida Universitária
Ações de apoio pedagógico para permanência de estudantes internacionais e indígenas são estendidas para a pós-graduação
A diversidade é uma marca forte na UNILA, especialmente representada pelas várias origens de seus estudantes. É que boa parte deles é proveniente de outros países e, ao chegarem aqui, procuram adaptar-se às realidades do ambiente acadêmico, de um novo território e de uma cultura diferente daquela que trazem como referência.
É pensando nisso que a UNILA vem desenvolvendo dois programas de apoio pedagógico – monitoria e tutoria – que contribuem para evitar a evasão desses estudantes. Neste ano, a proposta foi ampliada para também englobar discentes dos cursos de pós-graduação, com objetivo de dar suporte para a permanência de estudantes indígenas, haitianos, refugiados e portadores de visto humanitário nas atividades de ensino da instituição, para além da graduação.
No final deste ano foi lançado um edital de forma unificada, que possibilita, para 2024, a ampliação da participação e o aumento da representatividade de toda a comunidade. Para o pró-reitor de Graduação, Antonio Machado Felisberto Junior, o alinhamento do nome dos programas de apoio à permanência, bem como a redução de processos burocráticos na gestão de programas acadêmicos, somados à participação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, ao ofertar apoio financeiro para oportunizar que estudantes de pós-graduação atuem como tutores, “estimulam os alunos da graduação a continuarem sua vida acadêmica e a compartilharem seus saberes e vivências”. Com a mudança, o número de bolsas também será ampliado – de 30 para 39 – a partir do próximo ano.
Como funciona o Programa de Monitoria
Andressa Espínola Melo é paraguaia e, desde abril de 2022, tem atendido como monitora cerca de dez estudantes, acompanhando o desenvolvimento desses discentes especialmente nas disciplinas de Português e Espanhol. Ela conta que oferece plantões presenciais em todas as unidades da Universidade, além de prestar atendimentos online, procurando adaptar-se à disponibilidade dos estudantes que acompanha e auxiliando não apenas na vida acadêmica, mas também na adaptação à vida na cidade. Dessa forma, compartilha informações e oferece suporte para facilitar essa transição de ambiente.
“Minha maior motivação é testemunhar os resultados positivos da monitoria, auxiliando os estudantes em suas dúvidas e acompanhando suas jornadas acadêmicas. As recompensas para mim vão além do âmbito acadêmico, pois aprendemos juntos, compartilhamos experiências e desenvolvemos laços de amizade, enriquecendo nossas vidas com diversas culturas e histórias de vida maravilhosas”, afirma. Ela também compartilha com orgulho algumas declarações de estudantes na condição de monitorados, que ressaltam a relevância do suporte que ela oferece nas atividades acadêmicas, incluindo a superação de desafios linguísticos.
A docente Simone Carvalho começou a atuar, no início deste ano, como coordenadora da monitoria de Letramento Acadêmico no Ambiente Universitário, que tem como público principal os estudantes indígenas. “É um trabalho muito importante considerando que a UNILA recebe indígenas aldeados, que fizeram sua formação nas escolas bilíngues de suas comunidades, vindo, em geral, de uma formação escolar não urbana. Ou seja, muitos não tiveram acesso a práticas sociais consideradas importantes na Universidade e chegam aqui sem essas práticas no seu repertório”, contextualiza.
Para ela, a UNILA tem propiciado a entrada de diversos estudantes por meio de ações afirmativas, mas reforça que ainda é preciso caminhar muito para garantir a permanência desses discentes na instituição. “Não somos uma universidade intercultural, o ensino na graduação é fortemente disciplinar. O trabalho da monitoria nos dá indícios do quanto precisamos trabalhar para receber estudantes de perfis diversos, em termos de formação docente e sensibilização institucional, para criar um espaço de pertencimento e de aprendizagem significativa aos estudantes de inclusão”, defende.
No que se refere à inserção digital, um dos exemplos de boa prática de monitoria que ela aponta dentro da área de Letramento Acadêmico é a oferta do curso de informática em língua ticuna, que tem feito um papel importante para o grupo indígena mais numeroso atualmente na UNILA. O curso foi ministrado, neste ano, por duas monitoras de origem ticuna, Rosileia da Silva Cruz (do curso de Serviço Social) e Jhine Flores Peres (de Ciências Econômicas).
“O uso da língua ticuna nas aulas para intermediar as explicações e a interface tecnológica torna esse curso especial, já que muitos estudantes calouros de origem ticuna, logo de sua chegada, têm dificuldade de compreender explicações somente em português, especialmente no caso de situações específicas envolvendo vocabulário especializado”, explica Simone. Com esse exemplo, ela enfatiza a importância da proximidade cultural e linguística entre esse grupo discente e as monitoras que atuam no programa: “O fato de ambas serem indígenas as aproxima dos colegas, e elas também servem de exemplo de superação das dificuldades, já que ambas um dia foram calouras e passaram pelas mesmas dificuldades”, analisa.
A Tutoria para estudantes haitianos
Criado no ano passado, o programa de Tutoria para discentes haitianos tem como objetivo apoiar o desenvolvimento acadêmico dos estudantes desta nacionalidade, buscando melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem e contribuindo para a redução das barreiras comunicacionais e sociais, incentivando esses estudantes a participarem de forma mais colaborativa durante a graduação.
A tutora de origem haitiana Rose Medjina Milord (de Relações Internacionais e Integração) diz que já atendeu cerca de 25 estudantes de sua nacionalidade durante as atividades do programa. “O que mais me motiva a participar da tutoria é a importância desse trabalho dentro da Universidade. O programa não apenas ajuda no processo de acolhimento dos alunos, mas também contribui para o meu desenvolvimento e na minha qualificação como tutora e futura profissional”, diz ela, reforçando que a ação proporciona aos estudantes haitianos ferramentas de apoio acadêmico e psicológico para a conclusão dos cursos.
Outra haitiana envolvida no programa é Danitoucheka Jacques (de Engenharia Química), que conta que sua motivação se dá pelo fato de que a tutoria possibilita ajudar os seus colegas haitianos no desempenho acadêmico, com o intuito de minimizar as dificuldades que ela mesma enfrentou e também reduzir quaisquer barreiras linguísticas. “A tutoria contribui significativamente para a minha formação, principalmente para desenvolver conhecimentos a respeito da vivência acadêmica, habilidades para transmitir conhecimentos adquiridos. Todas essas trocas de experiências nos levam a reforçar valores humanitários essenciais como a filantropia, a sensibilidade, a empatia, a solidariedade, a camaradagem e o trabalho em equipe”, reforça ela.
Pelos trabalhos realizados, as duas tutoras tiveram destaque em suas trajetórias no programa. Danitoucheka já participou de organização de workshop e também como intérprete em evento direcionado aos estudantes haitianos, geralmente organizado por profissionais da instituição, como da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil e do Comitê Executivo pela Equidade de Gênero e Diversidade. Rose Medjina apresentou sua experiência na 5ª Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE) e recebeu certificado de Menção Honrosa pelo seu trabalho. As duas reforçam, ainda, que atuam com tradução de documentos normativos da Universidade, permitindo que calouros ou estudantes com pouca fluência na língua portuguesa tenham fácil acesso a esses documentos.