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¿Qué pasa? traz uma reflexão sobre a crise no Haiti, com Carlos Bauer

Docente do curso de Filosofia fala sobre os principais aspectos que envolvem o país caribenho com a morte de seu presidente, Jovenel Moise
publicado: 23/07/2021 19h00, última modificação: 23/07/2021 19h31

Quais são as causas da crise que abala o Haiti e que levou ao assassinato do presidente Jovenel Moise e o que esperar a partir de agora para o país caribenho, que vive um vazio de poder? Para responder a essas e outras questões, a SECOM convidou o professor Carlos Francisco Bauer, do curso de Filosofia, para uma conversa no programa ¿Qué pasa?, episódio que já está disponível no canal da UNILA no YouTube.

Segundo Bauer, é possível falar em causas mais próximas no tempo e em causas um pouco mais distantes. Mais contemporaneamente, o Haiti vem enfrentando grandes problemas de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e armas, enumera o docente. Além disso, Moise não tinha experiência política, porque vinha do meio empresarial. “O que se vendeu foi essa imagem de uma pessoa exitosa, de um empresário. Foi um paralelismo, de norte a sul, muito similar ao que aconteceu com [Maurício] Macri, na Argentina”, compara.

Bauer também cita, como aspecto fundamental na análise, a “repressão exercida através de comandos armados subvencionados” pelo governo, com uma “repressão muito forte sobre os movimentos sociais, populares e juvenis no Haiti”. Os protestos contra o governo de Moise, lembra Bauer, levaram até 2 milhões de pessoas para as ruas.

Entre as causas para a crise haitiana e que estão um pouco mais distantes no tempo, o professor cita a função estratégica que o “Eixo Caribe”, como define, exerceu ao longo da história e também as sucessivas intervenções dos Estados Unidos no Haiti e cuja ingerência permanece até os dias de hoje. “O Caribe é um campo geoestratégico muito complexo, onde o Haiti forma parte de uma coluna principal e ao mesmo tempo é utilizado como um degrau para o manejo de todo esse eixo, que tem, por sua vez, uma função fundamental dentro da modernidade e colonialidade e dentro da história do mundo.”

Para ele, os principais interessados na morte de Moise são as elites dominantes, que passam, elas mesmas, por uma crise interna. “O povo haitiano já passou por fenômenos desse tipo e não tirou nenhum proveito. De nenhum tipo”. Bauer também aponta a relação do grupo paramilitar acusado pelo assassinato com as estruturas estatais de segurança do Haiti e também com os exércitos da Colômbia e dos Estados Unidos. “Aqui se abre uma problemática contemporânea muito profunda: a privatização das forças armadas, a relação das origens dos grupos e comandos paramilitares com as estruturas do exército estatal e a relação com os ‘contratistas’, porque vai começar a haver uma mudança de nomes que são, na realidade, eufemismos, porque a essência da ação violenta continua a mesma”, reflete.

Bauer também critica a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) e outros mecanismos similares impostos ao país. “O Haiti segue sendo silenciado. Não é considerado pela importância que tem no Caribe, no Eixo Caribe e em todo o continente. Não é possível que se ignore um país com essa riqueza. É um tema que remete a causas presentes e históricas que estão profundamente relacionadas.” O docente salienta que o Haiti está numa rota direta entre os Estados Unidos, Cuba e a Venezuela. “A dominação do Petrocaribe é fundamental para o imperialismo americano. É uma zona muito estratégica”.

O processo sucessório de Moise ainda não está muito claro, na visão de Bauer, embora a Justiça haitiana tenha garantido que haverá eleições ainda em 2021. “Estamos falando de um vazio de poder que deixa o contexto favorável para a lógica da intervenção explícita, como se fez com o Iraque e o Afeganistão; ou mais sutil, como se fez com todas essas missões que o país recebeu com conceito de paz e ordem, mas que são eufemismos e que em nenhum momento solucionaram os grandes problemas do Haiti, como a fome, a pouca esperança de vida, o desemprego e a emigração. O futuro imediato é muito sombrio e muito incerto, infelizmente, para a população haitiana”, afirma.