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Média móvel de casos ativos de Covid-19 mostra queda acentuada, mas momento ainda requer atenção

Para a infectologista e docente da UNILA Flávia Trench, ainda não se pode abandonar todos os cuidados, mas já é "possível planejar um futuro a médio prazo"
publicado: 07/08/2020 16h30, última modificação: 13/08/2020 15h11
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A média móvel de casos ativos de Covid-19 calculada por pesquisadores da UNILA mostra uma queda acentuada a partir do dia 20 de julho, saindo de 661 casos para 256, registrados em 6 de agosto. “Tem ainda um tempo de fazer a lição de casa bem direitinho, mas, pelo menos, dá pra gente começar a sonhar”, comenta a infectologista e docente da UNILA, Flávia Trench. O gráfico está disponível no Painel Covid-19, que traz informações a respeito da doença em Foz do Iguaçu.

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A professora Elaine Della Giustina Soares, que coordena o trabalho de elaboração dos gráficos, explica que os casos ativos são aqueles em acompanhamento pelos serviços de saúde – seja no hospital, seja em casa. “São aqueles que estão demandando serviços e é isso o que sobrecarregada o sistema”, diz. O tempo de cada caso ativo varia entre 4 e 10 dias (para os em isolamento domiciliar é de 2 a 6 dias), considerando-se o tempo para a percepção de sintomas, comunicação aos serviços de saúde, realização de exames. O isolamento domiciliar é de 10 dias a contar do início dos sintomas - antes de 27 de julho esse prazo era de 14 dias - e o exame deva ser coletado entre 3 e 7 dias também desde o início dos sintomas. “Uma pessoa que esperou sete dias para comunicar os sintomas, vai ficar menos tempo ativo no sistema”, exemplifica. A vantagem da média móvel exponencial é a sua possibilidade de regularização. “A média móvel exponencial consegue regular eventuais subnotificações de um dia ou excesso de notificações de outro, o que pode decorrer mais de problemas de registro de dados do que de fato de novos casos”, explica Elaine. 

Para Flávia, vários fatores colaboraram para “o milagre da curva”. Além do isolamento social, imposto pelo governo do Estado de 1º a 14 de julho, e os bloqueios localizados, ela aponta, principalmente, a sazonalidade do vírus e o esgotamento de suscetíveis – pessoas que ainda podem ser infectadas.

A médica lembra que as doenças respiratórias são mais prevalentes no inverno e que o coronavírus, embora tenha um comportamento diferente de outros vírus respiratórios, teve ação mais acentuada também no período do outono e, agora, no inverno. “Outra questão que eu acho que tem um peso interessante é o esgotamento dos suscetíveis. O último inquérito sorológico [de julho] apontou que 37% dos pesquisados haviam tido exposição ao vírus, mesmo sem desenvolver a doença. O vírus já não vai ter mais 100% da população disponível para saltar [de uma pessoa para outra] porque alguns já vão ter uma certa imunidade”, explica.

O inquérito sorológico é realizado pela Prefeitura em parceria com um grupo de pesquisadores da UNILA que desenvolveu um teste com a metodologia Elisa (do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay. A próxima rodada de testes deve ser feita em até duas semanas. O coordenador do trabalho, Kelvinson Viana, docente da UNILA, explica que a expectativa era que o índice dos que já tiveram contato com o vírus estivesse em 50%, mas os testes indicaram um leve aumento – em junho, o índice era de 35% e, em julho, 37%. “Isso pode indicar que a cidade pode ter adquirido a chamada imunidade de rebanho sem atingir 50% ou 60% de pessoas que já teriam entrado em contato com o vírus. Alguns estudos têm mostrado que a imunidade de rebanho pode ser conseguida com taxas de infecção entre 20% e 30%. Pode ser o nosso caso, uma vez que o número de casos ativos está diminuindo”, destaca Viana."Com o novo inquérito, nas próximas semanas, certamente vamos ter como verificar se é realmente isto que está acontecendo na cidade, associado ao acompanhamento dos casos ativos".

Perguntas e respostas

Flávia Trench lembra que ainda há muitas perguntas a serem respondidas a respeito da imunidade adquirida após contato com o coronavírus e por quanto tempo perdura esta imunidade. “Tem alguns trabalhos que mostram queda de anticorpos depois de três meses, mas nos parece também que não existem grandes relatos de reinfecções precoces. Essa também é uma questão em aberto”, comenta e reforça: “Não dá para ir voltando ao normal por conta disso.”

Ela ressalta que médicos e pesquisadores estão aprendendo sobre o vírus junto com a ocorrência da pandemia. “Algumas coisas a gente sabe, mas usualmente, quem tem muita certeza, efetivamente não estudou o vírus, não estuda a pandemia e não estuda as atualizações. O coronavírus tem comportamentos bem atípicos. Foram poucos coronavírus que saltaram de animais para seres humanos. Esse é bem especial”, comenta.

"O que dá para fazer nesse momento é planejar, para um futuro de médio prazo, um pouco mais de liberdade, principalmente, com esses acenos positivos das vacinas. Pelo menos dá pra gente começar a sonhar".

A curva na média móvel de casos ativos apresentou uma queda no início de julho, mas que não se configurou como uma tendência, como acontece neste momento. “A gente teve [naquele momento] uma certa esperança, mas não se consolidou. Mas agora parece que a curva está numa descendente de forma consistente. Cada dia descendo mais. O que eu vejo como uma vitória”, aponta Flávia. “Mas não dá pra afrouxar”, ressalta.

Integração

Para ela, o momento é de comemorar o “bom serviço”, sem baixar a guarda. “Quando a gente olha para outros municípios da região ou de fora do Estado, e que tenham características semelhantes às nossas, nós temos uma campanha muito exitosa”, avalia. A estratégia adotada por Foz do Iguaçu, aponta a médica, não esteve baseada numa única ação. Ela cita o Paraguai, que apostou no lockdown de longo tempo. “Em algum momento era o que era possível fazer, mas a gente sente que poderiam ter avançado um pouco além disso. Eu olho com um pouco de receio, porque em algum momento eles vão ter que se abrir e talvez tenham de enfrentar tudo aquilo que a gente passou, mas sem todo o aporte de recursos e de estratégias que tivemos.”

Flávia acredita que a UNILA e o município devem pensar em parcerias com o Paraguai para o enfrentamento da doença no país vizinho. “Estamos sem informação de lá e talvez não precisem de nada, mas podemos ajudar. Boa parte de nossos docentes e estudantes é hispanohablante. Poderíamos oferecer nosso serviço de atendimento por telefone, abrindo um número para eles. Isso é uma coisa muito simples pra gente”, exemplifica. “O fato é o seguinte: precisamos conversar com o pessoal da saúde do Paraguai. Isso é fundamental. Para eles e para nós. Eu sou muito mais conectada com eles do que com o pessoal de Curitiba. Somos muito mais interdependentes.”

No dia da entrevista com a professora, quarta-feira (5), o prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro, participou de uma reunião com o prefeito de Ciudad del Este (Paraguai), Miguel Prieto. As autoridades compartilharam experiências no enfrentamento da pandemia da Covid-19 e iniciaram tratativas para garantir a segurança de moradores e turistas quando as fronteiras terrestres forem reabertas pelos governos do Brasil e Paraguai. Também compartilharam experiências na preparação da rede hospitalar e discutiram a possibilidade da execução de um inquérito sorológico com apoio da Prefeitura e da UNILA.

"Precisamos fazer várias correções de curso, como sociedade, como indivíduos, como grupo, como civilização. Para quem aproveitou para refletir, este foi um período muito rico. Não foi fácil, mas foi transformador"

A queda na média de casos ativos também traz um alívio para os profissionais de saúde que estão trabalhando diretamente no enfrentamento da Covid-19. “Chegou um momento, pelo quantitativo, que a capacidade instalada dos serviços não dava conta”, comenta Flávia. No pico de casos ativos, o acompanhamento dos pacientes não internados, realizado por telefone e que deveria ser diário, teve de ser espaçado para mais dias. “A gente estava priorizando os de maior risco para acompanhamento diário”, conta a médica. Com a redução do número de casos, além do acompanhamento mais atento, é possível planejar folga para as equipes. “Estamos mais tranquilos.” Como exemplo do trabalho intenso realizado desde março, com pico em junho e julho, a médica cita o serviço de Telemedicina, que, de 23 de março a 5 de agosto, realizou 6.194 atendimentos. “É muito atendimento. Tivemos períodos bem pesados.”

Momento ainda exige cuidados

Para a população o recado é continuar a se cuidar, evitando contatos próximos, usando máscaras e adotando os rituais de higiene preconizados. “Tem ainda um tempo pra fazer a lição de casa bem direitinho. O que dá para fazer neste momento é planejar, para um futuro de médio prazo, um pouco mais de liberdade, principalmente com esses acenos positivos das vacinas. Pelo menos, dá pra gente começar a sonhar.”

Para ela, é hora de planejar o que se vai fazer e, principalmente, o que não se vai mais fazer. “Porque muitas das coisas que a gente fez é que nos colocaram na situação atual. Precisamos fazer várias correções de curso, como sociedade, como indivíduos, como grupo, como civilização. Para quem aproveitou para refletir, este foi um período muito rico. Não foi fácil, mas foi transformador, muito transformador. Queremos sair diferentes para melhor e não para pior.”

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