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Levantamento mostra como jornais da Argentina, Brasil e Paraguai relacionam a Tríplice Fronteira ao terrorismo

Ao longo de 2018, 96 matérias de dez veículos de imprensa dos três países relacionaram a região trinacional ao terrorismo, conforme mostra estudo do Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira
publicado: 05/06/2019 10h21, última modificação: 05/06/2019 10h50

A atenção de importantes veículos de imprensa da Argentina, Brasil e Paraguai às supostas atividades associadas ao terrorismo e à Tríplice Fronteira, ao longo de 2018, é tema de um levantamento que será apresentado e debatido nesta quarta-feira (5), às 19h, no Espaço Florestan Fernandes 3, no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu. O estudo foi promovido para o ciclo de debates do Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira (GTF-Debate), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), sob a coordenação do professor Micael Alvino Silva, docente do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais. “Partimos do pressuposto de que as reportagens noticiam fatos, apresentam tendências e, o mais importante, tornam-se fontes para outros jornalistas e, até mesmo, acadêmicos”, afirmou Silva.

Segundo o professor, o objetivo foi analisar como a imprensa nacional dos três países reportou os fatos associados ao nexo entre o terrorismo e a área da Tríplice Fronteira em 2018, quando fatos novos colocaram o tema de volta aos holofotes da imprensa. Entre eles, a prisão de Mahmoud Ali Barakat por lavagem de dinheiro, no Paraguai (junho); a investigação de lavagem de dinheiro em cassinos e o congelamento de bens e dinheiro do Clã Barakat, na Argentina (julho); a descoberta de passaporte irregular emitido a Assad Ahmad Barakat, no Paraguai (agosto); a prisão de Assad Ahmad Barakat, no Brasil, a pedido do Paraguai (setembro); e a autorização de extradição de Mahmoud Ali Barakat para os EUA, para ser julgado por lavagem de dinheiro (outubro). Outros dois eventos também contribuíram para colocar o assunto em evidência, como a posse do novo presidente do Paraguai, Mário Abdo Benítez, em agosto; e a reunião de cúpula do G20 na Argentina, em dezembro.

“Além da descrição das reportagens, interessam-nos as tendências e as novidades adicionadas à vinculação entre terrorismo e Tríplice Fronteira, que persiste desde o início da década de 1990”, explicou Micael, que contou com a colaboração das alunas da pós-graduação em Relações Internacionais da UNILA Maria Aparecida Felix Mercadante (graduada em Relações Internacionais) e Nadia Carolina Paez Duarte (bacharel em Direito), além de Stela Guimarães de Moraes (pós-graduada em Relações Internacionais Contemporâneas pela UNILA e mestre em Comunicação pela Universidade de São Paulo).

Quase uma centena de matérias

Ao todo, foram identificadas 96 matérias que repercutiram o nexo entre o terrorismo e a área da Tríplice Fronteira ao longo de 2018. A maioria dos textos encontrados é de veículos da Argentina (51 matérias), o que equivale a 61% do conteúdo analisado. No Paraguai, foram 30 textos, o dobro do Brasil, que teve 15 matérias analisadas.

Do Brasil, foram analisados os jornais Folha de São Paulo, Estadão, O Globo e a Revista Veja. Na Argentina, El Clarín, Infobae e La Nación (AR). No Paraguai, o estudo avaliou o ABC Color, Última Hora e La Nación. A triagem das matérias teve como base as expressões “terrorismo” e “Tríplice Fronteira”.

Após a leitura, foram destacados os fatos, os argumentos e as tendências analíticas de cada publicação, como a preferência por um ou outro especialista estrangeiro no tema como fonte das reportagens. Os dois principais foram Vanessa Neumann e Emanuele Ottolenghi, ambas conectadas a organizações com sede nos Estados Unidos.

Outro dado importante extraído dos textos recai sobre a movimentação financeira atribuída a Ciudad del Este. O estudo concluiu que é possível que o montante tenha ficado na casa dos US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões, no ano de 2017.

Histórico

A área da Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai tem sido associada ao terrorismo desde a década de 1990 e, mais especificamente, após os atentados à Embaixada de Israel (1992) e à Associação Mutual Israelita Argentina - Amia (1994). 

A importância da análise da cobertura de imprensa fundamenta-se no fato de que muitos artigos são usados como referência – e, muitas vezes, como verdade absoluta – para as conexões entre a Tríplice Fronteira e o terrorismo. “No caso das acusações de terrorismo que pesam sobre a Tríplice Fronteira, é particularmente conhecido o impacto da imprensa no Relatório Hudson, elaborado para a Biblioteca do Congresso Americano, em 2003; no debate político-acadêmico na revista Foreign Affairs; e até mesmo em processo de extradição no Supremo Tribunal Federal brasileiro”, concluiu o professor.