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Inflação é assunto apenas para economistas? Veja o que você precisa saber sobre esse tema, neste episódio do ¿Qué Pasa?

O economista Henrique Kawamura faz uma análise sobre as oscilações da inflação, um dos índices mais importantes para a economia
publicado: 15/10/2021 16h41, última modificação: 15/10/2021 16h41

Você pode não perceber, mas ela faz parte do seu cotidiano muito mais do que imagina. Seja na hora de comprar um produto para alimentação, usar transporte público, seja na hora de pagar o aluguel, a inflação está aí para lembrar que seu poder de compra está diminuindo cada vez mais. Apesar de o país controlar esse índice aumentando a taxa de juros – conhecida como Selic –, esse processo gera encarecimento do crédito e de produtos e desestimula o consumo, cenário em que o Brasil vive no momento. O papel da inflação é balizar as políticas econômicas de cada país e, para isso, são utilizados alguns instrumentos, como políticas fiscais e tributárias, para que a inflação se mantenha controlada.

O economista Henrique Kawamura explica, neste episódio do ¿Qué Pasa?, que a inflação no Brasil não é de demanda, mas sim de custo. “Estamos falando de uma inflação de custo, porque os custos dos produtos estão aumentando. Não é porque as pessoas estão demandando mais, mas sim porque os preços das matérias-primas utilizadas para a produção de determinado produto estão encarecendo”.

 

Ele reforça que o Brasil também é marcado pela dependência da produção da energia hidroelétrica, levando em consideração o momento de crise hídrica, que beira o apagão em algumas regiões e o racionamento em outras. Henrique contabiliza, ainda, o aumento dos preços de combustíveis, impactando o consumo de gasolina e de gás de cozinha, por exemplo.

Também faz parte da elevação dos custos o aumento do dólar, que favorece as exportações. O economista explica que, ao exportar mais, há um impacto na oferta interna e isso acaba alterando os preços dentro do país, como ocorreu, no ano passado, quando houve aumento nos preços da carne, do óleo de cozinha e do feijão. “Em relação à inflação, o governo está fazendo o seu papel de controle, mas é um controle que já chegou num patamar bastante alto e que começou a preocupar. Não digo que vamos passar por uma hiperinflação como a que tivemos na década de 80, mas uma inflação alta preocupa porque o salário-mínimo tende a não aumentar”.

Mesmo que esteja indexado à inflação, o cálculo para o aumento do salário, segundo Henrique, leva em conta tanto a inflação quanto o crescimento do país nos dois últimos anos, que não tem sido considerado grande. “O aumento do salário não vai repor essa inflação, e isso realmente é muito preocupante”, analisa.

Os públicos mais atingidos com o aumento da inflação

Kawamura é coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Cepecon) da UNILA, que realiza pesquisas mensais sobre preços de produtos em supermercados e analisa oscilações do Índice de Preços ao Consumidor nas regiões de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. Esse trabalho pode ser acompanhado pela página do Cepecon.

Já em um contexto mais amplo, envolvendo todas as regiões do Brasil, o governo faz o cálculo da taxa de inflação a partir de uma cesta básica, considerando tudo o que compõe o orçamento familiar, incluindo consumo de alimentação e bebidas, habitação, educação, saúde e outros, contabilizando 450 produtos. “O que o governo quer é saber a movimentação desses preços desconsiderando qualquer oscilação que seja ou sazonal, ou de produtos que não têm um aumento periódico, como é o caso dos serviços [...]. E, depois, juntamos tudo e temos a nossa taxa de inflação”, explica o economista.

Henrique considera que este é um cenário ruim para todo mundo, mas que, apesar de a alta da inflação poder, em algum momento, beneficiar um grupo específico, ela sempre vai impactar muito mais o pobre. “Populações com renda mais baixa, média baixa e muito baixa são as que sofrem mais. Grande parte da renda dessa população é gasta com alimentação, habitação e transporte. Então, se houver qualquer tipo de oscilação positiva na taxa de inflação, essa população vai sofrer mais porque é muito mais sensível e porque gasta toda a sua renda em produtos que estão aumentando”, explica ele.

Ele aponta que, na última publicação do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) sobre a inflação desagregada, a variação acumulada da inflação para a população de renda muito baixa foi de 10,6%, enquanto para a população com renda muito alta foi de 8%. “Quem está sofrendo mais é essa população de renda mais baixa, que consome mais os produtos que estão variando mais. Na América Latina, alimentação e habitação são itens com grande peso na inflação e que mais pesam no bolso do consumidor. E a população de renda alta tem mais dinheiro para poupar, diferentemente daqueles com renda muito baixa”, pontua.

Perspectivas para 2022

O Brasil é o terceiro país da América Latina com maior taxa de inflação, ficando atrás apenas do Haiti e da Argentina. Henrique considera que o cenário prevê uma expectativa de inflação alta no mundo inteiro em 2022. Em relação ao Brasil, ele analisa que, apesar de a meta da inflação do próximo ano ser mais baixa em relação a 2021, trata-se de um ano de eleições, o que gera uma expectativa grande em todo o mercado internacional e que pode influenciar bastante para que a inflação chegue a ficar fora da meta. “Acho que somente em 2023 vamos começar a sentir uma melhora. Na minha opinião, no próximo ano vamos continuar naquele marasmo, naquela ondinha, sem muito susto”, analisa ele.

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