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UNILA é a única universidade a ofertar a língua guarani como disciplina obrigatória

O professor Mario Ramão fala sobre a importância de preservação das línguas originárias e sobre a presença do guarani no Brasil e no Paraguai, onde é língua oficial
publicado: 17/05/2022 18h00, última modificação: 17/05/2022 18h07

A UNILA é a única universidade brasileira em que o estudo de uma língua originária é considerada disciplina obrigatória para estudantes que não sejam indígenas. O guarani é ofertado para os alunos do curso Mediação Cultural – Artes e Letras e está presente nas salas de aulas de diferentes cursos desde as primeiras turmas, principalmente entre os estudantes do Paraguai, país onde a língua é oficial. Para o professor de Língua e Cultura Guarani na UNILA, Mario Ramão Villalva Filho, preservar uma língua é preservar uma série de outros elementos ligados a ela. “Uma língua é um mundo. Um mundo todo. Uma cultura, um universo. Há um cosmos que se vai junto com cada língua que morre.”

No Brasil, o guarani é falado nas aldeias e comunidades específicas, mas, diz o professor, “a base da língua guarani ainda vive”. Ele lembra que 80% dos nomes atribuídos a alimentos, lugares, fauna e flora brasileiros são de origem tupi-guarani. “É fortíssima ainda, no Brasil, essa herança do tupi-guarani”, destaca. Ramão explica também que há muita preocupação para que a língua não se perca e que uma das ações nesse sentido é a criação de grupos de trabalho nas diferentes regiões brasileiras para implantar mecanismos para a manutenção das línguas originárias. No Brasil, são reconhecidas 180 línguas originárias, consideradas cooficiais em alguns estados.

O Paraguai é o país onde o guarani está mais presente. Ao lado do castelhano, o guarani é língua oficial do Paraguai, desde 1992, mas demorou 20 anos para ser regulamentada. “O guarani é uma língua que esteve em todo momento e continua estando na vida dos paraguaios. E principalmente em momentos difíceis e emotivos”, diz o professor. Durante o processo de independência, e nas guerras da Tríplice Aliança e com a Bolívia, o guarani foi usado pelos paraguaios como estratégia contra os opositores. Ainda assim, comenta Mário Ramão, o país tem uma “relação de amor e ódio” com a língua. “A classe média odeia essa língua. Mas segue falado na periferia pelos pobres, excluídos”, explica.

O professor enfatiza que o guarani não é uma língua a caminho da extinção. “Entre a população [do Paraguai] ele está bem vivo”, diz, mas ainda faltam ações do Estado, como a implantação do guarani nas escolas, de forma equivalente ao castelhano. No Paraguai, até 100 anos atrás, diz o pesquisador, a nação falava somente o guarani. Segundo ele, no censo realizado em 1992 – o último censo oficial – 27% da população paraguaia era monolíngue em guarani e 5%, monolíngue em castelhano.

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