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Docente Gabriela Miola lança fotolivro com reflexões sobre o tempo e a relação entre ser humano e natureza

A obra "Como abraçar o tempo" é um desmembramento de um projeto de pesquisa realizado na UNILA sobre arte e natureza
publicado: 16/09/2020 17h00, última modificação: 19/10/2021 11h36

A partir de imagens e poemas emergem reflexões poéticas sobre a memória, o feminino, o tempo, o agora e um olhar que busca uma reconexão com a natureza, sem desviar-se de um viés crítico sobre a pressa contemporânea e o relacionamento do ser humano com outros seres da natureza. O entrelaçar dessas temáticas está presente no fotolivro “Como abraçar o tempo”, da professora de Artes Visuais da UNILA Gabriela Canale Miola. A autora convida os leitores a refletirem sobre questões pertinentes ao contexto atual de pandemia e lança essa obra, segundo conta, com intuito de “compartilhar um suspiro de reconexão com o universo natural” e de destacar a importância da arte e da cultura, em tempos de desesperança. O fotolivro, disponível gratuitamente para visualização, foi lançado em agosto de 2020 e é um desmembramento de uma pesquisa realizada na UNILA (clique aqui para acessar a obra).

“O objetivo, mesmo que singelo, é sugerir que cada um de nós faça o exercício de observar como se relaciona com a natureza, seja no seu cotidiano, seja na forma com que se alimenta ou consome. E, de forma mais macro, como nossa espécie tem se imposto sobre todas as outras espécies, sem ser um texto pesado ou acusatório – mas encontrando abraços do tempo. No contexto de pandemia, é urgente que possamos refletir as consequências e as causas da urgência do nosso tempo e o quanto isso custou para o planeta”, explica a docente. O livro traz experiências vivenciadas pela autora durante uma residência artística em um mosteiro zen-budista, cercado pela Mata Atlântica – local onde pôde se deparar com outras lógicas, saberes, ciclos e ritmos.








 
 




A obra traz também reflexões a partir do projeto de pesquisa realizado na UNILA, intitulado “Arte e Natureza: poéticas e pedagogias da Mãe Terra”. Esse estudo de cunho teórico-prático consiste, segundo a professora Gabriela Miola, em “um resgate historiográfico, político, de imaginários sobre o que seria essa ideia de natureza, pensando a partir de uma perspectiva como o buen vivir e de pedagogias que entendem a Mãe Terra como uma grande professora”, esclarece. O buen vivir , cujos princípios estão presentes nas bases da Constituição da Bolívia e do Equador, remete a um movimento sócio-político, que ecoa críticas aos modos de vida de sociedades marcadas pela desconexão com a natureza.

A pesquisa parte de estudos articulados aos seguintes eixos: urgências da natureza em tempos de antropoceno; arte e pesquisa; arte e natureza; e arte, natureza e ensino. Essas temáticas são abordadas por meio de um saber interdisciplinar – com referências nos campos da filosofia, biologia, sociologia e arte  e também a partir da proposição de diálogos com diferentes linguagens, suportes e perspectivas de criação. A investigação engloba textos, trabalhos audiovisuais, reportagens, pinturas, performances, encenações, fotografias, entre outros suportes, a fim de estudar de que forma a espécie humana se relaciona com a natureza, como tema, prática comportamental e cosmovisão.

Foto: Murilo Xavier/processo de criação da vídeo-dança ''Ritmo sensorial''

Dentre as noções de natureza abordadas pela pesquisa, está o que alguns pesquisadores têm chamado de antropoceno, Era em que se observam transformações intensas e desastrosas no ecossistema, causadas pelos seres humanos, a exemplo da poluição de naturezas diversas e do desaparecimento de espécies de animais e vegetais. Nesse sentido, esse estudo e o livro “Como abraçar o presente” dialogam e ganham outra dimensão no contexto atual, que inclui uma pandemia. Para Gabriela Miola, neste momento, um vírus lembra os seres humanos de que não há uma hierarquia entre eles, e que nós não estamos apartados da natureza. Também traz, como aponta a docente, "uma reflexão no campo da economia, da sociedade, da cultura, das relações humanas, das relações de poder, da geopolítica e da arte. [Uma reflexão sobre] como a arte vai se colocar, como é possível produzir, existir e resistir nesse novo paradigma?”, questiona.