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Buscar alternativas de internacionalização é desafio para a América Latina, diz pesquisadora

Marília Morosini proferiu a conferência de abertura do 1º Congresso de Internacionalização da Educação Superior (CIES)
publicado: 06/09/2019 07h00, última modificação: 06/09/2019 14h50

Falando sobre desafios e perspectivas da América Latina na internacionalização da educação superior, a professora Marília Costa Morosini (PUC/RS) proferiu a conferência de abertura do 1º Congresso de Internacionalização da Educação Superior (CIES), na noite de quarta-feira (4), no auditório César Lattes (PTI). O evento, que termina nesta sexta-feira (6), é organizado pela UNILA, Universidad Nacional del Litoral (UNL/Argentina), Universidad Nacional de Asunción (UNA/ Paraguay) e a Universidad de la República (Udelar/Uruguay).

A internacionalização é complexa e muito difícil de ser compreendida, afirmou a professora, que apresentou, durante a conferência, diferentes contextos e variáveis que interferem numa integração solidária do continente latino-americano por meio da educação. 

Ela fez uma síntese das proposições para a educação por organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior da América Latina e o Caribe (Iesalc) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Eles estão propondo uma visão humanista da educação superior como motor principal de desenvolvimento humano, que transforme a vida das pessoas para a paz, erradicação da pobreza, desenvolvimento sustentável e diálogo intercultural.”

Em sua fala, ela também pontou que a internacionalização “já foi moda”, quando da criação do Mercosul. “Falou-se muito, mas se continuou a enviar nossos alunos para o norte e a recebermos muito poucos do norte e alguns do sul. Hoje, com a globalização, a internacionalização se torna primordial. Mas para quê?”, provocou.

Marília Morosini

Marília Morosini conceitua a internacionalização como um “processo de integrar uma dimensão internacional e intercultural de educação superior, advindo de interações, sustentadas por redes colaborativas, com blocos socioeconômicos desenvolvidos e com outros que valorem múltiplas culturas, diferenças, locais e tempos, fortalecendo a capacidade científica nacional, com o fito de ser irradiador do desenvolvimento sustentável”. “Essa é uma proposta de conceito mais amplo do que simplesmente integrar uma perspectiva internacional na universidade”, comenta.

Uma das pesquisadoras mais citadas na área, Marília Morosini afirmou em sua apresentação que o CIES, que busca a criação de redes entre países, é uma forma de se implantar uma internacionalização para a integração e que “cabe a nós, latino-americanos, buscarmos as soluções” para isso. “Somos um contexto emergente, precisamos ser contexto emergente. Nós somos criativos, nós temos que buscar outras formas de relação Sul-Sul, Sul-Norte, que nos tornem fortes e que nós possamos ter esse desenvolvimento”.

A mobilidade, mostrou Marília, cresceu muito nos últimos anos, mas apenas 5,6% do total de estudantes participam de programas institucionais – 94% nunca tiveram uma experiência de mobilidade. “Eu vou pensar em 6% ou pensar em todos? Mobilidade é extremamente importante. A região da UNILA é propícia [para a mobilidade], mas tenho locais que não são propícios. Vou deixar de lado 94% dos estudantes que não têm e não terão chance de mobilidade?”, questionou.

A mobilidade é uma parte importante da internacionalização, apontou a professora, mas há outras formas de atendimento: a Internacionalização em casa (soluções como dupla titulação, mobilidade virtual, cotutela, convênios institucionais) e internacionalização do currículo (oferecer conhecimentos e habilidades internacionais e interculturais).

“A internacionalização em casa é a saída para a América Latina. A mobilidade é importante, mas temos de pensar em outras formas. Tenho de garantir que o aluno que não vai sair, tenha condições de ter ensino de qualidade”, afirmou.

Em relação ao futuro, Marília Morosini acredita que o aumento da internacionalização que vem se registrando nas últimas décadas vai se manter em todos os níveis (mundial, regional, nacional, institucional). “Vai aumentar em termos de política, gestão, práticas de avaliação, hábitos.” Ela apontou a permanência do monopólio do conhecimento científico dos países do Norte global, mas também uma valorização do conhecimento que vem da Ásia e da China, do Sul global, do saber local e original. “E temos grandes tensões. Ainda temos tradicionais formas de internacionalização, com caráter comercial, briga por estudante, competição por talentos, os rankings e a questão do novo nacionalismo [com a exacerbação da proteção interna].”

Congresso

Antes da conferência, houve a solenidade oficial de abertura do Congresso com a presença do reitor da UNILA, Gleisson Brito; o vice-reitor da UNA, Miguel Torres Ñumbay; o secretário de Relações Internacionais da UNL, Julio Theiler; e o representante da Udelar e da comissão organizadora do CIES, Jose Passarini.

O reitor Gleisson Brito na abertura do CongressoBrito destacou que a internacionalização é necessária ante a uma sociedade que vem se globalizando cada vez mais. “A internacionalização é um processo que tem o potencial de transformar a vida dos estudantes, aumentando a diversidade sociocultural, institucional, ajuda na integração interinstitucional, melhora o intercâmbio de conhecimento acadêmico, o progresso científico e a construção de universidades verdadeiramente cosmopolitas”, disse.

O 1º Congresso de Internacionalização da Educação Superior (Cies) programou apresentações de trabalhos e mesas-redondas para discutir processos de internacionalização das instituições de ensino superior, principalmente, no Mercosul.

O evento é um desdobramento do projeto de pesquisa fomentado pelo Nucleo de Estudios e Investigaciones en Educacion Superior del Mercosur (Neies), intitulado “Movilidad de Estudiantes y Graduados; Reconocimiento de Títulos y el ejercicio profesional en el Mercosur”. O projeto é fruto da parceria entre as universidades promotoras do Congresso e tem por objetivo contribuir para a compreensão de elementos fundamentais da mobilidade internacional e do reconhecimento de títulos acadêmicos.