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8 de março: mulheres latino-americanas e caribenhas na história
Elas são referência em diferentes áreas e marcaram a história, transformando o seu tempo. Neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, oito unileiras apresentam as mulheres que as inspiram e suas trajetórias. Essas mulheres desafiaram contextos opressores, resistiram ao silenciamento e conquistaram espaços onde, muitas vezes, lhes foi negado o direito de estar.
As histórias dessas bravas mulheres nos guiam para os dias de hoje e para aqueles que ainda virão na luta por equidade e direitos.
Conheça a história dessas oito mulheres, com destaque para Elizabeth Teixeira, que reúne cem anos de lutas e memórias.
Com 100 anos, Elizabeth Teixeira é referência na luta
pelos direitos dos trabalhadores rurais e sem-terra
As lutas começaram cedo na vida de Elizabeth Altino Teixeira, que, em 13 de fevereiro, completou 100 anos. Uma das primeiras foi o enfrentamento aos próprios pais, pequenos proprietários rurais, que se opunham ao seu casamento com João Pedro Teixeira, trabalhador sem terra e negro.
E foi ao lado do marido que as batalhas ganharam escala. João Pedro foi fundador da primeira Liga Camponesa na Paraíba, movimento criado nos anos 1950, em vários países da América Latina, para defender os direitos dos trabalhadores do campo e reivindicar a reforma agrária. João Pedro foi assassinado em 1962 e Elizabeth, que acompanhava o marido em seu ativismo na cidade de Sapé, tomou a liderança do grupo local para si, continuando e ampliando a luta iniciada uma década antes.
Por suas atividades, teve a casa incendiada e foi presa diversas vezes entre 1962 e 1964. Em uma dessas vezes, a mais velha de seus 11 filhos, acreditando que a mãe havia morrido, como aconteceu com o pai, suicidou-se. Nem mesmo essa tragédia tirou de Elizabeth a vontade de lutar por aquilo que considerava justo.
- Elizabeth Teixeira completou 100 anos em fevereiro foto: Carla Batista
Com o início da ditadura militar, ela teve de viver na clandestinidade, separada dos filhos que foram acolhidos por pessoas da família. Elizabeth refugiou-se em São Rafael, no Rio Grande do Norte, e adotou um novo nome – Marta Maria da Costa. Ali viveu com o filho Carlos por 17 anos até ser reencontrada, em 1981, pelo cineasta Eduardo Coutinho que retomara as filmagens de Cabra Marcado para Morrer, filme que começou a gravar em 1964 para contar a história da vida e morte de João Pedro. As filmagens haviam sido interrompidas em razão do golpe militar e da perseguição imposta pela ditadura.
Na retomada, o filme virou documentário, Elizabeth ganhou centralidade e a história transformou-se em um retrato da resistência no campo e da luta pela reforma agrária e pela justiça social. “Ela é uma referência, tanto na universidade quanto nessa articulação com os movimentos sociais no campo”, conta a docente de História da UNILA Ana Rita Uhle, que por 10 anos atuou no campus de Cajazeiras, da Universidade Federal de Campina Grande.
E o cinema, diz ela, é um dos responsáveis por manter a presença da ativista na memória e na cultura do povo paraibano. “O cinema é muito forte no sertão da Paraíba. E Cabra Marcado para Morrer tem uma presença importante na região. Além disso, tem o fato de ter sido interrompido na ditadura, de tratar de gente muito próxima”, comenta, destacando que a protagonista também é referência para os mais jovens. “A juventude sertaneja vê na Elizabeth esse lugar de resistência e que tem muito a ver com o papel do cinema paraibano e nordestino na formação deles.”
Ana Rita conta que se impressionou com o fato de Elizabeth estar ligada à cultura de forma muito intensa. Imagens dela são vistas em fotos, desenhos, grafites, em camisetas pelas ruas das cidades paraibanas. “A imagem dela circula muito.” Sobre as Ligas Camponesas, a docente lembra que além da luta pelos direitos dos trabalhadores, o movimento tinha como objetivo o fim da violência no campo. “É um movimento importante, substancial do Brasil, de luta por melhores condições de vida, de vida digna e que passa também pela luta pela terra, pelo fim da violência no campo”, diz.
Nesse ambiente hostil e de trabalho pesado, ganha impacto a condição feminina. “Foi uma mulher na liderança camponesa, o que é mais incrível. Acho fascinante ela estar nesse lugar. Um lugar onde ela corria muitos riscos, a frente de um movimento organizado, de luta pelo campo no sertão da Paraíba, nos anos 60. Realmente bem impressionante.”
Hoje, Elizabeth Teixeira reside em João Pessoa e guarda a memória da luta pela reforma agrária. Para comemorar seu aniversário de 100 anos, a comunidade de Barra de Antas, zona rural de Sapé, abriu a exposição "100 faces de Elizabeth Teixeira", na casa onde ela viveu e que hoje é o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas. Ela esteve presente e cercada por uma multidão. O local também é responsável por um acervo digital com documentos, imagens e registros relacionados ao assunto. “Um lugar de memória que ela, uma mulher latino-americana, brasileira, mãe, que chegou a cem anos, também ocupa. Um lugar de memória da resistência no campo”, enfatiza Ana Rita.
“Durante quase dez anos, atuei como professora de História na Universidade Federal de Campina Grande, no campus de Cajazeiras, localizado no alto Sertão da Paraíba. Em Cajazeiras, além de aprender sobre História, ao dialogar com colegas e estudantes, tive outros aprendizados fundamentais. Conheci o semiárido de forma mais íntima, reconheci a riqueza da caatinga, vivi a cultura vibrante do sertão, sua pujança criativa, bem como a história de luta e resistência diante de um projeto político sistemático de exploração.
Foi no alto Sertão da Paraíba que conheci a história de Elizabeth Teixeira e a memória da luta das mulheres no campo. Sua presença é tão marcante que inspira a luta pela reforma agrária e pela dignidade dos trabalhadores rurais, sendo lembrada por meio de sua voz e de uma pulsante produção cultural que se manifesta na música, no teatro, na literatura, nas artes visuais e em diversas outras linguagens.”
Ana Rita Uhle, docente de História e coordenadora do Museu Digital da UNILA
Saiba mais:
Memorial das Ligas e Lutas Camponesas
A antropóloga Lélia González é referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil, na América Latina e no mundo. Mineira de Belo Horizonte, Lélia nasceu em 1935, mas mudou-se para o Rio de Janeiro com a família em 1942. Mais tarde, ingressou na Universidade Estadual da Guanabara, atual UERJ, onde formou-se em História e Geografia. Anos depois, graduou-se também em Filosofia e fez mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia Política e Social.
Até falecer, em 1994, Lélia González dedicou-se ao debate sobre raça e gênero, sendo considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. Ela desenvolveu conceitos como “Améfrica” e "amefricanidade", que englobam a influência africana para a formação da identidade cultural da América Latina e o questionamento a respeito da hegemonia eurocêntrica na construção do pensamento social.
Seu primeiro livro - “Lugar de negro” - foi publicado na década de 1980, fazendo um panorama histórico do modelo econômico de 1964, com a inserção da população negra neste cenário e o resgate histórico dos movimentos sociais negros. Em "Festas Populares", de 1987, Lélia registrou a diversidade das manifestações culturais brasileiras.
“Falar sobre Lélia González é trazer um vasto legado que ela nos oferece e que ainda não teve seu merecido reconhecimento. A academia possui uma dívida com essa importante intelectual. Mesmo sendo uma autora da mais alta importância, sua entrada nos currículos acadêmicos é recente e vem pelas mãos de acadêmicas negras e acadêmicos negros. A prática acadêmica de Lélia sempre esteve associada a uma prática militante de combate a todas as formas de discriminação, principalmente racial e de gênero. Sua trajetória de vida, seu pertencimento étnico-racial como mulher negra, marcam profundamente sua obra. E esse é um dos aspectos que nos marcam nas escolhas teóricas que realizamos, enquanto mulheres negras, ao trabalharmos com conceitos como amefricanidade, entre muitos outros que ela nos oferece. Aqui temos uma perspectiva de pensar nossos pertencimentos étnico-raciais, enquanto populações negras e indígenas, a partir de nossas perspectivas ancestrais, o que faz esse conceito tão importante dentro e fora da academia. Nos vemos nessa perspectiva teórico-metodológica que nos possibilita um olhar mais apurado sobre o que definimos historicamente como América Latina e Caribe, e que Lélia González nos oferece um outro direcionamento epistemológico para pensarmos essa grande região marcada por muitas lutas contra a lógica colonial escravocrata e patriarcal. Por isso, e muito mais, Lélia González é tão importante e representa tanto para nossas atividades acadêmicas.”
Angela Souza, docente e diretora do Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História (ILAACH)
Para saber mais:
Amefricanidade: a categoria político-cultural de Lélia Gonzalez como arranjo
Autoria: Gabriela Maria Chabatura
Bruno de Menezes batuca amefricanidade e afrorrealismo: marginalização literária e literatura da améfrica
Autoria: Állan Sereja dos Santos
Socióloga, escritora e educadora reconhecida por seu compromisso com a educação popular, o feminismo, a defesa dos direitos humanos e a justiça ambiental, Moema Viezzer é considerada uma pessoa chave em movimentos sociais da América Latina.
As lutas feministas da ativista ganharam impulso a partir de 1975 e com a publicação do livro “Se me deixam falar”, que traz o testemunho de Domitila Barrios de Chungara, que ela conheceu na Conferência Mundial sobre a Mulher. Na obra, Domitila denuncia a condição dos trabalhadores das minas e da comunidade ao seu redor. O livro, considerado um clássico da literatura testemunhal latino-americana, teve mais de 70 edições no Brasil e foi traduzido para 14 idiomas.
Definida como ecofeminista, Moema Viezzer segue ativa, aos 83 anos, como consultora em educação para o desenvolvimento, promovendo a convergência das lutas sociais por um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.
Moema nomeia o Observatório Educadora Ambiental Moema Viezzer, da UNILA, e doou para a Universidade, em 2017, parte do seu acervo pessoal de pesquisas e materiais de apoio em temas como meio ambiente, educação popular e ambiental.
“Tem várias mulheres que eu admiro, mas quero falar da Moema Viezzer porque ela desenvolveu tantos projetos, tanta coisa incrível, desenvolveu tanto material para a comunidade, sempre voltada para a educação popular, feminista e ambiental. Seu acervo doado para a UNILA tem um potencial imenso de produção para novos projetos. Então, para mim, a Moema é uma descoberta. E eu fiquei até horrorizada de pensar 'como eu não sabia que ela existia?' porque as mulheres têm essa questão da invisibilidade do trabalho. O que a gente faz sempre parece pouco, sempre parece mínimo, é uma insistência da nossa sociedade invisibilizar o trabalho das mulheres e, às vezes, exaltar o trabalho masculino. A gente tem que mostrar que o trabalho da mulher é importante também, que a gente também faz parte da construção da sociedade e que a gente precisa ser ouvida e ter o nosso valor reconhecido. A Moema é incrível, e da minha parte, eu faço o que puder para valorizá-la.”
Suzana Mingorance, bibliotecária-documentalista da UNILA
Para saber mais:
História e Ecofeminismos: a Trajetória de Moema Viezzer na América Latina
Autoria: Yarú Mills Siqueira
Na BIUNILA (impressos):
Viezzer, Moema, Texto de apoio a programas e projetos empresariais socioambientais: 2006
Viezzer, Moema, Círculos de aprendizagem para a sustentabilidade Caminhada do Coletivo Educador da Bacia do Paraná III e Entorno do Parque Nacional do Iguaçu: 2005-2007
Intelectual, gestora cultural e símbolo de resistência, Haydée Santamaría Cuadrado foi uma das figuras mais emblemáticas da Revolução Cubana, reconhecida por sua coragem, compromisso político e pelo trabalho na promoção da cultura.
Nascida em 1922, em uma família camponesa, Haydée, desde jovem, envolveu-se em atividades revolucionárias e, em 1953, juntou-se a Fidel e Raúl Castro no ataque ao Quartel Moncada, uma tentativa de derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista. Continuou sua luta, participando do Movimento 26 de Julho e apoiando a guerrilha em Sierra Maestra até o triunfo da Revolução, em 1959.
Seu legado vai além de sua participação na luta armada, destacando-se como intelectual e divulgadora do pensamento revolucionário na América Latina. Sua maior contribuição foi na esfera cultural e social. Em 1959, fundou - e presidiu, por duas décadas - a Casa de las Américas, uma instituição cultural fundamental na disseminação do pensamento progressista e da literatura latino-americana.
Haydée faleceu em 1980, mas continua sendo um símbolo de luta, resistência e compromisso com a Revolução e a cultura na América Latina.
“Conheci a trajetória de Haydée Santamaría quando estive em Cuba, em um espaço fundado e gestionado por ela, a Casa de Las Américas. Descobrir a existência de Haydée em meio aquele emblemático e histórico equipamento cultural foi um marco na minha vida. Em meio às sanções e bloqueios pós-revolução, a Casa de Las Américas foi um um importante instrumento de integração de Cuba com os demais países latino-americanos e Haydée era sua gestora cultural, fazendo circular por ali nomes como Gabriel Garcia Márquez, Mercedes Sosa, entre outros grandes da música e da literatura. Compreendi a partir do seu legado a relação entre a política, a resistência e a cultura.”
Michele Dacas, secretária de Comunicação da UNILA
Para saber mais:
Do Socialismo à incerteza: a Revolução Cubana no século XXI
Autoria: Guilherme Sávio Marchi
A destacada trajetória na música barroca, na pesquisa acadêmica e no ensino, assim como o trabalho na preservação e divulgação do patrimônio musical mexicano consolidaram Lucero Enríquez Rubio como uma das principais referências em sua área em nível internacional.
Lucero Enríquez é coordenadora do Seminario de Música en la Nueva España y el México Independiente (Musicat), ligado à Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), que tem o objetivo de resgatar e preservar o patrimônio cultural musical daquele país. O Musicat reúne especialistas em musicologia, sociologia, história, história da arte e cultura, antropologia cultural, arquivística, biblioteconomia e restauração que se dedicam ao estudo do fenômeno sonoro nas catedrais e da sociedade da Nova Espanha e México no período de 1525-1858. Especialistas de várias partes do mundo, incluindo Foz do Iguaçu, participam dessa rede.
É cravista solo com especialização em música barroca, atua em recitais e concertos com orquestras do México e dos países baixos, compõem trilhas sonoras para o cinema e o teatro entre outras atuações de destaque.
“Minha referência é a diretora do projeto Musicat, no México, Lucero Enríquez Rubio. Eu não conhecia nada de México e ela foi a minha porta de entrada para a cultura mexicana. Ela é um exemplo, com seus mais de 80 anos, e muita dedicação. No México, dentro da Universidad Nacional Autónoma de México, ela é professora tanto da escola de música, quanto pesquisadora do Instituto de Investigaciones Estéticas. É importante a gente referenciar mulheres que têm esses papéis fundamentais e, para mim, Lucero Enríquez é a minha escola de atuação acadêmica, essa que busca envolver a comunidade, de atuar em várias frentes. É um exemplo, referência como musicista, como investigadora, como mulher, como mãe também, como agente social, ela é sempre muito ativa em todas as intervenções e ativista política, sempre com voz presente.”
Analía Chernavsky, docente do curso de Música
Para saber mais:
Seminario de Música en la Nueva España y el México Independiente
Guerline Jozef é uma ativista reconhecida por seu trabalho na defesa dos direitos dos imigrantes, especialmente aqueles de ascendência africana e caribenha na fronteira entre os Estados Unidas.
De ascendência haitiana e estadunidense, ela é cofundadora e diretora executiva da Haitian Bridge Alliance, uma organização sem fins lucrativos que proporciona assistência legal, apoio humanitário e visibilidade à comunidade haitiana e africana e a outros imigrantes em situação de vulnerabilidade. Em outra frente, atua para buscar ajuda para o pagamento da fiança de detidos em centros de imigração.
Seu trabalho em defesa dos direitos humanos teve início em 2015, quando contava 20 anos, depois de conhecer a situação de um grupo de haitianos que buscava asilo na fronteira mexicana com os Estados Unidos. Desde então, vem liderando múltiplas iniciativas nessa temática.
Ela tem sido uma voz ativa na denúncia de maus tratos em centros de detenção de imigrantes, da crise humanitária na fronteira e da discriminação de negros solicitantes de asilo. Sua luta tem rendido prêmios como o Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (2021).
“Guerline Jozef é uma mulher incrível que tem sido uma voz poderosa na defesa dos direitos dos migrantes, especialmente dos haitianos e afrodescendentes. Como haitiana-americana e fundadora da Haitian Bridge Alliance, ela tem lutado incansavelmente contra políticas migratórias discriminatórias e trabalhado para garantir justiça e dignidade para aqueles que, muitas vezes, são esquecidos ou marginalizados. Como pesquisadora de migração e direitos humanos, ativista pelos direitos de migrantes e refugiados, o que mais me inspira em Guerline é sua visão sobre a migração. Ela não a vê apenas como uma questão de segurança, mas como uma questão profundamente humanitária e de direitos humanos. Ela entende que migrantes não devem ser tratados apenas como números ou força de trabalho, mas sim como pessoas, com histórias, sonhos e potencial para contribuir ativamente para a sociedade. Seu trabalho reforça a necessidade de políticas mais inclusivas e, acima de tudo, mostra que migrantes não são apenas vítimas das circunstâncias, mas também agentes de mudança. Essa luta é algo que carrego comigo e que me motiva todos os dias a continuar buscando um mundo mais justo, onde ninguém seja definido apenas por sua condição migratória, mas sim pelo que tem a oferecer.”
Djenika Senatus, estudante haitiana da UNILA, mestranda IELA
Saiba mais sobre direitos e imigração:
A mídia digital na construção da representação social dos refugiados no Brasil
Autoria: Juliana Elis dos Santos Hoffmann e Marli Von Borstel Roesler
O conceito de participação política na sua relação com as demandas das comunidades de origem imigrante
Autoria: Tiago Oliveira Custódio
Políticas públicas de acolhimento linguístico: uma análise dos documentos oficiais
Autoria: Tainara Maria de Lima Moura
O Trabalhador Fronteiriço e o Regime Jurídico de Trabalho na Fronteira
Autoria: Fernando José Martins e Manoela Marli Jaqueira
O Subsistema Penal de Exceção: a Criminalização do Migrante e o Tráfico de Pessoas
Autoria: Thaísa Gimenes,
Pioneira do feminismo e da medicina no Uruguai, Paulina Luisi foi uma médica, educadora e ativista, reconhecida por sua luta pelos direitos das mulheres na América Latina. Nascida na Argentina, em 1875, foi a primeira mulher a se formar na Faculdade de Medicina do Uruguai (1909), enfrentando e superando os preconceitos de uma sociedade predominantemente masculina.
Paulina Luisi se destacou pela defesa da educação sexual, do voto feminino e da igualdade de gênero. Entre suas principais contribuições está a fundação do Conselho Nacional de Mulheres do Uruguai, em 1916, encarregado de promover políticas em favor dos direitos das mulheres; e a criação, em 1919, da Aliança de Mulheres Uruguaias, para a luta pelo voto feminino que foi institucionalizado em 1932. Também foi diretora da revista "Ação Feminina", onde promoveu a igualdade de gênero e lutou contra o tráfico de pessoas e a prostituição regulamentada; e representante do Uruguai em conferências internacionais sobre direitos das mulheres. Morreu em 1950 e seu legado ainda está presente em instituições, ruas e espaços que levam seu nome no Uruguai.
“Como fronteiriça, doble chapa, filha de mãe brasileira e pai uruguaio, neta de uma brasileira divorciada de um uruguaio na década de 1950, escolho Paulina Luisi como influência feminista do país pioneiro na América Latina na concessão do direito de voto às mulheres e legalização do aborto, o Uruguai. Foi a primeira mulher a estudar Medicina e, como profissional da saúde, defendia, já naquela época, a inclusão de educação sexual nas escolas, enfrentando e superando preconceitos de uma sociedade misógina.”
Luiza Araujo Damboriarena, docente do curso de Administração Pública e Políticas Públicas
Para saber mais sobre feminismo e mulheres no Uruguai:
La violencia patriarcal nuestra de todos los días: el acoso sexual callejero en Uruguay
Autoria: Agustina Fonseca Estévez
El aborto en Uruguay: de la norma a la realidad
Autoria: Daián Luciana Franchi Barrero
Representación femenina e ideología: impacto de ley de cuotas en las cámaras legislativas de Brasil y Uruguay
Autoria: Mariana Rodríguez Espinosa
Sara Gómez Yera foi a primeira mulher cubana a dirigir um longa-metragem de ficção – De cierta manera (1974) – e uma das primeiras cineastas afrodescendentes da América. Foi também roteirista, musicista e jornalista. Seu trabalho abordou questões de gênero, raça e desigualdade social na Cuba pós-revolucionária.
Nascida em 1942, em Guanabacoa, um território com forte herança afro-cubana, Sara Gómez desde cedo demonstrou interesse pela arte e pela cultura. Seu contato com o cinema se deu em 1961, quando tinha 19 anos e ingressou no Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, tornando-se a única mulher negra na equipe de cineastas. Em pouco mais de uma década, dirigiu 19 documentários de curta e média-metragem, abordando temas como a identidade e herança afro-cubana e a condição da mulher cubana e seu papel na Revolução.
O longa De cierta manera combina elementos de ficção e documentário, examina as tensões de classe e raça na Havana dos anos 1970, com foco nas relações de gênero e no impacto da Revolução nas favelas. Ela morreu em 1974, antes de concluir a pós-produção do filme. Sua obra continua sendo objeto de estudo e é referência na cinematografia mundial.
“Como docente de Cinema e Audiovisual da Unila que tem como foco pensar a história, a produção e a memória do cinema latino-americano, não poderia deixar de mencionar a importância da diretora cubana Sara Gomez, mais conhecida como Sarita. A cineasta, recentemente mencionada em estudos no Brasil e na América Latina, é reconhecida como a primeira mulher a dirigir um longa de ficção naquele país, o filme De Cierta manera (1974). Sara, uma mulher negra e revolucionária, teve uma importante contribuição para a produção de imagens e para refletir sobre a produção cinematográfica na ilha pós-revolução e deve ser uma referência a ser trabalhada em nossas pesquisas e em sala de aula.”
Francieli rebelatto, docente do curso de Cinema e Audiovisual
Para saber mais sobre cinema e Cuba:
Políticas da sátira no cinema latino-americano contemporâneo: "Juan de los Muertos" (2011) e "La Dictadura Perfecta" (2014)
Autoria: Daniel Tavares de Oliveira
Le ”Nouveau cinéma latino-américain” : un projet de développement cinématographique sous-continental
Autoria: Ignacio Del Valle Dávila
Aj! Zombies (2018) y Juan de Los Muertos (2011): la Comedia Zombi como Crítica a sus Respectivas Sociedades
Autoria: Yoscar Alejandrito Cruz Cruz Huaman