
Pesquisadores da Unila desenvolvem novo tratamento contra a leishmaniose
Pesquisadores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, desenvolveram um novo tratamento para a leishmaniose.
A doença é transmitida pelo mosquito-palha para animais de estimação, principalmente cães, e para o homem. Há duas versões: a cutânea – que ataca a pele - e a visceral – que atinge vários órgãos e pode levar à morte.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária, atualmente existe apenas um remédio de uso veterinário contra a leishmaniose registrado no país. O medicamento foi liberado pelo Ministério da Agricultura em 2016.
Segundo os especialistas, os resultados aparecem mais rápida e eficazmente do que os alcançados com o tratamento disponível e os efeitos colaterais são menores - apenas uma reação no local da aplicação -, o que consideram a principal vantagem.
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Depois da terceira aplicação do medimento, a cadela Vitória estava praticamente curada das lesões causadas na pele pela leishmaniose — Foto: Divulgação
Além de não causar danos ao fígado e aos rins dos animais, o medicamento não causa resistência, prolongando os efeitos sem que as doses precisem ser aumentadas.
"Neste tratamento imunoterapêutico, a própria proteína da leishmaniose é inoculada no animal, estimulando o sistema de defesa dele, que passa a produzir anticorpos específicos”, explicou o pesquisador Ricardo Clasta.
Alguns dos testes foram feitos com a cachorra Vitória, que chegou com várias feridas na pele e praticamente sem pelos. Fotos feitas durante o tratamento mostram que um mês depois as feridas sumiram e os pelos voltaram a nascer.
O mesmo aconteceu com outros 13 animais diagnosticados com leishmaniose e selecionados para a pesquisa.
"As lesões, principalmente na região dos olhos, na ponta das orelhas e no corpo do animal, melhoram drasticamente a partir da terceira dose da vacina", comentou o especialista.
Alerta
A leishmaniose é considerada uma doença grave e endêmica.
De 2015 até o fim de junho, o Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu (CCZ) fez quase 10 mil exames em animais com suspeitas da doença. Em 3.947 deles tiveram o resultado positivo. Ou seja, quatro em cada dez estavam contaminados com o protozoário da leishmaniose.
Em cães, os sintomas mais comuns são perda de peso, queda anormal de pelos, descamações e feridas na pele, sangramento do nariz e inchaço nas patas.
Um dos métodos preventivos é o uso de coleiras repelentes e manter os animais dentro de casa à noite, período de maior atividade do mosquito transmissor da doença.
Uso em humanos
As pesquisas direcionadas ao tratamento da doença nos animais, iniciadas em 2016, mostraram que há potencial também para o uso em humanos.
“Aquelas pessoas quem têm complicações com o tratamento disponível na rede pública, e que acaba causando problemas no coração e nos rins, poderiam ser submetidas ao novo tratamento, que não causa estes efeitos colaterais”, apontou o coordenador da pesquisa, o biólogo Kelvinson Fernandes Viana.
Em Foz do Iguaçu, a Vigilância Epidemiológica registrou de 2015 até agora, 51 casos da leishmaniose cutânea em humanos. Do tipo mais grave, a visceral, foram 21 casos no mesmo período. Seis pessoas morreram.
“Quando a doença se apresenta em humanos, costuma ser silenciosa. E, quando os sintomas clínicos aparecem, as pessoas já estão com problemas em órgãos como o fígado e o baço”, completou Viana.
Os pesquisadores acreditam que o medicamento pode estar disponível em cinco anos, inicialmente apenas para o tratamento de animais. A liberação depende de outros testes e da aprovação de órgãos de controle.
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