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Alunas elaboram estudo para implantação de Armazém da Família em Foz do Iguaçu

Proposta, que já foi apresentada na Câmara de Vereadores, pode ajudar a mitigar o problema da insegurança alimentar no município
publicado: 25/05/2022 12h06, última modificação: 25/05/2022 12h12

Gráfico mostra evolução do número de famílias cadastradas para receber benefícios sociais em Foz do IguaçuEm fevereiro de 2020, aproximadamente 6 mil pessoas viviam em situação de extrema pobreza em Foz do Iguaçu. Um ano depois, com a pandemia de Covid-19, esse número já havia saltado para 10 mil, de acordo com dados do Banco de Alimentos do município. Analisar e propor políticas públicas para mitigar o problema da insegurança alimentar e nutricional no contexto de pandemia foi o objetivo de um trabalho realizado pelas alunas Kauana Acosta Cassel e Natasja Alvarenga Savério, do curso de Administração Pública e Políticas Públicas da UNILA. As discentes propuseram a implantação do programa Armazém da Família em Foz do Iguaçu e tiveram a iniciativa de levar o estudo para a Câmara de Vereadores. A ideia foi apresentada em uma Audiência Pública que discutiu alternativas para o problema da fome no município e foi o pontapé inicial para a implementação de políticas públicas concretas que poderão ser implantadas no município.

O Armazém da Família é uma empresa social que tem o objetivo de fornecer alimentos de boa qualidade a preços abaixo do valor de mercado para famílias de baixa renda. Em Curitiba, o programa funciona desde 1988 e atende quase 400 mil famílias, em 34 unidades localizadas em pontos estratégicos da capital paranaense e em 13 unidades na região metropolitana. “Por se tratar de uma empresa social, o Armazém da Família não visa lucro, logo, consegue manter os preços abaixo do mercado e, então, acaba estruturando de forma indireta um mecanismo de regulação de preços de mercado no entorno”, explicou a estudante Kauana Cassel. Nas unidades em Curitiba, é feita a comercialização de aproximadamente 345 produtos alimentícios, de higiene e de limpeza a preços, em média, 30% mais baixos que no mercado formal.

Em Curitiba, o programa funciona desde 1988 e atende quase 400 mil famílias (Foto: Prefeitura de Curitiba)Além de ofertar alimentos a custos acessíveis, as discentes acreditam que o projeto será capaz de aquecer a economia local, “ao demandar de uma estrutura de funcionários, trazer renda a pequenos produtores e indústrias regionais, aumentar o poder de consumo e a liberdade de escolha do cidadão e ser uma medida de regulação de preços”, salientou Natasja Savério. Na análise das estudantes, o programa também visa objetivos transversais, como a promoção da educação alimentar e a melhoria da saúde da população. “Além, é claro, de promover a cidadania e a dignidade humana, por meio do acesso a uma alimentação digna e saudável”, disse a discente.

As alunas destacam que a pandemia de Covid-19 colocou em foco as desigualdades sociais, um dos maiores
problemas do Brasil. Em Foz do Iguaçu, cidade que depende muito do turismo, o alto nível de desemprego e de informalidade refletiu na perda da fonte de renda de muitas famílias. “A temática foi escolhida quando estávamos no auge da pandemia e ouvíamos muitos relatos de gente passando fome. Ademais, a inflação, que já estava subindo desde 2015, subiu mais ainda em 2018 e gerou um agravamento no custo de vida que não condiz com quanto o trabalhador ganha”, alerta Natasja.

De acordo com as discentes, o papel do Estado é crucial para mitigar os efeitos da pandemia com medidas de curto, médio e longo prazo. “Dessa maneira, é necessário pensar, discutir e formular políticas públicas que tenham como base a economia, a proteção social e as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), na perspectiva da garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA)”, declarou Kauana.

Resultados

Natasja Savério apresentou a análise sobre o Armazém da Família em audiência pública na Câmara de VereadoresApós a Audiência Pública, indicada pelo vereador Adnan El Sayed, será formada uma comissão especial para tratar de Segurança Alimentar e Nutricional. As estudantes Kauana e Natasja foram convidadas para integrar a comissão, que terá o objetivo de discutir o tema de forma mais profunda na Câmara. Ademais, de forma complementar ao Projeto de Lei nº 064/2021, de autoria do mesmo vereador, foi proposta a Educação Nutricional nas disciplinas das escolas municipais, com o viés de saúde e melhoria dos hábitos.

Quanto à implementação do Armazém da Família, a Câmara aprovou em fevereiro o Projeto de Lei da vereadora Protetora Carol Dedonatti, que instituiu o programa em Foz do Iguaçu. O projeto aguarda tramitação no Executivo. “Já tivemos uma reunião com a vereadora e nos disponibilizamos para fazermos parte do grupo de trabalho, uma vez que o nosso trabalho pode corroborar com o projeto de lei aprovado”, relatou Natasja.

Curso pode trazer mais impactos sociais

O estudo apresentado pelas discentes na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu foi o trabalho final da disciplina Ateliê de Gestão Organizacional e de Políticas Públicas, que tem o objetivo de aproximar os estudantes da realidade que eles irão encontrar como administradores ou gestores de políticas públicas. Para o professor Wellington Nunes, que ministra a disciplina com a professora Virgínia Aparecida Castro, a apresentação do trabalho em um espaço público é uma maneira de democratizar o conhecimento produzido pela Universidade sobre a comunidade na qual a instituição está inserida. “Nem todo conhecimento científico tem aplicação óbvia e imediata na sociedade, atendendo a objetivos menos tangíveis – como, por exemplo, aumentar o estoque de informações que nós temos do mundo à nossa volta. Por outro lado, o curso de Administração Pública e de Políticas Públicas tem condições de, além de contribuir com o avanço da pesquisa científica da área, produzir impactos sociais mais concretos, propondo alternativas para melhorar as condições de vida das pessoas”, disse.

Outro trabalho que foi destaque na disciplina foi o dos estudantes Francisco Bacuñan e Víctor Ramírez Flores, que analisaram a preparação da documentação de alunos estrangeiros para ingresso na UNILA. “Como 50% dos nossos alunos são estrangeiros, e isso é uma das missões da Universidade, o grupo pensou em soluções para melhorar a comunicação e sanar as dúvidas de documentação que o aluno estrangeiro tem ao ingressar na UNILA”, contou a docente Virgínia Aparecida Castro. O trabalho será apresentado para a Pró-Reitoria de Relações Institucionais e Internacionais da UNILA, na intenção de que essas soluções possam ser implantadas. “Nesse caso, diferente do trabalho anterior que foi voltado para um problema público da cidade de Foz do Iguaçu, temos um problema de gestão interno na nossa Universidade. Assim, vemos a importância das disciplinas de Ateliê tanto para a reflexão de problemas públicos quanto para a gestão em diferentes âmbitos”, complementou.