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Crise econômica e a pandemia são dois dos principais desafios do governo de Luis Arce, na Bolívia, avalia pesquisador da UNILA

A vitória de Arce na eleição presidencial marca o retorno do partido Movimento ao Socialismo (MAS) ao poder
publicado: 23/10/2020 16h12, última modificação: 23/10/2020 16h49

A vitória de Luis Arce na eleição presidencial da Bolívia, ocorrida no último dia 18, marca o retorno do partido Movimento ao Socialismo (MAS) ao poder, após a crise política de 2019 – com acusações de fraude nas eleições –, que resultou na renúncia do ex-presidente Evo Morales, líder histórico do MAS. Arce foi ministro da Economia do governo Evo e chega ao poder, segundo analisa o docente da UNILA Lucas Mesquita, diante de dois desafios centrais: governar em meio a uma pandemia e enfrentar a crise econômica que assola o país. Mesquita, professor do curso de Relações Internacionais, esteve na capital boliviana, La Paz, acompanhando o pleito como membro do corpo técnico da missão de Observação Eleitoral do Parlasul, que estabeleceu convênio com a UNILA por meio do Observatório da Democracia do Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA).

Com 70% da votação apurada, já foi possível declarar a vitória de Arce no primeiro turno – com reconhecimento inclusive do segundo colocado, Carlos Mesa; da presidenta interina, Jeanine Áñez; e de Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), instituição que protagonizou acusações de irregularidades na eleição de 2019. O pleito de outubro de 2020, diferente do ocorrido ano passado, segundo conta Mesquita, aconteceu de forma pacífica. “Houve certo clima de desconfiança no início por conta do sistema de divulgação preliminar de votos. Mas, com a retirada desse sistema, as pressões baixaram. O sistema está funcionando bem e até o momento não há indícios de fraudes. Pelo contrário, todas as missões de observações confirmaram a lisura do processo”, relata.

Ele destaca, também, um alto índice de participação social no pleito. Mesmo em meio a uma crise sanitária mundial, por conta do novo coronavírus, 87% dos 7 milhões de eleitores marcaram presença nas eleições, com vitória comemorada por setores da esquerda do país e da América Latina. “Esse retorno do MAS é o próprio reflexo do processo de cisão democrática, de crise política exacerbada com o golpe de 2019, e isso acaba gerando uma mobilização muito grande dos movimentos e do partido”, afirma Mesquita. O docente avalia que o discurso de Arce já aponta para uma tentativa de desvincular sua imagem à do padrinho político Evo Morales –  primeiro presidente de origem indígena na Bolívia, que tentou seguir no poder pelo quarto mandato consecutivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Arce tem discurso mais pragmático e de uma esquerda, centro-esquerda, menos radical que Evo Morales. Seu perfil é mais conciliador e agregador. Ele está se descolando de Evo, já fez discursos e falas em relação a essa mudança. Ele tende a duas coisas, no meu entender: a uma postura mais de negociação com o centro, ao mesmo tempo em que traz elementos do partido MAS. O próprio vice dele [David Choquehuanca] vem de uma tradição indígena e é um dos representantes dessa corrente da população”, explica o docente, que também enxerga, nesse novo governo, uma tendência de adotar políticas com postura de conciliação, tanto com setores populares como também com a classe média.

Um problema central que Arce terá que enfrentar, segundo Mesquita, é em plena pandemia enfrentar uma crise econômica no país, que ainda depende da venda de gás para movimentar a economia. O docente também aponta que, embora incipiente, a ideia de um retorno do projeto da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) já circula entre os membros do partido MAS. “Esse é um projeto que precisa ter um realinhamento e uma aliança regional forte. No âmbito do Mercosul, creio que o governo Arce vá seguir adotando a tendência de uma postura muito pragmática, inclusive em relação ao Brasil”, avalia.

Ele ressalta que Evo Morales já tinha uma atuação nessa linha e lembra dois fatos que simbolizam essa postura: a presença do ex-presidente boliviano na posse do governo Bolsonaro e a extradição do italiano Cesare Battisti, preso na Bolívia. “Creio que Arce não vá radicalizar nessa interação [na política externa]. Muito pelo contrário, acho que ele deve torná-la mais pragmática possível. Ele já contou com o reconhecimento dos Estados Unidos, de lideranças da região. Então acho que ele deve caminhar por esse pragmatismo”, opina. Ainda segundo Mesquita, é prematuro afirmar sobre o retorno de um domínio alinhado mais à esquerda na América do Sul, mesmo com a vitória de Luis Arce, na Bolívia, e de Alberto Fernández, na Argentina. “Ainda é muito cedo falar em uma nova 'onda rosa', de um novo processo das esquerdas latino-americanas, porque ainda tem muita coisa indefinida. Se pensarmos em uma contra onda conservadora, temos outros países que não têm espaço pra mudanças mais bruscas”, diz.

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